Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

CNH e ineficiência

Esta semana eu tive que renovar minha carteira de motorista. Ainda que todo o processo seja muito simples e rápido, enquanto eu me dividia entre o SAC para os trâmites burocráticos e a clínica para a realização do “exame”, eu me peguei refletindo sobre quais seriam os motivos que justificariam a necessidade de renovar minha habilitação (fora o fato dela ter expirado, obviamente). Ao término desse processo não pude deixar de avaliá-lo como um excelente exemplo do baixo nível de eficiência e produtividade de nossa sociedade.

Eu elenquei alguns possíveis candidatos à justificativa para renovação e à medida que ia descartando as possibilidades, minha perplexidade com a ineficiência aumentava. Parece não haver dúvidas de que a renovação não se dá pela necessidade de aferir a habilidade do motorista, afinal, quanto maior o tempo de experiência, maior o domínio sobre o veículo e o trânsito.  Por outro lado, a renovação não está ligada com o efetivo desempenho do motorista no trânsito, algo que leve em consideração o número de multas, envolvimento em acidentes ou coisas do gênero.

O marco da renovação da CNH é o tempo. Não o tempo relativo do desenvolvimento humano quando seus reflexos e sentidos diminuem. Tampouco o tempo biológico das doenças incapacitantes. Alguém pode objetar alegando que estou exagerando e desconsiderando que um “exame médico” é feito para avaliar as condições físicas do motorista. Na boa, o tal exame é uma farsa. Ele dura exatos 5 minutos. O candidato responde a um questionário, tira a pressão e olha umas luzes. Alguém ai pode me apontar um único caso no qual um candidato com pressão alta ficou sem a carteira?

Da perspectiva burocrática, o processo é prenhe de elementos incompreensíveis. Quando você faz a requisição de renovação você é identificado com a tomada da impressão digital de todos os seus dedos. Ora, eu já fiz isso na renovação anterior. O que aconteceu? Meus dados foram perdidos? Por outro lado, é o departamento de trânsito que deve me identificar ou esta é uma atribuição da secretaria de Segurança Pública que fez isso quando renovei minha carteira de identidade? A este propósito, estes dois sistemas conversam entre sí?

O fato é que a renovação se dá sobre o tempo absoluto, cinco anos. Por que cinco? Por nenhum motivo específico, cinco é a marca da arbitrariedade e da ineficiência. Poderiam ser seis, sete ou mesmo dez anos, que não faria a mínima diferença. Se aumentássemos o prazo de renovação dos atuais 5 para 10 anos isso significaria uma redução de pelo menos 52 milhões de documentos nesse período, correspondente ao número de condutores habilitados hoje, reduzindo enormemente a pressão sobre os departamentos de trânsito que poderiam se dedicar à outras tarefas mais nobres, isso sem contar na economia de tempo, de dinheiro…

Parece que estamos tão acostumados com a ineficiência que não nos damos conta de como ela nos circunda e sufoca. A CNH é apenas emblemática desse estado de coisas. Aumentar a produtividade da economia nacional passa por enfrentar e resolver situações deste tipo. Não é por outro motivo que precisamos aprender a perguntar sempre: para que é que isso serve mesmo?

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