Foto: Francisco Frana
Rui tem conseguido prorrogar a lua de mel com o público que o elegeu em 2014 e, ao mesmo tempo, finca popularidade em setores do eleitorado que não o conheciam 24 de agosto de 2015 | 07:23

Uma campanha que não agrega, por Raul Monteiro

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O momento político certamente não é dos melhores para que o PT lance candidato a prefeito em Salvador em 2016 contra o democrata ACM Neto. Ainda mais pelo fato de a sigla não ter um nome natural à Prefeitura, com a decisão manifesta do secretário estadual de Turismo, Nelson Pelegrino, de não concorrer pela quinta vez e o mesmo sentimento já externado pelo senador Walter Pinheiro, que, como a auxiliar para o cenário desfavorável ao partido na capital baiana, ainda namora reservadamente com líderes de oposição ao governo estadual, como o próprio ACM Neto, apesar de negar, de público, qualquer conversa neste sentido.

Não espanta, portanto, que tenha sido de surpresa o sentimento do governador Rui Costa (PT) ao tomar conhecimento, por esta Tribuna, das especulações relativas ao interesse do partido de apresentar sete nomes à Prefeitura no ano que vem. Já é do conhecimento de todos que Rui tem conseguido prorrogar a lua de mel com o público que o elegeu em 2014 e, ao mesmo tempo, fincar popularidade em setores do eleitorado que não o conheciam, principalmente na área mais periférica de Salvador, onde o PT deu as cartas em passado recente, mas agora está praticamente se transformando num reduto do atual prefeito.

Além da atenção que tem dedicado ao interior, Rui tem feito um esforço desmedido para se fazer presente nas áreas tradicionalmente mais desassistidas da capital baiana. A iniciativa integra uma bem bolada estratégia que, em todo o Estado, lhe ressaltam as características de gestor, estimulada pelo predomínio de sua prioridade a uma agenda administrativa em detrimento da política. Assim, sem criar constrangimentos ao partido, ele distancia naturalmente sua atuação da do PT, cuja imagem tem sido corroída tanto pelos desatinos do governo Dilma Rousseff – nas áreas econômica e política – quanto pelos desdobramentos da Operação Lava Jato.

Por que, então, o governador gostaria de ver sua legenda em campanha pela Prefeitura no ano que vem em franca desvantagem perante o principal adversário e, ainda por cima, trazendo junto todo o lodaçal em que vem chafurdando dia após dia num ritmo que tem muito para se aprofundar até a a sucessão municipal? Melhor estimular candidaturas em partidos aliados que, no curso do debate eleitoral, não precisem dar qualquer resposta a questionamentos quanto a erros na política econômica petista nem tentem justificar-se frente às contínuas descobertas de malfeitos praticados por líderes do PT.

Afinal, embora na agenda eleitoral dos prefeituráveis predomine tradicionalmente a discussão sobre a cidade e seus desafios, debate que, no caso de Salvador, vai se travar sob o pano de fundo das vantagens ou não da renovação do mandato de ACM Neto, é muito provável que o confronto descambe também para o questionamento tanto sobre a competência quanto em relação aos deslizes morais do Partido dos Trabalhadores, o que não interessa a Rui. Mesmo porque, com certeza, ele dá sinais de já ter percebido que, a partir de agora, seu futuro político dependerá muito mais dele e da administração que realizar do que de seu partido e muito menos de suas lideranças nacionais.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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