4 maio 2024
O líder opositor russo Alexei Navalni, que de acordo com a Alemanha foi envenenado na Rússia, saiu do coma induzido e vai deixar de usar o respirador artificial “por etapas”, anunciou nesta segunda-feira (7) o Hospital de la Charité em Berlim.
“Reage quando falam com ele”, afirma um comunicado divulgado pelo hospital, onde Navalni, 44, é tratado desde 22 agosto.
De acordo com o governo alemão, Navalni foi “inequivocamente” envenenado na Rússia com um agente nervoso do tipo Novichok, uma substância desenvolvida na época soviética com fins militares.
O governo alemão e outros países ocidentais acusam as autoridades russas e pedem explicações.
A tensão aumentou no domingo, quando a Alemanha apresentou à Rússia um ultimato de alguns dias para “explicar o ocorrido”.
Nesta segunda, o Kremlin chamou de tentativas “absurdas” as acusações de que o governo russo teria envenenado Navalni.
“Todas as tentativas de associar a Rússia de alguma maneira com o que aconteceu são inaceitáveis para nós, são absurdas”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Moscou critica Berlim por “adiar o processo de investigação” ao não transmitir os documentos do caso às autoridades russas.
Peskov disse esperar que Berlim proporcione todas as informações necessárias à Rússia “nos próximos dias”. “Estamos esperando com impaciência”, completou.
A chanceler alemã Angela Merkel afirmou nesta segunda-feira que não descarta consequências para o projeto de gasoduto Nord Stream 2, que deve fornecer gás russo para Alemanha e Europa, se Moscou não apresentar as respostas esperadas sobre o envenenamento.
“A chanceler considera que seria um erro descartar a possibilidade a princípio”, respondeu o porta-voz da chefe de Governo, Steffen Seibert, ao ser questionado se Merkel tentaria evitar que o projeto de gasoduto fosse afetado em caso de sanções contra a Rússia.
No domingo, o ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas, também disse que “seria um erro excluir a priori” consequências para o Nord Stream 2.
Maas deu a Moscou um prazo de alguns dias para “ajudar a explicar” o que aconteceu com Navalni.
“Caso contrário, teremos que discutir uma resposta com nossos sócios europeus”, advertiu Maas. A Alemanha preside atualmente o Conselho da União Europeia.
Ele disse que em caso de sanções, estas devem ser “seletivas” e mencionou em particular o possível bloqueio do Nord Stream 2.
Chá em aeroporto
Os familiares do advogado afirmam que Navalni foi vítima de um “envenenamento intencional” na quinta-feira (20), com “algo misturado a seu chá” enquanto estava no aeroporto da cidade de Tomsk.
O ativista anticorrupção se sentiu muito mal a bordo de um avião que o transportava a Moscou e teve que fazer um pouso de emergência na Sibéria, onde foi hospitalizado.
Os médicos russos afirmaram que não detectaram “nenhum veneno” nem no sangue nem na urina de Navalni e disseram que a hipótese mais provável era a de um “desequilíbrio glicêmico” provocado por um baixo nível de açúcar no sangue.
Vestígios de uma substância química industrial, entretanto, foram encontrados nas roupas e nos dedos do opositor.
O ativista, cujas publicações sobre a corrupção das elites russas são muito visualizadas nas redes sociais, já foi vítima de ataques físicos. Em 2018, durante um protesto, foi atingido com uma substância tóxica verde que o deixou parcialmente cego de um olho por um tempo.
“O FBK [Fundo da Luta contra a Corrupção] continua seu trabalho”, afirmou no Twitter Ivan Jdanov, diretor da organização fundada por Navalni.
Vários adversários de autoridades russas foram envenenados nos últimos anos, na Rússia ou no exterior, como o ex-agente duplo Sergei Skripai, encontrado caído em um banco numa praça no Reino Unido em 2018 junto com a filha. As autoridades russas sempre negaram qualquer responsabilidade.
Folha de S. Paulo