Foto: Alan Santos/PR
Governo Bolsonaro se alinhou ao governo Trump e votou a favor do embargo dos EUA a Cuba na Assembleia Geral da ONU 07 de novembro de 2019 | 18:00

Após 27 anos, Brasil rompe tradição diplomática e apoia embargo a Cuba

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O Brasil votou pela primeira vez nas Nações Unidas a favor do embargo econômico imposto a Cuba pelos Estados Unidos desde 1962. Há 27 anos, os países reunidos na Assembleia-Geral da organização aprovam por ampla maioria uma resolução pedindo o fim do bloqueio americano.

Neste ano, a medida foi adotada com 187 votos favoráveis entre os 193 membros da Assembleia. Além da representação brasileira, foram contra a iniciativa Estados Unidos e Israel. Além disso, Ucrânia e Colômbia, outra aliada do governo de Donald Trump, se abstiveram. A Moldávia não votou.

Desde 1992, a Assembleia-Geral da ONU aprova todos os anos um texto denunciando os efeitos negativos da política americana e pedindo o seu fim – a medida não tem, porém, efeito vinculante.

O Brasil se posicionava a favor da resolução desde que foi apresentada pela primeira vez. Em 2018, o texto foi aprovado por 189 países, com votos contrários apenas dos EUA e de Israel, e sem os votos de Moldávia e Ucrânia. Alinhamento com os EUA

Alinhamento com os EUA

Aparentemente, a mudança brasileira se deve mais à tentativa do governo de Jair Bolsonaro em reforçar o alinhamento ideológico com o governo do presidente de Trump do que uma revisão fundamentada da posição diplomática brasileira.

Bolsonaro, que costuma elogiar a ditadura militar brasileira, tem criticado a política anterior em relação a Cuba e disse que iria investigar empréstimos do Brasil à ilha.

Em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU em setembro, Bolsonaro afirmou que um plano de Fidel Castro, Hugo Chávez e Lula para estabelecer o socialismo na América Latina ainda está vivo e precisa ser combatido.

Pressão dos EUA

No começo dessa semana, o ministro das Relações Exteriores cubano, Bruno Rodríguez, denunciou as “pressões” feitas pelos Estados Unidos sobre países latino-americanos para obter votos contra o projeto de resolução que Cuba apresenta todos os anos à ONU para condenar o embargo imposto pelo governo americano.

Em comunicado lido diante da imprensa credenciada pela ONU, Rodríguez frisou que essas pressões têm sido realizadas por embaixadas dos EUA nas capitais de seis países latino-americanos, os quais não especificou. Rodríguez ressaltou também que “na penúltima semana de outubro foram convocadas em Washington, pelo Departamento de Estado, as embaixadas de quatro países latino-americanos, com o objetivo de obter os votos delas contra o tal projeto de resolução”.

O chefe da diplomacia cubana, que não aceitou perguntas, declarou que “Cuba sabe que conta com o apoio unânime dos povos latino-americanos e do planeta, e espera que nenhum governo da região se submeta às decisões anticubanas de Washington”.

Estadão Conteúdo
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