Foto: José Cruz/Agência Brasil
Paulo Guedes 26 de dezembro de 2020 | 17:00

Guedes cria narrativas para tentar construir apoio e aprovar medidas

economia

Na tentativa de construir apoio para levar à aprovação de propostas —às vezes amargas— defendidas pela equipe econômica, o ministro Paulo Guedes (Economia) desenvolveu o hábito de criar narrativas, com discursos que são repetidos meses a fio, até que consiga atingir seu objetivo.

Além das já conhecidas metáforas usadas para ilustrar a economia do país, o ministro elabora argumentos e frases de efeito que visam direcionar opiniões, suavizar críticas a respeito de propostas ou agradar parlamentares.

Recentemente, por exemplo, Guedes confidenciou a auxiliares que não acreditava que o Congresso era reformista. Segundo relatos, logo no início do governo, ele teve a ideia de criar essa espécie de selo para qualificar os deputados e senadores, apesar de achar que o Parlamento não tinha nada de reformista.

Segundo interlocutores, Guedes conversou em 2019 com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e defendeu que os parlamentares avençassem com as pautas econômicas mesmo se não houvesse apoio explícito de Jair Bolsonaro (sem partido). Ele sugeriu que o deputado argumentasse que o Congresso é reformista e que apoiaria as medidas mesmo que o presidente não quisesse.

Maia usou algumas vezes a expressão, que também foi vocalizada sucessivamente até os dias atuais por Guedes.

Após insistente repetição, o ministro afirmou a um auxiliar que acredita que a ideia acabou colando.

Nos últimos meses, no entanto, a agenda de reformas travou no Congresso. Após forte expansão de gastos para mitigar os efeitos da pandemia, a equipe econômica tenta retomar a pauta de medidas estruturantes e de ajuste fiscal.

O saldo recente do Legislativo, porém, tem a aprovação apenas de medidas menos polêmicas, como marcos legais para atrair investimentos. Propostas consideradas mais importantes pelo governo, como o pacto federativo e as reformas tributária e administrativa, não avançaram.

Ainda assim, Guedes acredita na efetividade do método da repetição. A avaliação é que ele deve ser usado como forma de influenciar opiniões, seja dos parlamentares ou da sociedade.

Uma estratégia que considera bem-sucedida foi dizer que o socorro financeiro dado pelo governo federal aos estados neste ano não poderia ser “transformado em aumento permanente de salários”. Guedes justificava que não seria justo “distribuir medalhas antes da guerra”.

Folha de S.Paulo
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