5 abril 2025
A avaliação do secretário de Cultura da Bahia (Secult), Bruno Monteiro, segue em baixa com a classe artística. Ontem (30), data final do prazo de apresentação de projetos para o edital da Lei Paulo Gustavo, enquanto o gestor celebrava o “sucesso” de 9.055 inscrições, muitos artistas de renome malhavam, publicamente, a gestão do ex-assessor de imprensa de Caetano Veloso.
Para Monteiro, o número recebido pela Secult mostra a “diversidade dos fazedores e fazedoras de cultura”. “Estamos afirmando a marca do governo, que é a territorialização da cultura. O edital vai marcar uma nova página na cultura da Bahia”, estimou, vestido em um paletó vermelho.
A avaliação positiva, porém, ficou restrita à bolha do secretário. Um dos mais importantes dramaturgos da Bahia, professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e criador do grupo Teatro Nu, Gil Vicente de Tavares classificou a proposição do homem de vermelho como um “extermínio” ao futuro da cultura no estado.
“A produtora do meu grupo, ontem, passou o dia altamente irritada com a plataforma da Secult, pois não conseguia inscrever nenhum de nossos projetos. Desde sexta ela tenta. Tínhamos projetos prontos, que fizemos para o edital da Funarte. Sempre dando erro. Ao final do dia, e ao final do prazo, não conseguimos inscrever nada. […] O PT baiano, não satisfeito em arruinar nosso passado, e aniquilar a arte do presente, resolveu assumir de vez a função de exterminador do futuro”, escreveu, em publicação nas redes.
A queixa de Tavares foi endossada por outros muitos agentes culturais. Cantora, Claudia Cunha foi mais uma a relatar desânimo com a plataforma celebrada por Monteiro. “Puxa, Gil, nem sei o que dizer. É tanto desrespeito. Nos últimos dias decidi não me inscrever. Uma decisão difícil… então, saber disso me deixa ainda mais revoltada”, respondeu.
A trapalhada na aplicação do edital começou antes mesmo da abertura das inscrições. A Bahia, em que pese seja um dos estados com mais recursos disponíveis, foi um dos últimos entes da federação a dar destinação ao recurso – muito depois do que a prefeitura de Salvador, por exemplo, onde a área é gerida por Pedro Tourinho.
Não bastasse a demora, Monteiro submeteu a classe a uma ansiedade evitável: o sistema, cambaleante, não dava conta dos acessos. A solução encontrada pela Secult, inicialmente, foi pedir paciência. Depois, adiou o término das inscrições. E, para completar, promoveu um terceiro adiamento.
Agora, as propostas passarão por avaliações técnicas. Muitos inscritos já se preparam para novas dores de cabeça.
Alexandre Galvão