Foto: Roosewelt Pinheiro/Agência Brasil
O ex-presidente boliviano Evo Morales 17 de janeiro de 2020 | 20:00

Evo diz que não deveria ter buscado quarto mandato: ‘Foi um equívoco’

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O ex-presidente boliviano Evo Morales admitiu em entrevista à versão digital do jornal alemão Zeit que foi “um erro” voltar a se candidatar à presidência. “Foi um equívoco assumir a proposta do povo após a decisão do Tribunal Constitucional. Mas o povo havia decidido e eu aceitei sua proposta para uma quarta candidatura”, justificou-se.

“Deveria ter rejeitado a proposta. Mas ganhamos a eleição no primeiro turno”, afirmou. O ex-presidente defende a realização de uma investigação, apesar da polêmica ocorrida durante a apuração. O candidato opositor Carlos Mesa liderava a apuração, mas, depois de uma paralisação na contagem, Evo apareceu como o ganhador.

“Não houve fraude. A Organização dos Estados Americanos (OEA) incendiou a Bolívia com seu relatório eleitoral”, afirmou Evo. O ex-presidente disse acreditar que seu partido MAS vencerá as eleições presidenciais de 3 de maio, apesar de advertir que “nessa ocasião, sim, é que pode ocorrer fraude eleitoral”.

Evo revelou que pretende voltar à Bolívia antes das eleições presidenciais para a campanha, apesar dos riscos. Ele também afirmou que renunciou “para evitar a pena de morte”. “Eu não esperava a violência, o fascismo e o racismo que ocorreram”, acrescentou.

Ex-chanceler deve disputar presidência

Ainda nesta sexta-feira, o partido de Evo – o Movimento ao Socialismo (MAS) – anunciou que o ex-chanceler David Choquehuanca será seu candidato à presidência da Bolívia nas eleições de 3 de maio.

Choquehuanca, um indígena aimara de 58 años, obteve apoio necessário para representar o MAS, partido criado por Evo. O ex-chanceler terá como companheiro de chapa o líder cocaleiro Andrónico Rodríguez.

“O ex-presidente ratificará a decisão nos próximos dias. Ele não elegeu, pediu que decidíssemos em consenso”, disse hoje o deputado do MAS Juan Cala.

Acredita-se que a ratificação ocorrerá este fim de semana em um encontro de partidários do MAS.

Rodríguez tem 30 anos e lidera os plantadores da folha de coca nas seis federações de Cochabamba, na região central da Bolívia, das quais Evo continua sendo o líder máximo.

O ex-presidente está coordenando a campanha do MAS em Buenos Aires, onde se encontra como asilado à espera da concessão do status de refugiado político – com o qual ele terá mais regalias.

O anúncio foi feito cinco dias após Evo divulgar um relatório sobre seus 14 anos de governo. Evo considera que, juridicamente, continua sendo presidente da Bolívia, pois a Assembleia Legislativa ainda não aprovou sua carta de renúncia.

Choquehuanca, que é aimará como Evo e foi o rosto indígena da diplomacia do governo, havia se afastado do gabinete ministerial nos últimos anos.

O ex-presidente apresentou sua carta de renúncia em 10 de novembro após perder o apoio da polícia e das Forças Armadas em meio a protestos pela suposta fraude eleitoral que lhe havia dado um quarto mandato.

Após sua demissão, a então senadora Jeanine Áñez se proclamou presidente e anulou o resultado das eleições presidenciais, que na segunda contagem havia dado vitória a Evo. O ex-presidente assegurou que foi vítima de um golpe de Estado e se refugiou inicialmente no México.

Depois, ele se mudou para a Argentina, atualmente controlada por um governo de centro-esquerda, onde costuma fazer declarações políticas, apesar da proibição.

Estadão Conteúdo
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