Foto: Rovena Rosa/Arquivo/Agência Brasil
Guilherme Boulos 28 de março de 2025 | 08:39

Pivô em crise de hino com linguagem neutra na campanha de Boulos lidera pagamentos do PT

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A Zion Produções, produtora por trás do ato de campanha de Guilherme Boulos (PSOL) à Prefeitura de São Paulo no qual o Hino Nacional foi cantando com a linguagem neutra, no ano passado, é a empresa que mais recebeu verba do PT nacional em 2025.

A mudança na letra do hino gerou grande desgaste para a campanha, que teve a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) como vice. Apesar disso, o partido contratou a Zion por R$ 598 mil, em depósito único, para produzir o evento de aniversário de 45 anos do PT, que ocorreu em fevereiro, no Rio de Janeiro.

Os únicos repasses que ultrapassaram o valor se referem a pagamentos ao Tesouro Nacional, de R$ 707 mil relativos a multas e despesas judiciais, e à Fundação Perseu Abramo, instituto de formação do PT, de R$ 2,3 milhões. Por lei, as fundações dos partidos devem receber ao menos 20% do fundo partidário.

Em agosto passado, a Zion protagonizou uma crise para a chapa do partido quando, no primeiro ato de campanha de Boulos ao lado do presidente Lula, na zona sul da cidade, a artista contratada para cantar o Hino Nacional alterou o verso “dos filhos deste solo és mãe gentil” para “des filhes deste solo”.

O incidente foi amplamente explorado pelos adversários de Boulos, que afirmaram que ele implementaria o uso da linguagem neutra nas escolas, caso eleito. O psolista passou o restante da campanha desmentindo a intenção, que nunca esteve entre as suas propostas.

A campanha apagou das redes sociais os vídeos do evento e responsabilizou a produtora pela contratação da cantora, que teria alterado a letra do Hino Nacional por conta própria. Lula, um dos principais fiadores da candidatura de Boulos, criticou o episódio internamente.

Quatro dias após o evento, Boulos declarou à imprensa a intenção de romper com a Zion. A produtora recebeu, ao todo, R$ 720 mil pelos serviços prestados à campanha.

“Não foi, logicamente, uma decisão da minha campanha aquele absurdo que foi feito com o Hino Nacional”, declarou Boulos à ocasião. “A nossa campanha se pronunciou de maneira clara e essa empresa produtora não vai mais trabalhar nos próximos eventos da campanha.”

Apesar das críticas, o PT voltou a contratar a Zion. “Os critérios do Partido dos Trabalhadores para a contratação de uma empresa são eficiência, qualidade de serviço prestado, preço adequado, confiança e entrega no prazo”, disse a sigla à Folha.

A produtora disse à reportagem ser reconhecida pelo rigor técnico e afirmou ter restringido a escolha dos intérpretes do hino após o episódio do ano passado, optando, em alguns casos, por utilizar versões oficiais gravadas.

Segundo a Zion, o contrato mais recente com o PT exigiu que a empresa cuidasse de toda a operação técnica do evento de aniversário da sigla, incluindo a contratação de fornecedores, estrutura e prestadores de serviços como som, luz, palco e cenografia.

Criada em março de 2018 pelo produtor cultural Warley Alves Barbosa, a produtora, inicialmente uma microempresa com o nome do próprio Warley, foi contratada pelo PT nas quatro últimas campanhas, incluindo a de Boulos, e também em cerimônias do partido fora do período eleitoral.

Antes de criá-la, Warley chegou a se candidatar a vereador da capital paulista pelo PSOL em 2016. Ele recebeu 24 votos e disse ter desistido da eleição ainda durante a campanha.

O primeiro trabalho para o partido ocorreu na campanha presidencial de 2018. A empresa recebeu R$ 45 mil, ao todo, em produções de rádio e TV para a candidatura de Lula, que teve o registro cassado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e depois para a chapa encabeçada por Fernando Haddad.

Em 2020, a produtora foi contratada para outra campanha petista –a de Jilmar Tatto à Prefeitura de São Paulo– pelo custo de R$ 30 mil. Nas eleições de 2022, já com o nome de Zion, a produtora recebeu R$ 450 mil para promover dois atos de campanha de Lula.

Fora do período eleitoral, entre 2020 e 2022, a empresa atuou na produção dos eventos de aniversário do PT. No primeiro ano, os serviços custaram R$ 2.000. No segundo, R$ 40,9 mil. No último, o partido gastou R$ 533,7 mil com a Zion, sendo R$ 133,7 mil apenas para o aniversário, R$ 300 mil para atividades voltadas à formação política de mulheres e R$ 100 mil para outros eventos promocionais.

Presente nas celebrações do PT, a Zion também afirma, em seu site, ter sido a responsável por produzir o Festival do Futuro, que ocorreu durante a posse de Lula, em Brasília, e no qual mais de 60 artistas se apresentaram. O partido organizou uma vaquinha virtual para levantar recursos e arcar com a infraestrutura, mas não divulgou quanto foi arrecadado.

De acordo com o PT, o evento não foi realizado pelo partido e, por isso, ele não consta na prestação de contas enviada à Justiça Eleitoral. A Zion declarou que o festival foi pago com recursos privados vindos de pessoas físicas e jurídicas e que não envolveu repasse de verbas públicas.

Juliana Arreguy/Folhapress
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