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Dilma e o ex-presidente Lula (PT) 17 de agosto de 2015 | 08:40

Nem sinal de melhora, por Raul Monteiro

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Para um partido e suas principais lideranças que se acostumaram a desfrutar e abusar da popularidade por mais de uma década, a manifestação de ontem, puxada especificamente contra o governo Dilma Rousseff, o PT e o ex-presidente Lula, não deixou de surpreender, apesar de cálculos e estatísticas garantirem que, em linhas gerais, foi menor do que a do último mês de março, a qual deixou a presidente e os principais ministros do seu partido igualmente aturdidos, sem conseguirem articular uma resposta à altura dos acontecimentos.

Ver o ex-presidente Lula caracterizado ontem, num dos muitos protestos que varreram o país, como um boneco simulando um presidiário, era algo simplesmente impensável nos tempos áureos do lulo-petismo, quando, além do seu histórico pregresso, seus altos índices de popularidade afastavam as suspeitas que hoje o cercam e qualquer crítica mais contundente por parte dos que não comungavam com a ideologia e as opções do seu partido para o Brasil. Na verdade, muito poucos ousavam fazer as acusações que hoje lhe fazem abertamente em qualquer esquina.

Curioso é que no mesmo dia em que a população foi às ruas protestar contra a turma petista, a CUT e aliados organizaram um ato em defesa de Lula em frente ao seu Instituto que reuniu cerca de 1.500 pessoas, um detalhe perto do contingente que se aglomerou em todo o país para exercitar a rejeição contra um grupo político cuja liderança principal é indiscutivelmente dele. O pretexto foi o atentado com uma bomba sofrido pela instituição, a qual embolsou recursos vultosos de uma empreiteira envolvida nas investigações da Operação Lava Jato.

Independentemente de terem sido menores ou maiores do que os protestos de março, as manifestações de ontem tiveram ainda uma pecularidade: não só revelaram o descontentamento dos brasileiros com um país paralisado por uma crise econômica originária no petismo que ainda não mostrou todas as suas consequências. Ressaltaram principalmente sua indignação com a corrupção a que, lamentavelmente, o PT e suas lideranças passaram a ser associados desde que a Operação Lava Jato se incumbiu de descobrir os meandros de um extenso esquema de corrupção na Petrobras que tem tudo para ter sido reproduzido em outras estatais.

Não por acaso, o juiz Sérgio Moro, um dos cérebros da Operação que une ainda o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, foi exaltado por manifestantes em diversos Estados, chamando a atenção para o apoio que a população empresta ao trabalho que realiza, desafiando, naturalmente, tantos interesses poderosos. Enfim, é possível que os protestos de ontem não tenham sido suficientes para implodir o acordão que o PMDB, por meio do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), fechou para tentar manter, a qualquer custo, Dilma no poder. Ninguém deve duvidar, no entanto, da indignação que embala a população.

*Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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