Foto: Tiago Queiroz/Estadão
A pandemia levou quase 60% dos consumidores a adiar a compra de bens e serviços 26 de outubro de 2020 | 06:52

Quase 60% dos consumidores têm adiado compras por causa da pandemia

economia

A pandemia levou quase 60% dos consumidores a adiar a compra de bens e serviços. Segundo sondagem especial realizada pelo FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) feita com 1.171 pessoas, 58% dos brasileiros frearam o consumo.

O principal motivo apontado para adiar as compras é a incerteza com relação à pandemia de Covid-19 (53%), crise sanitária que levou às restrições de circulação, inibindo o consumo, e gerou insegurança em relação ao futuro.

Os consumidores também afirmam que estão poupando por precaução (31%), estão com medo do desemprego de alguém na família (19%) ou com dificuldade de obter emprego (13%).

Entre as famílias com renda de até R$ 2.100, 34% relatam como motivo a dificuldade de obter emprego, praticamente o mesmo percentual dos que citam as incertezas com a pandemia (35%).

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a taxa de desemprego chegou a 14% em setembro, maior percentual da série histórica da Pnad Covid, pesquisa criada para mensurar os efeitos da pandemia. A taxa é maior entre mulheres (17%) e negros (16%).

Outra razão para o freio nos gatos apontada na pesquisa do Ibre é a falta de recursos —cerca de 10% dizem não ter como pagar as contas. A perda de renda com o fim dos benefícios emergenciais é citada por 7% dos entrevistados.

Entre os 11,3% que apontaram outros motivos, muitos relataram a redução de consumo por causa da alta de preços. Em outubro, a prévia da inflação (IPCA-15) acelerou para 0,94%, o maior valor para o mês desde 1995.

“O consumidor continuar se mantendo bastante cauteloso em relação à compra de bens ou serviços . Esse percentual é mais alto para as faixas de renda mais baixas, que foram as que mais sofreram na pandemia, com perda de emprego e suspensão de contrato de trabalho e estão com nível de endividamento mais alto”, afirma Viviane Seda Bittencourt, coordenadora das sondagens do FGV Ibre.

“Nas faixas renda mais alta, grande parte está poupando por precaução, mas isso está acontecendo também nas faixas de renda mais baixas, pelo medo do desemprego e de uma nova onda da pandemia”, diz a coordenadora.

Segundo ela, a postergação tem sido maior no consumo de serviços do que de bens.

O produtor Paulo Serpa, 34, é um dos que passou a reduzir seus gastos por temer uma redução na renda.

“Nunca fui cuidadoso com dinheiro, mas passei a ficar mais atento. Comecei a comprar e cozinhar mais em casa para economizar e por medo de contaminação.”

Serpa tem uma planilha de gastos que atualiza semanalmente e conta que economizou, em média, R$ 2.000 por mês.

Ele também cortou gastos ao passar alguns meses na pousada da sogra em Cunha (SP), que ficou sem receber hóspedes.

“Supermercado no interior é mais barato, então, quando voltei para São Paulo, assustei com a conta no final das compras. Aí você começa a reduzir, come menos arroz e se acostuma a marcas mais baratas”, diz o paulistano.

Serpa diz ainda ter reduzido as despesas com vinhos, optando por itens promocionais. A preocupação atual é com o reajuste do valor do condomínio. Segundo ele, a depender do aumento, será necessário cancelar a assinatura do serviço de TV a cabo.

“Sou PJ, não tenho um guarda-chuva de lei trabalhistas, e trabalho com cultura, algo difícil no Brasil”, diz.

Folha de S.Paulo
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