Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Mudança de meta no Brasil e perspectiva de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos pesam no câmbio 16 de abril de 2024 | 17:30

Dólar tem novo salto e supera os R$ 5,26 com temores sobre meta fiscal e Fed

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O dólar registrou sua quinta sessão consecutiva de alta e saltou 1,65% nesta terça-feira (16), terminando a sessão cotado a R$ 5,268, ainda operando em seu maior valor desde março de 2023.

A divisa segue beneficiada por temores do mercado sobre a trajetória fiscal do Brasil, o adiamento das apostas de cortes de juros nos EUA e o aumento das tensões no Oriente Médio. Na máxima do dia, o dólar bateu os R$ 5,287.

O cenário também é negativo para a Bolsa brasileira, que caminhava para fechar em queda, abaixo dos 125 mil pontos, pressionada principalmente por recuo da Vale, a empresa de maior peso no Ibovespa, acompanhando a fragilidade do minério de ferro no exterior.

Mais cedo, a Petrobras chegou a operar em queda, mas virou para alta conforme os preços do petróleo Brent se recuperavam.

Nesse cenário, o Ibovespa terminou o dia em baixa de 0,60%, aos 124.571 pontos, segundo dados preliminares.

Investidores também repercutiram nesta segunda um pronunciamento do presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Jerome Powell, que afirmou que os últimos dados mostram uma inflação mais forte que o esperado nos Estados Unidos. Segundo ele, o Fed provavelmente precisará de mais tempo para ter confiança de que a inflação está caminhando para a meta de 2%.

“Os dados recentes claramente não nos deram maior confiança e, em vez disso, indicam que provavelmente levará mais tempo do que o esperado para alcançar essa confiança”, disse Powell durante um evento realizado no The Wilson Center, em Washington.

Quanto menos o Fed cortar os juros diante de uma economia resiliente, melhor para o dólar, que se torna mais atraente para investidores estrangeiros quando os rendimentos oferecidos pelo mercado norte-americano ficam mais altos.

A escalada das tensões no Oriente Médio colabora para o ambiente de aversão ao risco, com investidores recorrendo a títulos de maior percepção de segurança. O cenário pressiona a curva de juros americana, e os títulos com vencimento em dez anos apresentam alta: os chamados “treasuries” iam de 4,60% para 4,66% no fim da tarde.

Nos Estados Unidos, os principais índices operavam próximos da estabilidade desde o início do dia.

No cenário doméstico, as discussões sobre o arcabouço fiscal permanecem no radar, após o governo ter diminuído a meta de resultado primário em 2025 para zero.

A meta anterior, de superávit de 0,5%, era vista com ceticismo pelo mercado. A mudança do objetivo, no entanto, diminuiu a confiança de investidores na nova regra fiscal, como aponta Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos.

“Isso mostra que o desenho do projeto fiscal central do governo foi feito com metas que ele próprio já está sabendo que não vai bater. Tira um pouco da credibilidade, porque eles precisam mudar a meta para não sofrer as sanções que o próprio desenho do projeto do arcabouço fiscal estaria impondo”, afirma a economista.

“Do ponto de vista prático, [a mudança da meta fiscal] para o mercado é ruim. O mercado vê uma falta de confiança do governo na sua própria capacidade de gestão fiscal”, disse Cristian Pelizza, economista-chefe da Nippur Finance. Ele lembra, no entanto, que boa parte dos investidores não considerava as metas anteriores realistas.

Nesta manhã, o boletim Focus, do Banco Central, mostrou que economistas aumentaram sua previsão para a Selic pela primeira desde o fim de 2023. Agora, a previsão para a taxa no fim do ano é de 9,13%, ante 9% em boletins anteriores.

Marcelo Azevedo/Luana Franzão/Folhapress
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