Foto: Agência Brasil
Metade dos trabalhadores do país pararam durante a pandemia 26 de dezembro de 2020 | 08:30

Metade dos trabalhadores do país pararam durante a pandemia

economia

O mercado de trabalho do Brasil chegou ao fundo do poço em 2020. Com a pandemia, que interrompeu o comércio, paralisou a produção industrial e brecou o setor de serviços, o país viu um fenômeno inédito: quase metade da população em idade de trabalhar literalmente parou.

Pela primeira vez, o número de brasileiros inativos, ou seja, sem emprego e sem buscar algum, ultrapassou a marca de 40%. O maior índice foi nos trimestres encerrados em julho e agosto, quando o indicador chegou a 45,3% —a média histórica é de 38,9%.

Os dados são de um estudo feito pelo professor sênior da FEA/USP e coordenador do Projeto Salariômetro, da Fipe, Hélio Zylberstajn. Ele utilizou dados de todas as pesquisas Pnad Contínua, do IBGE, para chegar aos parâmetros.

Somando-se a esse contingente os brasileiros desempregados (aqueles em busca de trabalho, segundo o critério do IBGE), a quantidade de pessoas sem ocupação chegou a 53,2%, um recorde.

Entre eles está Claudenice Sousa, 48. Desempregada desde o início da pandemia, quando a escola em que fazia faxina fechou as portas, ela não conseguiu se cadastrar para receber a caixa de alimentos distribuída a 1.000 famílias pela associação de moradores da Brasilândia, zona norte de São Paulo.

“Estou só fazendo bicos, mas é pouco. Recebo R$ 50 por cada dia de limpeza”, diz. Seu filho, que trabalhava em um lava-jato, também foi demitido. Nos últimos meses, sobrevivem graças a auxílios como esse.

Apesar da perspectiva de retorno às aulas no ano que vem, a empresa de limpeza terceirizada para a qual Claudenice trabalhava não deu sinais de voltar a contratar, e com o aumento do número de casos de Covid-19 na cidade, ela prevê um 2021 incerto.

A história se repete entre as pessoas que se aglomeraram na manhã de segunda (21) em frente a um galpão da Brasilândia, esperando receber arroz, feijão, óleo, macarrão e um frango —adicional de Natal à entrega das cestas.

“A pandemia acabou com geral”, diz o pedreiro Ivan Lopes, 53, que também viu os serviços pararem nos últimos meses e tem vivido de pequenos bicos. Com cinco filhos pequenos em casa, os alimentos da cesta duram uma semana. “Estou esperando essa vacina para ver se clareia, porque estamos meio no escuro.”

Também desempregada, Valdirene Souza dos Santos, 47, segurou as pontas nos últimos meses com o auxílio emergencial, e agora se preocupa em conseguir um emprego. “Já estou correndo atrás, não dá para ficar esperando.” Segundo ela, a cesta básica dura um mês em sua casa, onde vive com três netas e quatro filhas. Apenas uma está trabalhando.

Segundo Zylberstajn, da USP, quando a pandemia chegou ao Brasil, entre março e abril, o mercado de trabalho sofreu um enorme baque, sobretudo os trabalhadores informais que, dadas as medidas restritivas de circulação, ficaram impedidos de desempenhar suas atividades.

“Imagina um vendedor nos cruzamentos em semáforo, ou quem vende bolo, sanduíche, na porta do metrô? As ruas ficaram desertas. O transporte público ficou às moscas. O pessoal não tinha o que fazer, ficou sem ocupação.”

Com o passar do tempo, os formais foram também atingidos, mas com intensidade menor. Isso porque uma medida provisória permitiu que empresas suspendessem contratos ou reduzissem a jornada e o salário de funcionários, que receberam um complemento de renda do governo.

Folha de S.Paulo
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