Foto: Reprodução
20 de julho de 2015 | 08:47

Mensagens da promiscuidade, por Raul Monteiro

exclusivas

Documentos apreendidos no curso da Operação Lava Jato e tornados públicos esta semana ofereceram ao país um retrato lamentável da cena empresarial brasileira governo-dependente aprofundada pela atrasada ideologia do capitalismo de Estado à brasileira que floresceu como nunca nestes governos petistas. Em meio à apuração de votos para a sucessão presidencial de 2014, executivos de uma das empreiteiras investigadas no esquema de corrupção que dilapidou a Petrobras trocam mensagens por celular demonstrativas de uma exultação impressionante com a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT).

Não estão preocupados com a Bolsa, com os informes sobre as bombas fiscais acendidas no período eleitoral que explodiriam logo depois do pleito, como ocorre agora, nem com o efeito, sobre seus empreendimentos, dos indicadores econômicos que, apesar de manipulados por um governo que desejava manter o poder a qualquer custo naquele momento, já sinalizavam que o país sucumbiria à recessão atual, queimando empregos e levando à lona o consumo. Importava apenas a torcida para que seus interesses, traduzidos em negócios inabaláveis com a administração, fossem preservados pela continuidade de uma determinada gestão.

A promiscuidade dos executivos com os agentes públicos que deveriam atuar como representantes da coletividade em situações muitas vezes naturalmente conflitantes frente ao empresariado é desconcertante. Uma conhecida liderança política chega a oferecer, justificadamente, pela soma de recursos que provavelmente recebeu para a campanha, a vitória de seu candidato a um empresário hoje preso pela Lava Jato. Vergonhoso, o quadro é o de sócios comemorando a repartição de produtos que não pertencem a ninguém exatamente porque, na visão distorcida de ambas as partes, são públicos e por isso podem ser apropriados impunemente por quem tem poder e oportunidade.

Mas os executivos e os políticos associados não se contentam em celebrar a vitória e a prevalência de seus desejos, já todos juntos e misturados como num verdadeiro caldeirão. Precisam também fazer um exercício perverso de supremacia sobre quem foi derrotado. Tripudiar no que podem sobre o grupo adversário que, graças à união do seu dinheiro com os votos do candidato vitorioso em que apostaram, ficou fora do jogo, pelo menos nessa oportunidade. Afinal, são obstáculos a menos à perpetuação dos esquemas já existentes com baixíssima taxa de risco e instabilidade e, o que é mais importante, sem a ameaça da concorrência.

Ora, para o inferno com a concorrência!, esta invenção indesejada do capitalismo liberal odiado pelos petistas. Fato é que quanto mais a Lava Jato avança, mais se percebe o seu valor e como a sociedade não pode se contentar com prisões e batidas policiais sobre os poderosos que estão alterando um paradigma antigo de que, no Brasil, só pobre dança. Além da punição completa dos condenados, é preciso que todos os detalhes venham a público de forma a que se conheça a fundo o até agora maior caso de corrupção da história deste país. Claro que um Sérgio Moro apenas é muito pouco para dar conta de um desafio de proporções continentais.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
Comentários