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Deputado Robinson Almeida, cujo interesse por Salvador é considerado repentino no próprio partido 27 de julho de 2023 | 07:33

O recado que Robinson pode não ter ouvido mas precisa escutar sobre Salvador, por Raul Monteiro*

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Com o número de pré-candidatos a prefeito pelo grupo governista subindo e a temperatura em seu próprio partido esquentando, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) resolveu acenar com uma data para a definição do nome com que o governo deve marchar na sucessão do prefeito Bruno Reis (União Brasil), no ano que vem. O governador estabeleceu os meses de setembro ou outubro próximos para que ele, ou ela, seja conhecido ou conhecida. A ideia de marcar o prazo para exatamente um ano antes das eleições faz todo o sentido para os petistas, seus aliados e agregados.

Estão todos interessados em mostrar que há uma mudança em relação ao timing padrão com que o PT se habituou, na última década, a resolver as questões eleitorais em Salvador, desde que ganhou o governo do Estado, em 2006, o que acabou consolidando a ideia de que as disputas pela Prefeitura não seriam uma prioridade para a sigla. A demonstração de que hoje o partido tem efetivamente um plano eleitoral para a capital baiana e uma estratégia para lançar-se à sucessão faria, na visão de todos eles, uma imensa diferença para o eleitorado e a melhoria das condições para o enfrentamento de um prefeito cujo favoritismo pode, inclusive, se ampliar.

Ao firmar o compromisso em anunciar o nome do candidato um ano antes do próximo pleito, Jerônimo teve o cuidado de, confirmando a postura cortês que tem se revelado também uma marca sua, citar todos os potenciais quadros com que seu grupo pode trabalhar. “É natural que apareçam nomes. Vocês (da imprensa) já falaram de Geraldo, Trindade, Olivia, Bacelar, Robinson, e isso é natural […]”, afirmou o governador, esquivando-se de antecipar sua preferência, que todos sabem recair hoje sobre o presidente da Conder, José Trindade, do PSB, por acaso o mesmo nome de interesse do ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa.

A declaração de Jerônimo dá também uma sinalização clara para seu partido de que, desta vez, o processo terá um coordenador, encarregado de botar ordem na casa. Pode ser entendida, por extensão, como um recado ao deputado estadual Robinson Almeida de que, pelo simples fato de pertencer ao PT, ele não terá precedência sobre os demais concorrentes. Mesmo porque, embora tenha passado a se movimentar com agressividade na última semana, o parlamentar não está sozinho entre aqueles que desejam se viabilizar como representantes do partido, que pode, ainda, receber o próprio Trindade.

Haveria outros ‘poréns’ sobre o deputado, cuja relação com Salvador nunca apareceu em seu mandato, daí o espanto que o repentino interesse eleitoral causou na própria sigla. Aliás, corre no PT que sua pretensão padece do mesmo defeito de origem da do vice-governador Geraldo Jr. (MDB). Ambas surgiram apostando numa alegada cizânia entre Rui e o senador Jaques Wagner, de quem gostariam de receber o apoio em linha de enfrentamento ao ministro. Por reprovar o oportunismo do vice-governador, Wagner nunca o levou a sério. Nada impede que, pelo mesmo motivo, também deixe Robinson pelo caminho. Pelo visto, são fortes candidatos a formar a chapa dos que não foram.

*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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