Elias de Oliveira Sampaio

Políticas Públicas

Economista do Ministério da Economia. Mestre em Economia e Doutor em Administração Pública pela UFBA. Autor de diversos trabalhos acadêmicos e científicos, dentre eles o livro Política, Economia e Questões Raciais publicado - A Conjuntura e os Pontos Fora da Curva, 2014 a 2016 (2017) e Dialogando com Celso Furtado - Ensaios Sobre a Questão da Mão de Obra, O Subdesenvolvimento e as Desigualdades Raciais na Formação Econômica do Brasil (2019). Foi Secretário Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) e Diretor-presidente da Companhia de Processamento de Dados do Estado da Bahia (Prodeb), Subsecretário Municipal da Secretaria da Reparação de Salvador (Semur), Pesquisador Visitante do Departamento de Planejamento Urbano da Luskin Escola de Negócios Públicos da Universidade da Califó ;rnia em Los Angeles (UCLA), Professor Visitante do Mestrado em Políticas Públicas, Gestão do Conhecimento e Desenvolvimento Regional da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Professor, Coordenador do Curso de Ciências Econômicas e de Pesquisa e Pós-Graduação do Instituto de Educação Superior Unyahna de Salvador.

A Baía de Todos os Santos Continua Linda!

Não há sensação mais gostosa, na cidade de Salvador, do que descer a avenida contorno num dia de sol, contemplando a Baía de Todos os Santos. Aliás, parte dela. Maior do Brasil e segunda maior do mundo, a Baía se estende por mais de hum mil e duzentos quilômetros quadrados, o que torna impossível de ser vista em sua completude apenas a partir de um ponto geográfico e, como tudo na vida, pode ser percebida em sua imensa beleza nas mais diversas formas, dependendo do referencial do observador.

Numa semana em que um pouco de juízo parece emergir da presidência do senado da república em contraposição ao sniper que preside o congresso nacional, inquieta-nos pensar em como um país que possui belezas e possibilidades tão extraordinárias – a nossa baía é apenas um exemplo disso – pode se dar o luxo de adentrar por uma crise econômica e política que já compromete todo o ano de 2015. Pior: as causas da propalada crise estão mais nas barbeiragens e oportunismos daqueles que estão disputando o poder, no topo da pirâmide, do que em elementos concretos que justifiquem a paralisação generalizada do país.

Não estamos esquecendo que a operação lava jato, nem suas congêneres, estão  sorvendo os big shots da sociedade (mercado e governos); muito menos esquecendo a recessão, a inflação, o desemprego, e o fato das pesquisas de opinião virem apontando uma queda vertiginosa na popularidade da presidenta da república e na avaliação positiva do seu governo. Ao contrário, o que estamos querendo chamar a atenção é que apesar do desconforto e da preocupação diante da conjuntura crítica que nos cerca, não podemos perder de vista que apenas sociedades com um nível relativamente acentuado de maturidade democrática e consistência institucional consegue passar por momentos de instabilidade como o que estamos passando, sem riscos de rupturas formais.

Apesar dos desafios, dos problemas e das dificuldades que vislumbramos, a vida da grande maioria da nossa população permanece correndo normalmente. O que mudou, verdadeira e positivamente, foi a sensibilidade de nosso povo no que diz respeito ao nível de aceitação para malfeitos e desconformidades, especialmente, no setor público. Hoje, após tantas conquistas, a tolerância dos brasileiros para quaisquer coisas que signifiquem retrocesso para o seu bem-estar, tende a zero.

Para o cidadão comum, que é a maior parte dos atores sociais que produzem a nossa riqueza e faz com que o Brasil seja o Brasil, o que importa mesmo é que quem deva ser preso, seja preso; quem deva ser julgado, seja julgado; quem deva noticiar isso tudo, que noticie. No entanto, o que verificamos é a utilização de todo esse processo como alimento para as mais diversas tramas políticas, na sua grande maioria ilegítimas e espúrias. O recente caso da matéria da revista veja sobre o ex-jogador e atual senador pelo Rio de Janeiro, Romário, é um exemplo emblemático disso.

Obviamente que não estamos esquecendo, ou subtraindo do cenário, o fato de que tudo o que está ocorrendo possui forte correlação com as disputas políticas e o resultado dessas disputas no campo político-eleitoral dos últimos anos. Mas, também, não podemos desconsiderar que o oportunismo e o fetiche pelo poder daqueles que se encontram há mais de uma década distante das canetas e dos gabinetes do palácio planalto e da esplanada dos ministérios, colocam certas mentes num estado de excitação tão intenso que a mais remota possibilidade de retomar o poder, por qualquer via, vale tudo, até interromper uma trajetória legitima de projeto político popular e democrático, conquistado nas urnas.

Portanto, o maior desafio para a sociedade brasileira na atual conjuntura não é a crise econômica e muito menos a crise política, posto que a nossa história sugere que o Brasil vai superar – e bem – esses obstáculos conjunturais. A verdadeira prova de fogo para nossa nação é a manutenção da sustentabilidade de nossas instituições, conseguida com sangue, suor e lágrimas por gerações. É isso, sem dúvidas, que precisamos preservar a qualquer custo!

Por essa razão, da mesma forma que os escândalos e crises políticas e econômicas em governos anteriores, antes e depois da redemocratização do país, não foram suficientes para interromper o nosso caminho em prol da melhoria da qualidade de vida e garantia de direitos, não será esse o momento para “o fim da história” do projeto político recente da centro-esquerda brasileira no poder. A inflexão conjuntural do ciclo econômico ou o necessário ajuste nas instituições políticas democráticas devem ser vistas como uma excelente oportunidade pedagógica para corrigir as distorções, aprofundar as conquistas e consolidar a nossa jovem democracia, afinal, a vida, como a Baía, sempre continua.

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