Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
21 de agosto de 2020 | 08:38

Petrobras foca pré-sal no Rio e esvazia litoral de São Paulo

economia

Com a concentração das operações do pré-sal no Rio, a Petrobras vem reduzindo sua estrutura no litoral paulista, que já foi visto como um foco de expansão das atividades da estatal. A decisão gera protestos de sindicatos e da prefeitura de Santos, que teme perder empregos e renda.

Na semana passada, a companhia abriu processo de venda de uma de suas concessões exploratórias no litoral paulista, em mais um passo para concentrar esforços nos maiores campos do pré-sal — que, apesar de ficarem na Bacia de Santos, estão em frente ao litoral carioca.

Ainda na gestão Temer (MDB) , a empresa já havia vendido fatias em outros dois projetos no litoral de São Paulo: o campo de Carcará foi comprado pela norueguesa Equinor e a francesa Total ficou com 35% do campo de Lapa, assumindo a operação que era da Petrobras.

Apesar de a mudança de estratégia ter sido iníciada há dois anos, quando a companhia desativou a base de embarque de trabalhadores para plataformas marítimas em Itanhaém. ganha força na gestão atual, com a transferência de trabalhadores.

De acordo sindicatos de petroleiros ouvidos pela Folha, a Petrobras agora está realizando milhares de transferências e demissões de funcionários, mesmo em meio à pandemia da Covid-19, em todo o Brasil. Um dos locais mais afetados é a Baixada Santista.

As transferências vêm ocorrendo desde o fim do ano passado, quando a Petrobras mandou 74 empregados para o Rio, diz o Sindipetro Litoral Paulista. Agora, transferiu mais 937 para a capital fluminense. Segundo o diretor do sindicato Marcelo Juvenal, são engenheiros, geólogos e técnicos que cuidam do pré-sal.

A prefeitura de Santos se manifestou contrária à transferência de trabalhadores para o Rio e vem buscando diálogo com a estatal visando a permanência e o fortalecimento das atividades do pré-sal na cidade.

“O prédio da Petrobras está instalado no centro histórico de Santos, região que está passando por um amplo projeto de revitalização”, disse o prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB). “A permanência do edifício da estatal, preservando suas atividades e empregos, é fundamental para a cidade e sua economia.”

A estatal diz que não há decisão pela desativação do edifício, que foi inaugurado em 2006, na esteira de um processo de expansão de sua estrutura administrativa que acabou investigada pela Operação Lava Jato, por suspeitas de corrupção na construção de sedes em Vitória e Salvador, por exemplo.

A companhia alega ainda que as transferências envolvem pessoas que trabalham em plataformas e não necessariamente vivem em Santos, mas se apresentavam na cidade antes do embarque. Como os embarques foram concentrados no Rio, passaram a se apresentar na capital fluminense.

A preocupação entre as autoridades santistas, porém, é que o movimento se amplie a ponto de causar efeitos na economia da cidade. “Além dos empregos diretos, de funcionários que já estão instalados no município, existe toda uma cadeia de fornecedores, com empregados terceirizados que dão suporte aos serviços operacionais da unidade”, diz o prefeito Barbosa.

Na Câmara Municipal, o vereador Ademir Pestana (PSDB) apresentou uma moção de repúdio contra a possibilidade da Petrobras de transferir suas atividades para o Rio de Janeiro, abandonando as atividades no município.

Segundo estudo do Ibeps (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais), encomendado pelo sindicato dos petroleiros do litoral paulista, a saída da estatal da Baixada Santista provocaria perdas superiores a R$ 300 milhões anuais para a economia da região.

O valor considera gastos dos trabalhadores, contratados ou terceirizados, e seus familiares com habitação, despesas correntes, transporte, alimentação, saúde, educação, vestuário, higiene, recreação, cultura e outros. O estudo também alerta para quebra de empreendedores da região.

Até os governos petistas, a estatal tinha grandes planos para a Baixada Santista. Abriu uma base de transporte aéreo para plataformas no aeroporto de Itanhaém e chegou a falar em modernização do aeroporto de Guarujá.

A empresa planejava ainda implantar uma infraestrutura portuária para movimentar insumos e equipamentos para as plataformas em alto-mar. Chegou a anunciar, em 2014, o início desse tipo de operações em São Sebastião, onde está o maior terminal de petróleo do país.

Com a confirmação das reservas gigantes em frente ao litoral do Rio, porém, os planos foram revistos. O transporte de passageiros para o pré-sal é concentrado no aeroporto de Jacarepaguá, na capital fluminense, e o de suprimentos é feito a partir de bases de apoio na Baía de Guanabara e no litoral norte do Rio.
No litoral paulista, a empresa opera hoje apenas duas plataforma no pré-sal, instaladas no campo de Sapinhoá, o terceiro maior produtor do país, que está localizado em frente a Ilhabela. Os dois maiores, Lula e Búzios, ficam em frente a Maricá (RJ) e têm hoje nove plataformas. Maior reserva de petróleo do país, Búzios receberá outras oito unidades.

Folha de S.Paulo
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