26 abril 2024
Os bairros de Salvador com maior risco para disseminação do novo coronavírus, em razão da circulação das pessoas e de aspectos socioeconômicos, foram identificados em um estudo realizado pelo grupo GeoCombate Covid-19 BA, que conta com a participação de professores de diversas unidades da UFBA. Sobre o assunto, o grupo apresentou uma nota técnica na segunda-feira, 30 de março.
A análise levou em conta a dinâmica dos fluxos de indivíduos no município de Salvador; a atual distribuição espacial dos casos de Covid-19; índices de desenvolvimento humano municipal de cada bairro; densidade ocupacional domiciliar (quantidade de indivíduos que vivem em cada cômodo); e o risco associado ao abastecimento de água e esgotamento sanitário inadequados.
Entres os bairros que mais preocupam os pesquisadores estão Tororó, Vila Canária, Santa Cruz, Pirajá, Nova Constituinte, Santa Luzia, Boa Vista de São Caetano e Sussuarana. Uma série de mapas foi elaborada para classificar as regiões com maior vulnerabilidade à expansão da doença em relação a cada um dos fatores avaliados, com uma classificação de risco que vai de muito baixo até muito alto. Os bairros citados aparecem em posições críticas nos rankings destes índices.
O professor Jorge Ubirajara, do departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica da UFBA, revela preocupação com o potencial de expansão do vírus nos bairros periféricos e mais populosos. As viagens fixas, como é o exemplo dos profissionais que precisam se deslocar de suas casas para o trabalho, podem favorecer a disseminação da doença para áreas onde é menor a capacidade de reação à pandemia. “Muitos bairros não têm condições básicas para enfrentar essa crise”, adverte.
“As informações apresentadas pelo estudo devem contribuir com as ações dos poderes públicos e definir áreas prioritárias”, afirma Ubirajara, que acredita que as informações produzidas podem ajudar a diminuir a janela de tempo entre novas contaminações e as respostas dos poderes públicos.
Os dados fornecem embasamento técnico para orientar medidas como a definição de locais para aplicação de testes, monitoramento de casos e isolamento de indivíduos fora de suas residências nas situações em que a alta densidade domiciliar inviabiliza a quarentena doméstica. Essa gestão territorial é mais uma ferramenta que poderá ser adotada para salvar vidas, salienta o pesquisador.
O professor ressalta a importância do isolamento social nesse momento, bem como a necessidade do auxílio financeiro governamental para que as pessoas que assim o necessitem possam cumprir as orientações das autoridades de saúde e tenham condições materiais de permanecer em casa. Por fim, Ubirajara cita tecnologias já adotadas em outros países, como o monitoramento do fluxo de pessoas através dos sinais de seus telefones celulares, que devem ser consideradas.
Foram levadas em consideração para o estudo as informações do Governo do Estado da Bahia acerca da distribuição de viagens na Pesquisa Origem-Destino (OD) e os dados da Secretaria Municipal de Saúde sobre a espacialização dos casos por bairro. Também foram avaliados o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), o Índice de Vulnerabilidade Social, a densidade habitacional (medida pela proporção da população vivendo em domicílios com mais de dois indivíduos por cômodo) e a proporção de domicílios com abastecimento de água e esgotamento sanitários inadequados. Esses indicadores foram extraídos diretamente do Atlas da Vulnerabilidade Social, de iniciativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), baseado em dados do Censo Demográfico de 2010.