Foto: Igor Santos/Prefeitura de Salvador
10 de julho de 2020 | 07:48

Turismo acumula perdas de R$ 122 bilhões e recuperação será lenta

brasil

Com aviões no chão, hotéis operando a baixa capacidade e vendas de pacotes praticamente paradas, o setor de turismo já soma perdas de R$ 122 bilhões de março a junho. O montante é equivalente a mais de três meses de faturamento do setor, estimado em R$ 40 bilhões, segundo cálculo da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), divulgado em primeira mão à Folha.

A entidade avalia que pode levar até 2023 para que o setor retome o nível de receitas de 2019, antes da pandemia do coronavírus. Estudo da FGV de junho, por sua vez, calcula que o setor pode retomar o nível anterior à pandemia no verão de 2022, mas levaria até o fim de 2025 para recuperar as perdas acumuladas no biênio de 2020 e 2021.

Somente em junho, a CNC estima que o setor de turismo tenha somado perdas de R$ 34,2 bilhões, após deixar de faturar R$ 37,5 bilhões em maio, R$ 36,9 bilhões em abril e R$ 13,4 bilhões em março.

“O setor está operando hoje com cerca de 15% de sua capacidade”, observa Fabio Bentes, economista da CNC.

Ele destaca ainda que o segmento de alojamento e alimentação, diretamente ligado ao turismo, é o que apresenta a maior perda relativa de empregos com carteira assinada no ano, com queda de 13% no estoque de pessoas ocupadas e mais de 256 mil vagas fechadas até maio. Em seguida, está o segmento de artes, cultura, esporte e recreação, com recuo de 8% no estoque de empregos, segundo o Caged (cadastro do Ministério da Economia de empregos com carteira no país).

“Tanto do ponto de vista de emprego, quanto de geração de receita, o setor de turismo é o mais afetado pela crise”, avalia Bentes. “Ele também tende a ser um dos últimos a se recuperar, só deve conseguir reaver o nível de receitas que tinha antes da pandemia daqui a três anos, em 2023.”

Conforme Bentes, a recuperação do setor será impactada pela revisão de protocolos de transporte e hospedagem de turistas. Além disso, a perda de emprego e renda no país deve afetar a demanda por viagens, posto que o turismo é uma atividade de caráter não essencial.

“Mesmo para quem está empregado, há um efeito psicológico, o sujeito não vai assumir uma dívida de 12 meses por um pacote turístico, quando está vendo muitas pessoas perdendo o emprego”, afirma o economista.

As empresas do setor enfrentam perdas milionárias desde março.

Nesta semana, a CVC, maior operadora de viagens e turismo do país, informou em fato relevante à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que estima perdas de R$ 756 milhões durante o primeiro semestre do ano, sob impacto da pandemia.

Entre essas perdas estão gastos com aquisição de empresas, cancelamentos e reembolsos, serviços contratados e não realizados, inadimplência, repatriação de passageiros, entre outros.

A empresa também alertou que pode ter novas perdas à frente, pois possui um saldo de R$ 380 milhões em bilhetes aéreos já pagos, que poderão resultar em prejuízo, caso alguma empresa aérea encerre suas operações sem honrar ou transferir essas passagens a outra companhia.

No mesmo comunicado, a CVC atualizou a expectativa de perda por um problema contábil, de R$ 250 milhões para R$ 350 milhões, dos quais a empresa espera reaver R$ 55 milhões em tributos pagos indevidamente.

No dia seguinte ao aviso à CVM, a agência de avaliação de risco S&P rebaixou a nota de crédito da CVC, avaliando que a empresa provavelmente terá que renegociar R$ 700 milhões em dívidas com vencimento entre novembro deste ano e março de 2021.

A CVC não é a única enfrentar dificuldades. A E-HTL, operadora especializada em prover hospedagem, aluguel de veículos e serviços para agências de viagens, estima uma perda de receita entre 80% e 85% desde março.

A empresa relata, porém, que já percebe um pequeno crescimento na demanda a partir de junho, principalmente para viagens a destinos próximos às grandes capitais, que podem ser feitas de carro. “A retomada deve se dar em cima disso”, diz o diretor-executivo da E-HTL, Flavio Louro.

Folha de S.Paulo
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