Foto: Anderson Riedel/PR
O ministro da Saúde é um anteparo aos delírios do presidente, ao passo que Guedes é um Bolsonaro com curso superior 16 de abril de 2020 | 08:13

É Paulo Guedes que precisa sair, não Mandetta, por Raul Monteiro*

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Para um mestre do diversionismo, nada melhor do que uma boa polêmica em torno da demissão ou manutenção do ministro da Saúde em plena pandemia do coronavírus para que, de repente, o país esqueça das medidas que o governo deveria estar tomando para manter a atividade econômica em níveis minimamente razoáveis em tempos bicudos de quarentena. A bem da verdade, o governo enviou ao Congresso uma proposta de ajuda a trabalhadores informais, originalmente de R$ 200, felizmente transformada depois, no Congresso, no chamado coronavoucher de R$ 600, a ser pago por dois meses, para um time gigantesco da força de trabalho nacional.

Também, depois de muita pressão, encaminhou um projeto de socorro emergencial a Estados e municípios que, alterado na Câmara por absoluta falta de articulação e coordenação políticas do governo, resultou num arranjo que, justificadamente, desesperou a equipe econômica, principalmente por não estabelecer contrapartidas aos entes federativos que receberão sua espécie de seguro para a queda da arrecadação tributária, fonte de sustentação financeira de Estados e municípios que deverá afundar com o paradeiro da economia em decorrência das medidas de restrição social.

No entanto, uma sobrevoada sobre o que deveriam ser as iniciativas do governo para minorar o sofrimento de quem depende do que ganha no dia para comer e atenuar a iminência de uma quebradeira geral cuja recuperação será tão tortuosa quanto difícil confirma a tese de que as duas únicas ideias que o presidente da República consegue articular para ofertar à sociedade neste momento é de que leve vida normal, como se o vírus não existisse e nem fosse mortal para muito mais gente do que as localizadas nos chamados grupos de risco, como as estatíscas mostram, e não esqueça da cloroquina, que ele transformou numa espécie de panacéia.

Mas se Bolsonaro nunca negou sua mais completa ignorância sobre Economia, embora não se supusesse que a lacuna fosse tão radicalmente qualificada, seu ministro da área tinha a obrigação de estar pensando não só em mecanismos para enfrentar a crise por meio de uma necessária e perigosa, ainda que com todas as salvaguardas, expansão do Estado neste momento, bem como em meios para fazê-lo recontrair mais adiante, quando essa crise finalmente se dissipar. Difícil, no entanto, acreditar na capacidade de Guedes para tanto num país em que até o orçamento de guerra para enfrentar a crise foi proposto pelo Legislativo.

Na verdade, o ministro está muito aquém dos desafios que o momento histórico impõe ao Brasil no plano econômico. Uma inadequação que fica ainda mais evidente quando economistas muito mais tarimbados que ele na seara pública, e nem por isso menos liberais, se referem a iniciativas como o New Deal, nos Estados Unidos, ou mesmo ao Plano Marshal, de reconstrução da europa no pós-guerra, para enfatizar o esforço que tanto o Brasil quanto outros países terão que fazer para aguentar o tranco da pandemia, o que, no caso brasileiro, demandaria muitas cabeças pensando ao mesmo tempo, lideradas por alguém que, evidentemente, o ministro já provou não ser ele.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

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