Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

É pior do que parece…

Estive pela primeira vez em Luanda, em 2010, a convite de meu amigo João Saveia, para participar de um simpósio na Universidade Técnica de Angola. Conheci meu anfitrião aqui no Brasil, já que por muitos anos ele “viveu na ponte aérea Brasil- Angola” em função dos seus estudos de mestrado e doutorado.

Colônia de Portugal por mais de cinco séculos, Angola somente alcançou a independência em 1975, depois de catorze anos de insurgência contra o domínio português. Após a independência, e com a ascensão ao poder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido de orientação socialista, começou mais uma fase sangrenta da história do país, marcada pela guerra civil que a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) travou contra o Governo do MPLA. Foi apenas 2002 (após a morte do líder da UNITA) que a paz finalmente se consolidou.

Os poucos anos de paz ainda não foram suficientes para apagar as marcas da guerra que teve como uma de suas principais consequências a destruição da infraestrutura do país. Mesmo na capital a maior parte das ruas não tem pavimentação, todas as casas possuem geradores de emergência para garantir o suprimento de energia e a maior parte dos produtos de consumo diários são importados, já que praticamente inexistem indústrias locais. Até a água mineral vem de fora.

Durante muitos anos, Luanda foi considerada uma das cidades mais caras do mundo como consequência dessa combinação de falta de produção e forte demanda por consumo, tanto por parte dos locais quanto pelos estrangeiros que para lá foram participar do esforço de reconstrução do país.

Lembro-me do meu espanto quando acertei com meu anfitrião o horário de saída para uma reunião no centro da cidade:

-Passo aqui às 6 horas da manhã, disse-me João.
-Como!?!? Mas não são apenas 10km até o centro? A reunião está marcada para às 9h!!!
-Sim, mas se não sairmos neste horário ficaremos presos em um engarrafamento muito grande e não conseguiremos chegar a tempo…

Cerca de três semanas atrás, João esteve mais uma vez no Brasil. E como de costume, nos encontramos para colocar as conversas em dia. Papo vai, papo vem, a surpresa: meu amigo reclamava que os engarrafamentos aqui já rivalizavam aqueles de Luanda e que os nossos preços (hospedagem, alimentação, roupas e tudo mais) já não eram mais atrativos como antes.

Foi ai que tive certeza, a coisa é pior do que parece.

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