Foto: Agência Brasil
23 de julho de 2020 | 06:37

Comércio digital ganha 5,7 milhões de consumidores e varejo diz que eles vieram para ficar

economia

As lojas começaram a reabrir após as medidas de distanciamento social, e os clientes retornam às compras lentamente. A percepção entre executivos do setor de comércio é que novos consumidores de diferentes faixas etárias e de renda aderiram à facilidade de comprar pela internet —e as vendas digitais devem se firmar em patamares superiores aos do pré-Covid.

O varejo chegou a registrar uma perda de 36% no faturamento durante a pandemia, e a queda só não foi mais profunda devido ao desempenho do ecommerce, avaliam especialistas do segmento. Dados divulgados nesta quarta-feira (22) pela Neotrust/Compre&Confie, empresa de inteligência de mercado, dimensionam o movimento do consumidor.

Entre abril e junho, meses de pico do distanciamento, 5,7 milhões de clientes fizeram a primeira compra pela internet. Segundo a empresa, trata-se de uma aceleração em relação aos novos consumidores do segundo trimestre de 2019, período comparável. Naquele momento, 4,3 milhões aderiram ao comércio digital.

Essa parcela do consumo no Brasil ainda tem muito para crescer e nem todos são fiéis. Quem compra uma vez nem sempre volta a gastar na internet. No balanço encerrado em 2019, as vendas online atraíram 31,4 milhões de clientes únicos.

Apesar de o comércio presencial estar reagindo, a projeção em redes como Magazine Luiza, Via Varejo, Carrefour e mesmo Renner, do setor de vestuário, fortemente afetado pela retração, é que esses novos consumidores vão colocar o ecommerce em um nível maior do que o já registrado.

Especialistas estimam que o segmento cresceu cerca de 45% ao mês durante a pandemia. De acordo com a Cielo, cujo índice de varejo monitora transações de cartões de débito e crédito, em março, as vendas digitais subiram 0,4% na comparação a fevereiro —último mês sem medidas de restrição social.

Comparando o desempenho em meados de julho com o mesmo fevereiro, o ecommerce registrou avanço de 41,5%.

Os dados gerais ainda são desalentadores. A Cielo mostra queda de 15% na receita do varejo na pandemia, mas como a retração já foi mais que o dobro, o fôlego rumo a recuperação, com redução das perdas, é considerado positivo.

É preciso considerar que o comércio não tem desempenho linear. Enquanto supermercados e o setor de materiais de construção registram receita até superior na comparação com o ano passado, os segmentos de restaurantes e de vestuário têm uma longa curva de recuperação pela frente.

Nessa retomada, analistas veem como crucial a manutenção de investimento no comércio digital, mesmo que sua fatia no consumo total ainda tenha baixa representação (menos de 5% antes da pandemia).

“A abertura das lojas vai gerar uma migração contrária, mas os frutos desse empurrão rumo aos canais digitais que o consumidor viveu nos últimos meses vão se manter”, diz Eduardo Yamashita, chefe de operações da consultoria Gouvêa Ecosystem.

Ele projeta que, em cinco anos, o nível de presença dos canais digitais no varejo do Brasil alcance o mesmo patamar que se vê hoje nos Estados Unidos.

No mercado americano, o ecommerce representava quase 11% do consumo em 2019. No Brasil, a participação era de de 4,8% no pré-coronavírus. “Nas nossas projeções, o país chegaria a 11% em 2029, mas com a aceleração impulsionada pela Covid, isso deve acontecer até 2025”, diz o consultor.

As grandes companhias que conseguiram sustentar a operação pela internet também afirmam que enxergam a tendência de um novo padrão de consumo no pós-crise, graças à captação de clientes da base da pirâmide e à ampliação no uso de plataformas mais populares no Brasil, como o WhatsApp.

“Quem comprava no ecommerce eram consumidores com maior poder aquisitivo, era a Faria Lima, Copacabana. Agora, o online está chegando nas classes C e D”, diz Abel Ornelas, chefe de operações da Via Varejo, dona das Casas Bahia e Pontofrio, que tem 70% das lojas já abertas.

A empresa diz ter 20 mil vendedores comercializando pelo WhatsApp. A operação via aplicativo ocorre até mesmo pelos vendedores que atuam no interior das lojas. Antes do coronavírus, o ecommerce representava 30% do faturamento empresa. A participação foi para 80% em abril, e a projeção é que empate com a venda física depois da pandemia.

Folha de S.Paulo
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