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Com pandemia, um a cada cinco pretos do Brasil estão desempregados 28 de novembro de 2020 | 09:30

Com pandemia, um a cada cinco pretos do Brasil estão desempregados

economia

A pandemia da Covid-19 continua devastando o mercado de trabalho brasileiro. Pior para as pessoas mais vulneráveis. A população de cor preta é a mais afetada, com 1 a cada 5 estando sem emprego no trimestre encerrado em setembro —uma alta de 41% na comparação com dezembro.

Também está ruim para pardos e mulheres. Apesar de maioria na sociedade, elas perderam participação no mercado.

Os números divulgados nesta sexta-feira (27) pela Pnad Contínua do IBGE sobre o trimestre encerrado em setembro mostram que o desemprego no país chegou ao recorde de 14,6%, atingindo 14,1 milhões de brasileiros. Desses, 5,1 milhões são brancos, 1,7 milhões são pretos e 7,1 milhões são pardos.

A análise aprofundada dos dados mostra um cenário de desigualdade racial cada vez maior. Pretos e pardos são, respectivamente, 12,6% e 50,5% dos desocupados, apesar de representarem 9,1% e 45,5% dos brasileiros.

O desemprego entre pretos chegou a 19,1%, uma alta de 41,4% na comparação com dezembro, último trimestre sem sentir os efeitos da pandemia, quando o índice para eles estava em 14,9%. O crescimento é superior ao dos pardos —que passou de 12,6% para 16,5%— e dos brancos, que variou de 8,7% a 11,8%.

É a maior marca da série histórica da Pnad Contínua, que calcula a desocupação oficial do país desde 2012.

Mais do que isso, os pretos tiveram uma perda de 2,2 milhões de pessoas na força de trabalho, caindo de 9,7 milhões para 7,5 milhões no período. E, assim, diminuíram sua participação percentual entre as pessoas empregadas, de 10,3%. O mesmo ocorreu com os pardos, com uma redução de 44,3% para 43,5% (5,9 milhões de pessoas).

Para a analista da pesquisa, Adriana Beringuy, os números indicam uma continuidade de uma distinção estrutural presente na sociedade brasileira.

“A gente acompanha que pretos e pardos têm taxa de desocupação maior ?e isso pode estar ligado à questão da baixa escolaridade dessa população”, disse a analista.

Para Beringuy, essa é a continuidade de um processo que já existe e que em alguns momentos é intensificado —como diante de uma pandemia—, e em outros não. “Mas estruturalmente a diferença permanece”, afirmou.

Daniel Duque, do FGV-Ibre, apontou que a redução pela metade no auxílio emergencial ajudou a inflar os números do desemprego, pois as pessoas se sentem na obrigação de procurar uma ocupação.

“E aí entra a população preta e parda, que tinha saído da força de trabalho e quando volta não encontra empregos”, disse o pesquisador.

Folha de S.Paulo
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