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Geraldo Júnior e Kleber Rosa 11 de abril de 2024 | 07:27

Quem votou em Jair Bolsonaro em 2018 – Geraldo Jr. ou Kleber Rosa?, por Raul Monteiro*

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Se foi relativamente tranquilo para o vice-governador do Estado, Geraldo Jr. (MDB), com a ajuda de parte da cúpula do PT baiano, emergir como candidato do grupo governista à sucessão em Salvador, não deverá ser fácil para ele conquistar o apoio ao seu nome dos setores mais à esquerda na disputa pela Prefeitura. Não é que apenas faltem elementos para uma conexão entre o emedebista e o eleitorado acostumado a votar em candidatos do PT e de partidos liderados pela sigla do governador Jerônimo Rodrigues (PT) na Bahia e na capital baiana. Mesmo porque é muito difícil definir uma fisionomia ideológica para o vice-governador.

Embora nascido e criado no âmbito de partidos de centro-direita, como o favorito nas pesquisas e atual prefeito Bruno Reis (União Brasil), do qual foi aliado até o acidente de percurso ou o arranjo casuístico que o transformou em vice na chapa de Jerônimo, diferentemente do chefe do executivo municipal, Geraldo Jr. é o que se pode chamar de representante autêntico do fisiologismo político brasileiro, time que só entende uma linguagem: a do toma lá dá cá. Para eles, como a sociedade está cansada de saber, princípios contam pouco ou não contam, porque o que importa mesmo são os meios pelos quais é possível chegar aos fins.

É por isso que não veem problema, por exemplo, em, desde que aceitos, mudar de um lado para outro do espectro ideológico, exatamente como fez Geraldo Jr. em 2022, quando rompeu repentinamente com o ex-prefeito ACM Neto (União Brasil) para apoiar o PT, ganhando em troca assento na chapa majoritária. Mas este talvez seja o menor dos problemas do vice-candidato. Ele poderia estar mais tranquilo se não fosse obrigado a ter que cruzar pelo caminho com um candidato, de fato, esquerdista. Trata-se de Kleber Rosa, que já foi do PT, concorreu ao governo na sucessão passada, apoiou Jerônimo no segundo turno e disputará a Prefeitura pelo PSOL.

Em se tratando de um e de outro é exageradamente fácil separar o joio do trigo. Por exemplo, basta perguntar em quem, na última década, votaram Geraldo Jr. e Kleber para a presidência da República. Quem responder que o candidato do PSOL a prefeito esteve sempre do lado da esquerda ou do PT, acertou. E o hoje vice-governador? Afinando ainda mais a questão: na disputa presidencial de 2018, cujo resultado poderia ter levado o país uma ruptura institucional, foi Kleber ou Geraldo Jr. que votou em Jair Bolsonaro (PL)? Não seria sensato porque, por acaso, integra agora um governo petista, que o vice-governador negue que tenha apoiado o ex-capitão.

Avançando uma casa a mais: em quem Lula se sentiria mais à vontade para declarar voto em Salvador? No fluido vice-governador ou no nome do PSOL, mesmo partido do candidato pelo qual o presidente da República faz campanha em São Paulo? A eleição de 2022 mostrou que Kleber é inteligente, se comunica bem, tem consistência e identidade política clara. Se conseguir fazer seu partido entender que a extrema-direita roubou a bandeira anti-sistema dos radicais de esquerda e, por este motivo, como candidato, precisa moderar seu discurso para ampliar sua inserção no eleitorado, Geraldo Jr. não conseguirá um voto de esquerda para contar a história.

*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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