Foto: Reprodução/Blog do Meirelles
O político e advogado Fernando Schmidt, falecido em 2020 03 de agosto de 2023 | 07:20

A justa homenagem do Judiciário baiano a Fernando Schmidt, por Raul Monteiro*

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Se é verdade que a política é feita de gestos, a Justiça, com certeza, é feita de reconhecimento. A decisão do Tribunal de Justiça da Bahia de emprestar a um fórum recém-inaugurado em Cruz das Almas o nome do político e advogado Fernando Schmidt, falecido em 2020, é merecedora exclusivamente de aplausos. A iniciativa foi do presidente da Corte, o desembargador Nilson Castelo Branco, que, na época em que foi advogado, não só acompanhou a escorreita trajetória de Schmidt no mundo jurídico como também nas diversas atividades que viria a desenvolver na condição de vereador, deputado, ex-secretário de Salvador e do Estado e até ministro.

Do ex-parlamentar, há inúmeras qualidades a descrever. O fato de ter morrido pobre, no entanto, talvez seja uma das mais significativas a se mencionar, uma vez que é também reveladora de que, apesar de sua inserção no meio, nunca compactuou com o modelo de atuação patrimonialista que caracteriza talvez a quase totalidade dos políticos brasileiros, hábito criminoso que, lamentavelmente, passou a servir ao propósito auto-interessado de extremistas de atentarem contra a democracia no país. A correção com que sempre se comportou não é menos importante do que o posicionamento sempre claro de Schmidt em defesa do Estado democrático de Direito.

O estilo, louvável numa sociedade em que as elites confundem privilégios com direitos, lhe granjearia amigos e admiradores tanto no exercício da advocacia quanto no da política. Entre os representantes que se beneficiaram do estilo leal, devotado e discreto de Schmidt, está a hoje deputada federal Lídice da Mata (PSB). Schmidt foi seu secretário quando ela era prefeita de Salvador, época em que o carlismo era uma força hegemônica na política baiana e não aceitava a independência dos opositores nem contestações de qualquer espécie. Lídice foi, aliás, das poucas políticas que privaram de sua convivência a compareceram à solenidade de inauguração do fórum.

“Schmidt foi para mim um irmão, embora não sanguíneo, da nossa família política”, disse a parlamentar, lembrando das batalhas que travaram juntos no curso de uma gestão que seria marcada por desafios para ela e seu também conselheiro. Responsável pela homenagem ao ex-professor e jurista, o presidente do Tribunal de Justiça deixou claro porque escolheu Schmidt para nomear a nova edificação em Cruz das Almas. “Cruz das Almas, cidade de elevado nível cultural, amadurecimento institucional e político, é repleta de simbolismos que guardo na memória”, disse Castelo Branco, referindo-se também ao local onde conheceu sua esposa, Suzane, desembargadora aposentada.

Ao agradecer a homenagem ao irmão, Alberto Schmidt foi outro que relembrou de sua atuação em favor da democracia. “Foi um guerreiro à frente das batalhas pela restauração e pela consolidação da democracia em nosso país”, frisou, num relato especialmente significativo para este momento da vida brasileira, em que, pelo que o noticiário mostra, o país esteve realmente à beira de um golpe, planejado por gente da pior qualidade. Considerado moderno e amplo, o fórum faz jus ao homenageado. Está numa área total de 4.500 metros quadrados e é dotado de uma estrutura considerada impressionante.

*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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