Foto: Reprodução Globo News/Arquivo
Presidente Jair Bolsonaro se envolve em polêmicas para além do que parece razoável 02 de abril de 2020 | 11:24

Um problema de saúde de domínio público, por Raul Monteiro*

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O problema de Jair Bolsonaro não é político. É de saúde. E não é físico, já que ele se diz atleta. Quanto mais cedo seus adversários, mas principalmente seus aliados, compreenderem o detalhe e pararem os primeiros de provocá-lo e os segundos de acompanhar suas sandices acriticamente, dando-lhe limites claros, melhor para ele, para seus filhos, todos afetados pelo problema, e naturalmente para o país, cuja ficha já caiu com relação a estar absolutamente subrepresentado politicamente para enfrentar talvez a maior crise de sua história, embora ela seja também mundial.

Não há explicação plausível para um presidente da República se tornar motivo de avacalhação internacional por lutar contra a orientação das mais destacadas autoridades de saúde do mundo com relação às medidas necessárias ao combate de uma pandemia. Assim como não faz sentido que, um mês depois do primeiro caso de contaminação no país, ao fazer um pronunciamento indicando uma melhora de sua compreensão pessoal da doença, em cadeia de rádio e TV, ele volte atrás no dia seguinte, praticamente desdiga o que afirmou e se disponha a empreender nova e desgastante briga com os governadores, grandes responsáveis pelo isolamento social no pais.

Pior do que isso, que o presidente da República Federativa do Brasil, no mesmo dia, publique, e depois retire, de suas redes sociais, um vídeo denunciando o risco de desabastecimento por causa das medidas de contenção e confinamento, reforçando as suspeitas de que pode estar por trás da ameaça aos governadores de uma paralisação anunciada por caminhoneiros, uma categoria que já travou o país no mês de maio de 2018 com o seu apoio e de outros que trabalharam em sua pré-campanha, impondo um prejuízo econômico do qual a Nação, na época, demorou a se recuperar.

A atitude do presidente não pode ser sequer comparada à de uma criança mimada e renitente, expressão que poderia ser aplicada facilmente no mundo adulto da política a alguém sem responsabilidade, que brinca com a vida dos outros, porque o mais provável é que realmente provenha de uma limitação muito mais séria do que a percebida até agora. Como não podem ter nem possuem expertise em psicologia, as instituições, esses entes impessoais, únicos capazes de enfrentar o executivo no jogo político, vão aos poucos enlouquecendo, ao descobrir sua incapacidade para administrar Bolsonaro.

Porém, como estados mentais desta natureza dependem de terapia e, só nos casos mais leves, do auto-interesse em buscar ajuda, seus principais representantes terão que procurar auxílio imediato para lidar com a situação, que tende a piorar à medida que o coronavírus se alastre no país, exigindo cada vez mais tirocínio, habilidade e liderança para enfrentá-lo e o desastre econômico que advirá. O aconselhamento imediato com profissionais é a saída. Eles dispõem normalmente de um arsenal para lidar com tipos assim, que, sem contenção adequada, podem levar situações ao extremo além de, à insanidade, os seres mais equilibrados.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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