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A Bahia é um dos Estados em que o efeito da condenação de Lula deverá se fazer sentir de maneira mais forte 25 de janeiro de 2018 | 10:05

A nova condenação de Lula sobre Rui e Neto, por Raul Monteiro

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Aqueles que permanecem defendendo a idéia de que o ex-presidente Lula é candidato à Presidência da República, entre os quais se incluem basicamente membros ilustres de seu próprio partido, o fazem por desespero, já que sabem que a idéia não passa de mera ficção. Ao ser condenado pelo TRF 4, Lula foi automaticamente enquadrado na Lei da Ficha Limpa, cuja maior sanção é punir com a inelegibilidade os políticos condenados em segunda instância. Trata-se de legislação importantíssima, de iniciativa popular, cuja aprovação pelo Congresso foi comemorada como um avanço para a moralização da instituição política no país e, assim, cumpre muito bem o seu papel.

Por coincidência, a Lei da Ficha Limpa foi sancionada, em sinal de apoio à sua importância, pelo próprio petista, quando presidente da República que dizia defender a ética, da mesma forma que membros importantes do petismo. O direito de juridicamente espernear é sagrado e nada impede que a defesa de Lula interponha quantos recursos contra a decisão unânime que confirmou sua condenação pelo juiz Sérgio Moro julgar necessários, mas achar que, ao final, o ex-presidente terá garantido o direito de concorrer contra a lei vai uma distância enorme e praticamente intransponível, como essa que, a partir de ontem, se colocou entre ele e as eleições de outubro.

Mesmo sob o clima de mistificação de que Lula se faz estrategicamente acompanhar, cujo propósito é mais confundir do que esclarecer, não há como fugir do fato concreto da condenação e do impacto político que inevitavelmente terá em todo o país, especialmente sobre aliados, mas também sobre adversários do petismo. A Bahia é um dos Estados em que seu efeito deverá se fazer sentir de maneira mais forte, exatamente porque, como se fala desde a condenação de Lula por Sérgio Moro, sua eventual participação, como candidato, na campanha, teria o efeito de ajudar imensamente o governador Rui Costa (PT) na tarefa, legítima, de se reeleger.

Não que Rui esteja em situação difícil como gestor ou liderando um governo mal avaliado. Muito pelo contrário. Mas é inegável que uma campanha casada com a do líder popular petista funcionaria como uma alavanca importantíssima, dando principalmente a seus aliados mais elementos para acreditarem numa vitória, quem sabe, menos suada. Agora, espremido entre uma Prefeitura francamente adversária e um governo federal hostil, ele terá que contar basicamente com seus atributos de bom governador, comunicador e líder político, além de um time coeso e fiel de correligionários, para tornar a vitória em outubro um sonho realizável.

Em contrapartida, um novo cenário se descortina para o prefeito ACM Neto (DEM), que, se ainda alimentava alguma dúvida entre ser ou não ser candidato contra o governador, deve ter se convencido ontem de que, sem Lula no pedaço, as condições lhe são agora infinitamente melhores. Ele começou sendo surpreendido pelo placar do julgamento, que acreditava que bateria no máximo no dois a um contra o ex-presidente, abrindo brecha para recursos que retardariam a definição da situação eleitoral como um todo. Se não mexeu com seu coração, o resultado, no entanto, animou imensamente a tropa que o acompanha e agora acredita que, mais do que nunca, ele só tem um caminho: lançar-se na disputa.

*Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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