Foto: Zanone Fraissat/Folhapress
O presidente do Itaú, Candido Bracher 03 de dezembro de 2020 | 15:40

Itaú articula setor financeiro por doações para Amazônia

economia

O Itaú anunciou nesta quinta-feira (3) que mobiliza representantes do mercado financeiro no Brasil e no exterior, bem como personalidades e especialistas em meio ambiente, para arrecadar recursos que serão destinados ao desenvolvimento da bioeconomia na Amazônia.

O movimento tem como ponto alto o evento batizado de Conferência Amazônia, que ocorre de 7 a 9 de dezembro para discutir temas ambientais com o setor empresarial. Os bancos Santander e Bradesco também participam da conferência.

O anúncio da iniciativa é feito na mesma semana em que o desmatamento na região avançou 9,5% em um ano, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

O banco já anunciou que ele mesmo vai destinar R$ 54 milhões para a região.

Segundo Luciana Nicola, superintendente de sustentabilidade do Itaú Unibanco, os recursos arrecadados atenderão aos projetos Rede de Sementes do Xingu e o Instituto Socioambiental. A ação tem como meta beneficiar indígenas, agricultores familiares, moradores urbanos, ribeirinhos e produtores rurais locais.

“A questão da preservação e da restauração [na Amazônia] tem que estar associada ao social, à geração de renda. As instituições serão remuneradas”, afirma.

Quem quiser participar e doar pode acessar aqui a página especialmente criada pelo movimento.

De acordo com Luciana, é a primeira vez em que o banco realiza uma conferência para angariar recursos e, por essa razão, ainda não há meta de doações.

“Não criamos expectativa inicial, pois a gente tem conversado com os parceiros para que o projeto seja modular pelo que a gente for encontrar de doações”, afirma. “Após a conferência, vamos divulgar os valores captados e quantas árvores serão passíveis de replantio a partir do banco de sementes dos projetos apoiados.”

A ação do Itaú fazer parte do movimento de mobilização do setor privado em favor de uma agenda ambiental mais ampla. Empresas se articularam para cobrar do governo respostas para deter o aumento do desmatamento, uma realidade que prejudica a imagem internacional do Brasil, bem como os negócios e as empresas do país.

Em julho, os presidentes dos bancos Itaú Unibanco, Bradesco e Santander se reuniram com o vice-presidente Hamilton Mourão e outros representantes do governo para discutir uma ação conjunta em defesa da Amazônia.

Uma carta de intenções foi apresentada ao final do evento, e as instituições financeiras se comprometeram a apoiar iniciativas voltadas ao fomento da bioeconomia na região, à expansão da infraestrutura básica para a população local e ao incremento do mercado de títulos financeiros verdes.

Também em julho, um grupo de empresas de grande porte, dos mais diferentes setores, se articulou em uma carta aberta para manifestar preocupação com a deterioração da imagem do Brasil no exterior em relação à questão ambiental.

Desde então, o grupo se reuniu com autoridades do governo federal, governadores e congressistas para discutir a agenda ambiental.

O aumento do desmatamento tem sido um dos entraves ao avanço do acordo entre Mercosul e União Europeia. Países como França e Áustria cobram compromissos ambientais mais rígidos para garantir que a produção não tenha origem em cadeias associadas à devastação de biomas.

Em junho, um grupo de 29 investidores globais assinou uma carta aberta ao Brasil expressando preocupação sobre a política ambiental no país e sobre os direitos humanos. Juntos, eles têm US$ 3,7 trilhões em ativos administrados ao redor do mundo.

“O crescente desmatamento nos últimos anos, combinado com relatos de desmantelamento de políticas ambientais e de direitos humanos e de agências de fiscalização, estão criando incerteza generalizada sobre as condições para investir ou prestar serviços financeiros ao Brasil”, escreveu o grupo na ocasião.

Na quarta-feira (2), a ONG britânica Global Witness? apontou que JBS, Marfrig e Minerva, os maiores frigoríficos brasileiros e entre os principais do mundo, têm comprado gado ao menos nos últimos três anos de fazendas com desmatamento ilegal no Pará. Os frigoríficos negam irregularidades.

Em relação à compra de carnes em áreas desmatadas, o Itaú afirma que os banco estuda formas de atuação e de financiamento da cadeia como um todo.

“Hoje a gente não tem ainda ferramentas consolidadas de monitoramento e rastreabilidade para toda essa cadeia. Queremos entender como a gente pode colaborar financiando essa transição”, afirma.

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