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Ivanilson Gomes 19 de junho de 2023 | 08:45

Entrevista – Ivanilson Gomes: “Não adianta pulverizar porque aí Bruno ganha no primeiro turno”

exclusivas

O ativista ambiental Ivanilson Gomes acabou de ser reeleito para comandar o PV por mais dois anos, por unanimidade. Uma das missões do dirigente será preparar o partido para as eleições municipais de 2024. Ele diz que, em Salvador, pode ser uma questão de vida ou morte que as legendas que fazem parte da base do governador Jerônimo Rodrigues (PT) lancem um único candidato para enfrentar o prefeito Bruno Reis (União).

Nesta entrevista exclusiva, Ivanilson aborda a situação do vereador de Salvador André Fraga, que apoia a gestão de Bruno, e afirma ainda que o PV espera eleger no mínimo 20 prefeitos no interior. Ele fala sobre os critérios para a definição de candidaturas dentro da federação da qual a legenda faz parte, junto com o PT e o PCdoB.

Um dos locais em que as três siglas precisarão entrar em consenso é Juazeiro, onde os “verdes” defendem o nome do deputado estadual Roberto Carlos como postulante ao Executivo municipal. Ainda sobre 2024, o dirigente afirma que a legenda não vai vetar alianças do partido com siglas da oposição, garantindo a independência dos diretórios municipais.

Ivanilson admite que o PV não está satisfeito com o espaço destinado à sigla no governo de Jerônimo. “Vamos continuar demonstrando que temos nomes para contribuir mais”. Ele ressalta, entretanto, que o partido não irá “colocar a faca no pescoço” do governador por conta disso.

Confira a íntegra da entrevista.

Política Livre – O PV elegeu apenas seis deputados federais em 2022, sendo um deles na Bahia, Bacelar. Com uma bancada menor, o partido acabou ficando de fora do primeiro e até mesmo do segundo escalão do governo Lula (PT). Lembro que o partido chegou a negociar o Ministério da Pesca, que terminou nas mãos do PSD. O PV não poderia contribuir mais com o Planalto?

Ivanilson Gomes – Antes mesmo de formarmos a federação com o PT e o PCdoB, tínhamos essa discussão com Lula sobre de que forma poderíamos colaborar em caso de vitória dele. Primeiramente, houve uma pressão para que Marina Silva (Rede) assumisse o Ministério do Meio Ambiente, que poderia ser um espaço nosso. Até aí tudo bem. Depois, houve sim essa tratativa para que o PV assumisse o Ministério da Pesca, mas as negociações foram emperradas porque a bancada e o partido não caminharam na mesma direção, além de que houve o avanço da pressão para que partidos que apoiaram o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que elegeram uma bancada significativa de deputados, também tivessem espaços por conta da governabilidade. Ficamos fora, mas o próprio Lula já nos disse que isso não é definitivo. Em algum momento poderemos integrar o primeiro time do governo. Além disso, apoiamos o projeto e acreditamos no projeto e já temos notado mudanças importantes no país.

O senhor participou dessas negociações do partido com o governo federal?

Participei de algumas reuniões da bancada do PV na Câmara e com a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (RS). Houve um encontro do partido com o presidente Lula, após a posse, mas não participei porque estava em viagem. Lula sempre foi elegante com o PV e disse que vamos participar do primeiro time em algum momento. Hoje, temos membros do partido em algumas posições secundárias, em espaços no Ministério do Meio Ambiente, no BNDES, em Itaipu, no Banco do Brasil e no FNDE (Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação).

O partido terá cargos federais na Bahia?

Até o momento, esses cargos nos estados estão sendo direcionados aos parlamentares diretamente. Até então, pelo que eu saiba, o deputado Bacelar ainda não foi chamado para ocupar um espaço por meio de indicação.

O partido, por meio do deputado Bacelar, pediu o comando do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) na Bahia?

Não houve esse pleito.

Durante a votação da Medida Provisória (MP) da reforma administrativa do governo federal, Marina Silva teve a pasta esvaziada por parlamentares do Centrão e da bancada ruralista, perdendo o controle do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e da Agência Nacional de Águas (ANA). O senhor acha que faltou empenho do governo Lula para evitar que isso ocorresse?

Acredito que Marina é uma ótima ministra. Tem credibilidade no Brasil e no exterior e entende das demandas do meio ambiente. Esses movimentos do Centrão, da bancada ruralista, são muito ruins até mesmo para o agronegócio e não ajudam o país. Ninguém mais acredita hoje que essa é uma pauta apenas dos ambientalistas, pois é também do mundo dos negócios, dos campos e das cidades. Lula já visitou diversos países e reafirmou o compromisso com essa questão. O Bolsonaro era vaiado porque não levou a sério essa questão. Não dá mais para fazer qualquer movimento rumo ao desenvolvimento sem discutir a transição energética, a mudança climática, a pauta indígena, o cuidado com nossos recursos naturais. Para qualquer movimento ruim do Congresso, quem pagará o preço somos todos nós. Acredito que em algum momento vai haver uma correção de rota e Lula vai conseguir reverter esse processo que ocorreu no ministério, sobretudo à medida que o Brasil avançar.

Ainda na área ambiental, o governo vive uma espécie de dilema sobre a exploração de petróleo na Foz do Amazonas. O Ibama negou a licença à empreitada da Petrobras, mas o presidente tem dito que, se não houver riscos, pode acontecer. Acha que é um filme que pode estar se repetindo, afinal Marina Silva pediu demissão na segunda gestão de Lula por conta de desentendimentos desse tipo?

Eu acho que o Brasil trava hoje essa questão porque não avançou em outras matrizes energéticas e continuamos dependendo do petróleo. Acho que, sobre essa questão, haverá um consenso, porque seria inadmissível a exploração de petróleo de uma maneira que prejudicasse o Rio Amazonas e esse importante manancial de água. O planeta está atento a isso. Não acredito que Lula vá autorizar algo que pudesse ser ruim e dar errado. É preciso encontrar uma solução tecnicamente viável, como defende o Ibama e a ministra Marina Silva. Quando a Marina disse que não sai e fica no ministério é porque ela acredita nessa possibilidade.

Lula, os partidos de esquerda e os povos originários sofreram uma derrota na Câmara Federal com a aprovação do marco temporal para a demarcação de terras indígenas. O senhor acha que o governo tratou essa pauta com a prioridade que o PV acha que ela deveria ter?

Eu acho que o governo se empenhou sim, mas não teve força para mudar o resultado. Foi uma promessa de campanha de Lula cuidar dos povos originários. Ele subiu a rampa com um cacique e criou um ministério para tratar da questão, que também precisa ser fortalecido diante das investidas do Centrão. Temos visto respostas do Centrão a essas pautas da esquerda, por demonstração de poder, de dizer que eles mandam na Câmara e, com isso, promoveram esse retrocesso em relação à demarcação das terras dos povos originários, em pleno século 21. Foi um retrocesso.

Diante de um governo refém do Centrão, que tem sofrido derrotas no Parlamento, e de uma Câmara conservadora, como o Planalto vai conseguir avançar em pautas caras ao PV e aos partidos de esquerda, ligadas a temas como o uso legal da maconha e ao público LGBTQIA+?

Olhe, passamos por uma eleição muito difícil. Enfrentamos um movimento fascista e políticos se aliaram a esse movimento porque só desejam ocupar cargos, seja em que governo for, de direita, de esquerda. Mas esses políticos elegeram uma bancada expressiva na Câmara e o presidente precisa, muitas vezes, compor para construir maioria. Eu acho que à medida que o Brasil avançar, em que o país apresentar sinais de melhora, principalmente na economia, essa pressão conservadora vai diminuir no Congresso, embora não cesse. E esses sinais já estão aparecendo, a exemplo da queda nos preços dos combustíveis, do dólar. Hoje, a prioridade é tocar as pautas de reconstrução do país após um período de pandemia e de um governo fascista. Vamos ter dificuldades, sim, em avançar nas pautas progressistas, o que é ruim, porque são questões que visam modernizar o Brasil. O conservadorismo impede esse processo de modernização. Mas as nossas pautas, que também são importantes para Lula, podem esperar um pouco mais.

O senhor falou em políticos especialistas em ocupar cargos, seja em que governo for. Mas temos visto Lula ceder espaços importantes, inclusive na Bahia, a lideranças de partidos como o União Brasil, que sempre foi adversário do PT nacionalmente e na Bahia. Isso incomoda?

O Brasil é prioridade e as questões nacionais transcendem as questões estaduais. Lula precisa reconstruir o país e nesse sistema de presidencialismo de coalizão, é obrigado a construir maioria no Congresso, inclusive compondo com quem pensa diferente, com quem tem como lógica a mera ocupação de espaços. Isso muitas vezes é ruim porque o sujeito que apoiava outro candidato quer implementar a sua própria política em um ministério, e não a do governo que foi eleito. Agora, eu acho que precisa ter um limite. O governo não deve se agachar diante dessas forças. Precisamos chamar os movimentos sociais para que haja uma mobilização visando pressionar o Congresso para que as pautas do governo eleito avancem. O equilíbrio deve prevalecer nessa questão, porque também não é justo que companheiros e companheiras que estiveram na luta fiquem em segundo plano enquanto quem nem estava conosco fique agora sentado na janela. E tem mais: muitas vezes esse tipo de coalizão nem tem apresentado o resultado que o governo espera. É algo em que os partidos de esquerda precisam estar vigilantes.

Até pouco tempo antes das eleições de 2022, o PV era aliado do União Brasil em Salvador e apoiava o grupo liderado pelo ex-prefeito ACM Neto. Quando nacionalmente o partido decidiu integrar a federação com o PT e o PCdoB, essa aliança foi desfeita na capital. O senhor, inclusive, se colocou contra a federação. Hoje acha que foi bom para o seu partido?

A nossa aliança com o ex-prefeito foi muito pontual e se limitou a Salvador. Na maioria dos municípios do interior, fizemos alianças com partidos como o PT, PCdoB e PSB, ou seja, dentro do campo em que historicamente sempre atuamos, ou seja, o da esquerda. Além disso, toda aliança tem um prazo de durabilidade. A gente não brigou com Neto, não houve um rompimento, mas reencontramos o nosso caminho que sempre foi o da esquerda, da luta popular. Cumprimos nosso papel na Prefeitura de Salvador enquanto éramos aliados de Neto e do prefeito Bruno Res (União), e fizemos isso de forma muito competente. Agora, a federação foi algo importante porque a eleição de 2022 foi muito desigual. Foi uma eleição com esse tal de Orçamento secreto e teve muito derramamento de dinheiro. Uma luta muito injusta para os partidos menores e sozinho não daria para concorrer.

Então a federação, essa novidade que surgiu para as eleições de 2022, foi uma questão de sobrevivência?

De sobrevivência, com certeza. No início era assustador porque a gente faria uma federação com um partido que tem uma hegemonia, como é o caso do PT, e isso não é fácil. O PT é bem maior do que o PV e o PCdoB. Mas no final das contas foi bom para os três. Foi uma aliança pautada por um programa nacional que reverberou nos estados e isso permitiu a permanência no cenário político de partidos históricos e com bandeiras históricas, que não poderiam desaparecer por conta de um processo eleitoral absolutamente viciado.

Com a federação, o PV ganhou, antes das eleições do ano passado, quatro deputados estaduais e um federal, quando o partido não tinha nenhum. Mas não são quadros orgânicos. Esses parlamentares têm identidade com o PV?

É claro que os parlamentares não têm o nosso tom, ainda. Mas a gente tem conversado muito e eles estão começando a compreender o quanto é importante defender as nossas bandeiras, porque agrega valor ao mandato deles. Faremos seminários, congressos, para integrar os parlamentares a essas bandeiras, e não vejo dificuldade nisso. Claro que a gente não esperava que eles fossem xiitas ambientalistas.

O senhor, e alguns desses parlamentares, se queixaram publicamente do tratamento do governo Jerônimo Rodrigues com o PV, sobretudo a falta de espaços importantes na gestão. O partido acabou, inclusive, sem cargos no segundo escalão. O senhor ainda está insatisfeito?

A lógica é que se você vai para a rua defender um projeto, como fizemos com Jerônimo e estamos fazendo, desejamos dar a nossa parcela de contribuição porque a gente acreditava e acredita no projeto. Então, é natural que o PV também pudesse estar contribuindo de alguma maneira com o governo, de uma forma mais significativa. Tivemos conversas com Jerônimo, com a Secretaria de Relações Institucionais, com a Chefia de Gabinete, e pontuamos isso, mas entendemos também que o governo passa por alguns ajustes. O PV nunca foi um partido de colocar a faca no pescoço de ninguém. A única coisa que disse para o governador é que temos quadros qualificados para contribuir em qualquer área com o governo. Agora é claro que o partido não está satisfeito com a sua participação. Vamos continuar demonstrando que temos nomes para contribuir mais.

A manutenção de Maurício Bacelar, do PV, na Secretaria de Turismo ocorreu a pedido do partido ou do deputado federal Bacelar?

Não foi uma indicação do partido, embora o partido tenha referendado o nome. Maurício é um grande quadro técnico. Mas isso foi uma composição que o deputado Bacelar já tinha no governo e que o governador entendeu que deveria manter pela relação com o parlamentar e a contribuição que ele dá à gestão. Não houve constrangimento ou problema com isso da parte do PV.

Logo que o deputado federal Bacelar ingressou no PV surgiram especulações de que ele assumiria o comando da sigla na Bahia, o que acabou não acontecendo, uma vez que o senhor foi reeleito por unanimidade presidente por mais dois anos. Isso foi só um boato ou teve uma movimentação concreta?

Não que eu saiba, de forma direta. Ouvi conversas, mas nunca da boca do deputado Bacelar, com quem sempre tive uma relação tranquila. Para chegar até a minha reeleição, conversei com todas as instâncias do partido, inclusive com os deputados. Coloquei com clareza que não queria mais continuar, mas houve, da parte de todos, o pedido para que eu seguisse na presidência por conta desse momento mais difícil da federação. Uma pessoa que não tivesse acompanhando mais de perto esse processo poderia ter dificuldades. De modo que essa foi uma decisão unânime e não tivemos outra chapa. Antes, o meu plano era colocar uma mulher na presidência.

Quem seria ela?

Não tinha um nome. Eu coloquei isso no coletivo de mulheres do partido, para que elas pudessem viabilizar um nome. Lá atrás eu até tinha sim um nome e cheguei a conversar com ela, que vinha trabalhando comigo, viajando comigo, mas ela declinou porque tinha outros compromissos. Depois, ninguém nunca se colocou.

Alguns deputados e presidentes de partidos da base de Jerônimo alegam que a federação foi privilegiada no critério de distribuição dos cargos regionais no interior da Bahia. Isso gerou uma certa insatisfação na base. Para alguns aliados do governador, o critério deveria levar em conta cada partido individualmente e não a federação. O senhor considera a crítica justa?

Tem o ônus e tem o bônus. Você não pode fazer uma distribuição dessa sem usar um critério. E, nesses casos, o critério é o voto. Na reunião que tivemos do conselho político, ficou definido que a distribuição de cargos regionais se daria pelo somatório de votos dos partidos. E a federação é um partido. Dentro da federação, utilizamos o mesmo critério e o partido que tivesse mais votos em determinada região tinha direito a fazer a primeira chamada de indicações. E o PT leva a vantagem porque teve mais candidatos e mais votos. É natural que surgissem algumas queixas porque em determinadas regiões você pode ter um deputado que teve uma votação expressiva, mas quando os votos da federação são somados, o partido desse parlamentar deixa de ser o majoritário na região. Mas se não tivesse um critério virava bagunça.

Nos municípios em que PV, PT e PCdoB têm nomes para disputar prefeituras, qual vai ser o critério de escolha do candidato?

Achamos primeiro que o entendimento deve ser buscado no município, pelos diretórios locais. Caso não haja entendimento, a questão é levada para a instância superior, que é o comando estadual da federação.

O PT que exerce esse comando, correto?

Na verdade, vai haver um rodízio. O PT assumiu no ano passado e agora em 2023 acho que o PCdoB deve ocupar essa posição e depois o PV. Mas isso não é o mais importante porque há harmonia entre os três presidentes. Evidentemente que ainda há questões da federação em nível nacional sobre critérios para a escolha das candidaturas de 2024. Esses critérios serão aplicados na Bahia, se for necessário. Eu acho que o mais importante é fazer a construção aqui respeitando os três partidos. Não pode ter só candidato do PT, nem do PV e nem do PCdoB. É preciso que os gestos ocorram. Se o PV faz um gesto para o PCdoB em um determinado município, o PCdoB deve fazer um gesto em outra cidade. E o mesmo vale com o PT, que, naturalmente, pelo tamanho que tem, acabará tendo o maior número de candidatos. Mas eu acho que é assim que devemos conduzir, com harmonia e reciprocidade, como temos buscado fazer.

O PV, que hoje não comanda nenhuma cidade baiana, pretende lançar quantos candidatos a prefeito?

É natural que agora que estamos na base do governo e fazemos parte da federação tenhamos muitos candidatos, inclusive prefeitos com mandato que devem ingressar no partido. Tem muita gente batendo em nossa porta e estamos discutindo isso. Acredito que o PV deve ser fortalecido nesse processo com a eleição de pelo menos 20 prefeitos. Claro que entendemos que o PT é hegemônico nas grandes cidades, mas também vamos colocar nomes na mesa em municípios importantes.

É o caso de Juazeiro, com o deputado estadual Roberto Carlos, do PV? Lá, o PT lançou o nome do ex-prefeito Isaac Carvalho e o PCdoB aposta no deputado estadual Zó. Como fica?

Roberto Carlos é uma das apostas do PV para 2024 em uma cidade importante, que é Juazeiro. No cenário político atual do município, ele se apresenta bem e tem sido estimulado pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), que enxerga nele um candidato em potencial. Isaac, que em tese seria um nome forte, é dúvida sobre se pode ou não concorrer (em função de questões legais). Em relação ao deputado Zó, acredito que Roberto Carlos tem um jeito de dialogar com a cidade melhor.

Mas Roberto Carlos tem sinalizado que prefere ser indicado para uma vaga em um dos tribunais de contas.

Primeiro ele deve enfrentar as urnas para prefeito. Depois disso, a gente discute.

O PV cogita ter candidato a prefeito em Salvador?

No início, eu falei muito com Bacelar, que sempre achei um nome interessante, mas temos discutido também que o candidato não deve representar apenas a federação, mas toda a base do governo. Defendemos que seja uma candidatura única, afinal vamos enfrentar um prefeito que vai para a reeleição e que não é um candidato fraco. Não adianta pulverizar porque aí Bruno ganha no primeiro turno. É preciso que haja esse debate no grupo para que possamos escolher o nome que reúna as melhores condições de vencer a disputa e que carregue as aspirações e ideologias dos partidos da base, fazendo um programa robusto para apresentar à cidade.

O que se diz nos bastidores é que o nome favorito, que teria o aval de Rui Costa, seria o do presidente da Conder, José Trindade. Alguns falam até que ele pode ingressar no PT, ou seja, ser o nome da federação. É verdade?

José Trindade hoje está filiado ao PSB. É um dos nomes. Nunca tive conversa com ele e o conheço pouco. Em um determinado momento vamos ter que decidir, na federação, se iremos apresentar um nome ou apoiar alguém de fora da federação. Sobre a questão do futuro partidário de Trindade, não tenho acompanhado essa discussão mais de perto.

Como o senhor avalia a gestão de Bruno Reis, da qual o PV já fez parte?

Eu acho que o governo de Bruno tem alguns aspectos que não são significativos para a cidade. Acho que ele não tem produzido uma gestão mais participativa. O diálogo com a cidade, onde eu vivo há mais de 40 anos, não tem sido feito. Ele não tem ouvido os movimentos sociais e fica ouvindo apenas liderança de bairro. Nesse aspecto ele peca, em minha opinião. Além disso, acho que o governo de Bruno ainda não fez grandes entregas em Salvador. Claro que ele tem uma pontuação boa nas pesquisas, o que é natural, afinal está na cadeira. E claro que não sou daqueles que por não estar mais na gestão fica só falando mal. Mas sempre defendemos que os gestores dialoguem mais com a cidade, com a sociedade, para a construção de um projeto coletivo, e não que seja imposto.

Jerônimo tem feito isso nesses primeiros seis meses de governo?

Eu acho que sim. Jerônimo tem esse diferencial na forma de ouvir, de pedir a participação de todos. Ele sempre diz que gosta de ouvir toda e qualquer opinião que possa contribuir. A partir do conjunto de opiniões, ele toma uma decisão em benefício da população. Jerônimo tem uma pegada diferente, talvez por não ser um político tradicional, profissional. E ele tem procurado os movimentos sociais.

O PV tem em Salvador um vereador, que é André Fraga, que já foi secretário municipal na gestão de ACM Neto e está na base de Bruno Reis. Como fica a situação dele, já que o partido hoje apoia Jerônimo?

Respeitamos muito o que pactuamos. O André foi eleito dentro do projeto com Bruno. Até o final do mandato de Bruno, em tese ele tem esse compromisso com a cidade e com esse projeto, o qual defendeu e pelo qual se elegeu. Mas André também é uma pessoa partidária, que em nenhum momento falou em sair do partido, que apoiou a candidatura a deputado de Bacelar, do PV, em 2022. É uma pessoa correta e que tem nosso respeito e que nunca traiu Bruno, o que é muito digno e respeitamos. Acho que na hora certa a gente vai sentar para conversar sobre 2024.

O senhor foi reeleito presidente do PV por mais dois anos. Quais são os planos, além de preparar o partido para as eleições?

Vamos procurar construir o partido de uma forma mais organizada. Vamos receber várias pessoas que querem ingressar no PV e vamos trabalhar para que essas pessoas permaneçam mesmo após as eleições. Para isso, vamos fazer seminários, congressos, e descentralizar o partido, criando coordenações regionais para diminuir a distância do PV para os municípios. Vamos fazer em breve um congresso para tratar do futuro do partido, que também reunirá teóricos do partido para apresentar propostas ao governo Jerônimo. Afinal, não precisamos ter cargos importantes no governo para fazer isso. Vamos tentar ao máximo ampliar a democracia interna, respeitando nossos parlamentares, mas que eles também possam incorporar as bandeiras do PV, legenda que tem uma militância forte e que deve sempre ser ouvida também.

O PV vai permitir alianças em 2024 com partidos que hoje estão na oposição a Jerônimo?

Eu acho que o processo eleitoral no Brasil é diferente de outros países. Aqui há uma certa salada de frutas. É natural que a gente dê autonomia ao partido nos municípios, o que é uma das nossas bandeiras, em respeito ao municipalismo. Agora é claro que teremos critérios para o sujeito que ingressar no PV. Ele não pode, por exemplo, dizer que ambientalista é coisa de maluco. Tem que ter afinidade conosco.

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