25 março 2025
Tônus muscular
A possibilidade de o PSD incorporar o PSDB num processo de fusão, discutida nacionalmente, fortalece o presidente da Câmara de Salvador, o tucano Carlos Muniz, que anda insatisfeito com o prefeito Bruno Reis (União) nas negociações da reforma administrativa. A tendência é que o edil e o deputado federal Adolfo Viana (PSDB) controlem a sigla em Salvador, onde lideram uma bancada de cinco vereadores, enquanto o senador Otto Alencar (PSD) seguiria no comando no plano estadual. A equação fortalece a interlocução de Muniz com o governo Jerônimo Rodrigues (PT).
Pitbulls soltos
Vale lembrar que, em janeiro, Carlos Muniz chegou a dizer, em entrevista, que votaria em Jerônimo novamente, como fez em 2022. Principal aliado de ACM Neto (União), Bruno Reis até hoje não teria perdoado a declaração. Na semana passada, diante da resistência do prefeito em entregar a Secretaria de Educação ao PSDB, conforme acordado antes da eleição, os “pitbulls” do tucano na Câmara – Sidninho (PP) e Maurício Trindade (PP) – obtiveram autorização para criticar publicamente o prefeito, acusado de não atender os vereadores.
Cachorro louco
Sidninho, o “cachorro louco” da Câmara, chegou a dizer que se reuniu com o presidente do PP na Bahia, o deputado federal Mário Negromonte Júnior, e que o dirigente convidou os vereadores de Salvador a ingressarem na ala da sigla que dialoga sobre a adesão ao governo do Estado. Na verdade, a tal “reunião” não passou de um encontro casual num restaurante da cidade, na quinta (31), após Mário Júnior retornar de uma viagem dos EUA. Políticos que estavam no mesmo local relataram à coluna que o deputado não deu ousadia a Sidninho, apesar do “assédio” do vereador.
Relação de respeito
Segundou apurou a coluna, Sidninho garantiu a Mário Júnior, com quem pediu até para tirar uma foto, que três vereadores do PP de Salvador estariam dispostos a aderir a Jerônimo se fossem prestigiados: ele próprio, Maurício Trindade e George Gordinho da Favela, o líder da bancada na Câmara. O dirigente pepista respondeu que quem cuida do diretório em Salvador é o presidente municipal e secretário de Governo da Prefeitura, Cacá Leão, com quem Mário Júnior tem uma relação de amizade e respeito resistente a qualquer tipo de interferência desse tipo.
Garoto problema
O curioso é que, depois de toda essa cena e das conversas com a imprensa falando em rebelião no PP na capital e adesão a Jerônimo, Sidninho utilizou o plenário da Câmara, nesta quarta (04), para fazer juras de amor a Bruno Reis e condenar qualquer tipo de movimento do partido visando a aproximação com o governo do Estado. A coluna recebeu ao menos seis telefonemas de vereadores que se divertiram com o discurso. Alguns lembraram que, por essas e outras, o vereador teve dificuldade para encontrar partido ao sair do Podemos e disputar a reeleição. Ironicamente, só quem aceitou foi Cacá, hoje apedrejado pelo “garoto problema”.
Nova casa
Sidninho, que evitou cumprimentar o prefeito na reabertura dos trabalhos na Câmara, e Maurício Trindade querem trocar o PP pelo PL ou o PSDB. Para isso, esperam que Cacá Leão os libere sem risco de processo por infidelidade partidária. Carlos Muniz deve apoiar o movimento dos dois aliados junto ao secretário. Procurado pela coluna, o presidente do PL na Bahia, João Roma, afirmou que o partido está disposto a crescer na capital, mas ressaltou que não foi procurado oficialmente por nenhum dos vereadores.
Culpa de Neto
A insatisfação de Maurício Trindade com a Prefeitura é pontual. Ele apoia entidades que tratam de autistas e não tem obtido sucesso para viabilizar convênios entre essas instituições e o Executivo. O edil, que é médico, tem dito a correligionários que, por interferência de ACM Neto (União), Bruno Reis prioriza outras organizações ligadas a pessoas próximas do ex-prefeito. O vereador também está chateado com Igor Dominguez, assessor especial do Palácio Thomé de Souza, que vetou o pedido feito por ele de apoio para a montagem do palco e camarote da Câmara na Festa de Yemanjá.
“Arraaaaaaasou”
Sentindo-se ofuscado na Festa de Yemanjá do ano passado, o secretário estadual Bruno Monteiro (Cultura) foi à forra no evento do último domingo em que a Rainha do Mar foi reverenciada no Rio Vermelho. Com antecedência, mandou confeccionar em sisal puro uma pequena cesta que preencheu com rosas brancas, com a qual desfilou na comitiva do governador Jerônimo Rodrigues (PT) hora com o objeto na cabeça, hora na cintura, chamando a atenção de todos. Segundo um assessor, Bruno “arraaaaaaasou”.
Faraó, ó
Mas quem conhece Bruno diz que ele estava na verdade endiabrado. A uma sinalização da ministra Margareth Menezes (Cultura) de que queria falar com ele, reagiu de forma dura. “É bom mesmo, para você conhecer os programas culturais da Bahia”, disse o secretário. Sem acusar o golpe, Margareth insistiu. “Mas tenho notícias boas para dar”. E Bruno repetiu: “Você precisa conhecer os programas que o Estado da Bahia tem feito na cultura”. Logo, alguém gritou “faraó, ó” e a ministra, requebrando, sumiu na confusão.
Conselho ao governador
Presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Quinho Tigre (PSD) aconselhou Jerônimo, em conversa com a coluna, sobre a reforma administrativa, que está paralisada. “Se cerque de pessoas boas, que tenham qualificação técnica e voto. É necessário que as pessoas que queiram o bem da Bahia estejam ao lado do governador”. O pessedista afirmou que, embora seja pré-candidato a deputado em 2026 e a prefeito de Vitória da Conquista em 2028 – o que, nesse último caso, desagrada o PT –, aceitaria assumir uma secretaria no Executivo estadual, se for convidado. Ele deixa a UPB no final de março.
Peso do voto
Aliados do presidente da Assembleia, Adolfo Menezes, acreditam que o fato de o parlamentar ter sido reeleito com os votos de 61 dos 63 integrantes da Casa pode ter um peso quando o Supremo julgar a ação do PSOL que pede a anulação da recondução do chefe do Legislativo baiano – se de fato o partido ingressar com a peça. A torcida dos amigos sinceros de Adolfo é que o julgador seja o ministro Flávio Dino, com quem o senador Jaques Wagner (PT) e o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), têm interlocução. Sem um petista na vice, acredita-se que os dois atuarão politicamente no Judiciário em favor do pessedista.
Fora da Mesa
Adolfo teria 62 votos se o deputado Matheus Ferreira (MDB), filho do vice-governador Geraldo Júnior (MDB), não tivesse perdido um voo e se ausentado. Na eleição, dois deputados que tinham acento garantido na Mesa Diretora acabaram ficando de fora. Olívia Santana (PCdoB) seria a 4ª secretaria, mas cedeu a vaga para Fabrício Falcão (PCdoB) porque prefere ser mantida na presidência da Comissão de Educação. Já Júnior Muniz (PT), que seria um dos suplentes, não estava no plenário no momento da oficialização da candidatura e foi substituído por José Raimundo (PT).
Peixe morre pela boca
O líder do governo na Assembleia, Rosemberg Pinto (PT), que abriu mão de disputar a 1ª vice por falta de apoio de Jerônimo para enfrentar no voto a família Coronel – o governador deixou claro que a presidência da Casa deveria ser do PSD, mesmo se Adolfo caísse por decisão judicial –, mudou o discurso na imprensa depois que a deputada Ivana Bastos (PSD) foi indicada a posto. Antes, dizia que o vice era obrigado a convocar uma nova eleição em caso de vacância da presidência. Agora, diz que não é necessário. Será que isso não revela qual era o plano original do petista?
Liderança incerta
Deputados da base aliada acreditam que Rosemberg não será mantido na liderança do governo. A relação com Jerônimo e com a bancada do PT teria se desgastado durante as negociações para a eleição da Mesa Diretora. Quem está de olho no cargo é o deputado Vitor Bonfim (PV), que era o nome mais forte para suceder o petista se ele assumisse a vice-presidência da Assembleia. Apesar de não ser do agrado de parte da bancada, Vitor seria melhor do que Robinson Almeda (PT), considerado petista demais.
Dissidência aberta
Durante a eleição da Mesa Diretora da Assembleia, o deputado Sandro Régis (União), que secretariou a sessão, não percebeu que o microfone estava e, brincando com um colega da base governista, chamou o cantor Gusttavo Lima de “nosso candidato a presidente (da República)”, ao citar a pesquisa divulgada na segunda (03) pela Quaest. O candidato ao Palácio do Planalto do partido do parlamentar, e do líder político dele, ACM Neto, é o governador de Goiás, Ronaldo Caiado.
Pitacos
* Depois da experiência traumática com Leonardo Góes, tudo de que os funcionários da Embasa precisavam é de um pouco de estabilidade. O fato de Jerônimo ter assumido a liderança do processo de substituição melhorou infinitamente o clima na organização.
* Na terça (03), o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB) se encontrou, em Brasília, com o senador Otto Alencar (PSD). O emedebista garante que não tratou de 2026. “Sempre converso com ele. Nada extraordinário”, assegurou.
* O presidente da Câmara de Salvador, Carlos Muniz, vai ficar de “castigo” até segunda-feira (10). Ele foi diagnosticado ontem (04) com Covid-19. Mas, mesmo assim, as comissões permanentes do Legislativo municipal serão instaladas nesta quinta (06).
* Durante a reabertura dos trabalhos na Câmara, Carlos Muniz brincou com Bruno Reis sobre a insistência do vereador Paulo Magalhães Júnior (União) em seguir na presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
* Muniz afirmou ao prefeito que não aguentava mais receber ligações de Paulinho, e que nem estava mais atendendo.
* Ainda no tom de brincadeira, Muniz disse a Bruno que quem estava tranquilo era o vereador Cláudio Tinoco (União), que, por assumir a 1ª secretaria da Câmara, este ano não estava brigando com Paulinho por nenhuma comissão.
* A nova 1ª vice da Assembleia, Ivana Bastos, é uma mulher que não desiste fácil. Antes de assumir o primeiro dos quatro mandatos, foi suplente por três vezes. Com essa mesma resiliência, há quem aposta que ela chegará ao posto máximo da Casa.
* A deputada Fátima Nunes, líder do PT e com 18 anos de Assembleia, foi quem recebeu menos votos na eleição da Mesa Diretora: 47. Adolfo Menezes foi reeleito presidente com 61.
* O deputado Roberto Carlos (PV) pode pedir música no Fantástico. Ao desistir da 2ª vice da Assembleia, acumulou o terceiro recuo por ser “um homem de consenso”. Antes, havia retirado candidaturas ao TCM e, em 2024, à prefeitura de Juazeiro.
* Com pressa para retornar ao interior, o deputado Robinho (União) só votou na eleição da Mesa da Assembleia para o cargo de presidente. Ele já está em ritmo de campanha para a Câmara Federal.
* Depois de limitar o acesso dos jornalistas à sala do cafezinho dos deputados, a Assembleia também decidiu, e ninguém sabe por ordem de quem, diminuir o número de vagas destinadas aos profissionais de imprensa no estacionamento.
Radar do Poder, a coluna de bastidores do Política Livre