Foto: Valter Pontes/Arquivo/Secom
ACM Neto é, por delegação das oposições, o coordenador da aliança oposicionista 17 de fevereiro de 2014 | 08:07

Afinal, “que pasa” no campo das oposições baianas?

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Parece ter caído no terreno pantonoso das incertezas a disputa pela escolha do candidato das oposições ao governo da Bahia, mostrando que a unidade, tão defendida pelos partidos que fazem o enfrentamento político ao PT no Estado, se já não está por um fio, ficará cada vez mais difícil de construir se o prefeito ACM Neto (DEM), condutor oficial do processo de negociação da chapa oposicionista, não tiver a habilidade que dele se espera para influir decisivamente na hora certa na definição do cabeça de chapa.

Políticos que estiveram na semana que passou com o prefeito relataram que ele parecia ter previsto que enfrentaria no mês de fevereiro o tormento em que se transformou o aumento do IPTU quando decidiu transferir a data da escolha do candidato oposicionista para depois do Carnaval. Com a questão do IPTU resolvida ou sem resolver, no entanto, chegará o momento em que, na condição de coordenador político que lhe impuseram os partidos oposicionistas, Neto terá que se decidir sobre quem considera o melhor dos candidatos para vencer o nome do PT em outubro.

O prefeito tem, de fato, enfrentado seu primeiro momento difícil na Prefeitura desde que tomou posse, há um ano. Há quem se refira à situação atual como a uma crise, embora ele, pessoalmente, descarte a avaliação por, no bojo das reações que a majoração do imposto tem gerado, ainda não se poder distinguir com acuidade a onda da marola ou, para dar um pouco de humor ao nervoso quadro que se vivencia hoje no Palácio Thomé de Souza, o motorista do passageiro, informação essencial a qualquer tomador de decisões.

É fato que, em seu primeiro momento de fragilidade, o prefeito não tem sido poupado pelos adversários, especialmente o PT, mestre na arte política de transformar copo d´água em tempestade que depois ajuda a virar num mar de fogo no qual, mantendo-se à distância, pode comer, tranquilamente, peixe frito. Derrotado na disputa pela Prefeitura, o partido que, quando assume o poder, faz tudo diferente daquilo que pregava enquanto era oposição, não tem poupado o prefeito em seu estilo sem limites, a ponto de acusá-lo de querer promover uma “higienização social” na capital baiana.

O clima chegou a tal ponto que o democrata José Carlos Aleluia, secretário municipal de Transportes, reagiu violentamente no final de semana e, invocando relações políticas e profissionais na OAB com o PT, acusou a Ordem de ter se deixado instrumentalizar pelo partido contra o prefeito, no que foi prontamente respondido. Mas com ou sem IPTU aumentado, o Carnaval passará em no máximo três semanas e Neto terá que se debruçar, finalmente, sobre quem prefere, tanto pessoal quanto politicamente, ver disputando, com o seu apoio, a sucessão do governador Jaques Wagner (PT).

Como o cenário é cada vez mais dinâmico, informações se atropelam. A mais recente dá conta de que o prefeito teria batido o martelo em favor do nome de Geddel Vieira Lima, do PMDB. Se o dado procede, de fato, Neto estaria desprezando, assim, o candidato de seu partido, Paulo Souto, que também lidera as pesquisas de intenção de voto ao governo, embora a preferência seja tanto possível quanto legítima. Ocorre que Neto não confirmou nem desmentiu a notícia e, ontem mesmo, Souto deu a largada na pré-campanha numa festa em Mata de São João, reduto de seu futuro candidato a vice, João Gualberto, o que leva à pergunta: Será que Neto bateu o martelo mesmo?

* Artigo publicado originalmente na edição de hoje (17) na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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