Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Manter a pressão

Esta semana eu resolvi reler meu ‘Arte da Guerra’, livro de estratégia militar escrito pelo chinês Sun Tzu e atualmente muito utilizado pelo pessoal da gestão estratégica, para tentar compreender os desdobramentos que as manifestações produziram na nossa classe política. Optei pela versão em quadrinhos, de leitura mais rápida e divertida, já que nossos políticos atuais não merecem mais do que isso. De qualquer forma, achei o capítulo 6 particularmente instrutivo. Ele trata das forças e fraquezas que a estratégia deve explorar.

Gostaria de chamar a atenção para dois princípios básicos: o primeiro diz respeito à iniciativa das ações, quem é habilidoso na guerra toma a iniciativa para evitar que outros a tomem; e o segundo sugere que se confunda o inimigo, use iscas para atrair o inimigo para onde você deseja que ele vá. Nesse momento não pude evitar fazer um paralelo com as ações que vimos tomadas nos últimos dias.

Bastou uma maior agitação das ruas, que não fosse aparelhada pelos partidos do poder para que o pânico se instalasse nos palácios. Caiu a PEC 37, a corrupção foi elevada à categoria de crime hediondo, o presidente da câmara sinalizou o arquivamento do projeto da “cura gay”, desengavetaram a reforma política e o governo deu sinal de vida propondo os tais “pactos”, mesmo dando toda a pinta de que está mais perdido do que cego em manifestação. E para aqueles que acreditam em Papai Noel, duendes e mula-sem-cabeça coincidiu que o STF determinou (finalmente) a prisão do dep. Natan Donadon por corrupção e desvio de dinheiro.

Então, como podemos ler a situação atual a partir da Arte da Guerra? O anúncio do governo dos tais pactos tem toda a pinta de ser uma manobra diversionista para retomar a iniciativa política perdida para as ruas. A ideia é bastante simples, dar a impressão de que ele fez a parte que lhe cabia (distração). Assim, agiu como se ele (ou deveria ser ela?) não tivesse absolutamente nenhuma responsabilidade com o estado das coisas! Corrupção, quem? Problemas com a economia, sério?! Caos urbano, onde? Violência? Só dos manifestantes! Nesse meio termo ele aproveitou para encostar a faca no pescoço dos prefeitos e governadores ao empurrar guela abaixo o tais “pactos” que não foram discutidos com ninguém (iniciativa das ações), mas foram tirados das resoluções do Congresso do PT, em uma típica jogada de marketing visando socializar o prejuízo. Olhando para além da espuma, nada.

Neste contexto, o congresso – que só tem cobra criada – aproveitou para mostrar que ele também ouve a voz da rua. Tem uma charge circulando na internet que ilustra bem a situação. Vendo o congresso ser cercado pela multidão, Renan começa a gritar para os senadores: manda uma PEC qualquer para votarmos! Ou seja, nossos políticos adotaram a estratégia de dar os anéis (distração) para não perderem os dedos. Algumas coisas importantes foram conseguidas sim, mas a mudança que clamam das ruas aconteceu? Não. Alguma indicação de que um processo de mudança está em curso? Ainda não…

E por fim, há uma lição que podemos tirar desse período de manifestações e que devemos ter sempre em perspectiva quando tratarmos com nossos políticos: a pressão precisa ser mantida! Em outras palavras, quem tem c…, tem medo! Isso é a única coisa que realmente explica a motivação dos políticos para o trabalho.

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