11 fevereiro 2025
A discussão sobre um novo modelo de descarbonização e implantação de uma transição energética justa foi tema da Reunião Inter-Regional de Países do Sul Global, realizada nesta terça e quarta-feira (4 e 5/2), no México. O coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, representou o Brasil como membro de dois conselhos do governo do presidente Lula, o de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável (CDESS) e o de Participação Social (CPS). Em seu discurso Bacelar destacou as dificuldades para se acelerar o processo de transição energética nesse momento em que a correlação de forças tem sido desfavorável no Congresso Nacional brasileiro.
“Ajudamos a construir o capítulo Energia do programa de governo do presidente Lula, com ampla participação das lideranças sindicais ligadas ao setor energético brasileiro. Apesar de todas dificuldades, temos conseguido avançar no diálogo com a agricultura familiar, com os povos ribeirinhos e com as representações quilombolas para garantir que os projetos promovam a inclusão de toda essa população num processo de transição energética justa, que gere emprego e renda nas regiões mais pobres do país”, destacou Bacelar, lembrando que a exploração de petróleo na Margem Equatorial deve ajudar a financiar os projetos de transição energética no Brasil.
Ele frisou também que é preciso ocorrer a transferência de tecnologia para o Brasil, visto que o país apresenta atualmente 86% de sua matriz energética a partir de fonte limpa ou renovável. “Mas onde está essa tecnologia? Na Alemanha, na China e em grandes indústrias, gerando emprego em outros países, e não no Brasil”, lamentou.
Bacelar destacou a luta que vem sendo travada pelo governo para reverter as privatizações. “No Brasil chamamos de privataria o processo que vinha ocorrendo durante o governo anterior, um misto de privatização com pirataria”, disse Bacelar, arrancando risos da plateia. Ele lamentou que a Eletrobrás esteja, ainda, sob o controle do capital privado, mesmo com a Estado Brasileiro tendo 43% das ações ordinárias.
Ainda em seu discurso, Bacelar lembrou que 76% dos gases de efeito estufa no Brasil são causados pelo mal uso da terra e desmatamento ou queimadas. “A pobreza energética nos rincões do Norte e Nordeste obriga a população a utilizar lenha para cozinhar. É preciso que as lutas tecnológicas estejam atentas às necessidades desse país continental que é o Brasil. Cada país tem suas próprias características, podendo construir uma transição energética justa, inclusiva e participativa, desde que sejam sempre ouvidas as populações impactadas”, observou.