Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
31 de julho de 2020 | 09:10

Mais de 60% vão usar FGTS para pagar dívidas e poupar

economia

Cerca de 40% das pessoas com direito ao saque emergencial do FGTS pretendem usar o recurso de até um salário mínimo (R$ 1.045) para quitar dívidas em atraso, segundo sondagem do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas). Outros 26% devem poupar os recursos, e apenas 24% esperam usar o dinheiro para consumir bens e serviços.

De acordo com o levantamento, 25% das famílias possuem pessoas com direito ao saque, e 60% dos que podem retirar o dinheiro vão usá-lo. As outras 40% vão deixar o dinheiro no Fundo, uma vez que o saque é opcional.

Em relação à liberação do FGTS feita em 2017 pelo presidente Michel Temer (quando 21% das famílias tinham direito ao recurso), a sondagem mostra que os mais pobres vão poupar mais e consumir menos.

Na faixa de renda de até R$ 2.100, o percentual dos que vão poupar praticamente dobrou, para 20%, e a quitação de dívida passou de 53% para 49%. O consumo recuou de 29% para 23%.

Para famílias na faixa de R$ 2.100,01 a R$ 4.800,00, a taxa de poupança oscilou negativamente na margem de erro, para 18%, e a quitação de dívida passou de 42% para 54%. A de consumo recuou de 33% para 18%.

Entre os mais ricos (renda acima de R$ 9.600), o percentual de poupança caiu de 50% para 38%, e o de consumo subiu de 21% para 22%.

“Na faixa mais baixa de renda, a gente tem um percentual mais propenso à quitação de dívidas. Isso aconteceu em 2017 e está acontecendo agora. O que chama a atenção agora é que há um percentual maior de famílias nessas faixas de renda dizendo que vai poupar”, afirma Viviane Seda, uma das pesquisadoras do Ibre responsáveis pela sondagem.

Ela afirma que essa cautela já havia sido observada nas sondagens mensais recentes sobre a confiança dos consumidores, principalmente nas perguntas sobre ímpeto de compras.

“As famílias estão com medo em relação aos próximos meses, se vai vir uma segunda onda [de contaminação], se vão conseguir manter seus empregos. As famílias que têm menos margem de recursos guardados estão tomando um cuidado maior. Há uma preocupação não só em quitar dívidas, mas também de guardar um pouco esses recursos”, afirma Viviane.

A pesquisadora do Ibre Luana Miranda, que também coordenou a sondagem, afirma que, em 2017, o saque teve como objetivo estimular o consumo na saída de uma das maiores recessões da história, quando o país havia voltado a crescer e havia expectativas mais positivas e menos incertezas do que atualmente. Desta vez, ele vem para repor uma parte da perda de renda, em um momento em que o PIB (Produto Interno Bruto) está em queda.

“O objetivo era reaquecer a economia na saída da recessão. Era uma situação econômica muito diferente da atual. Hoje temos queda na confiança recorde, incerteza recorde, as pessoas estão mais endividadas, a renda das famílias está mais comprometida. Tudo isso faz com que as pessoas tendam a poupar mais, especialmente a população mais pobre, que em geral tem uma propensão ao consumo maior”, diz Luana.

Folhapress
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