Foto: Dida Sampaio/Estadão/Arquivo
Deputado federal Arthur Maia, do DEM: chocado com o fato de a pandemia não ter comparecido à reunião ministerial de Bolsonaro 24 de maio de 2020 | 11:10

Está na hora de o setor público, como o privado já faz, dar o exemplo para enfrentar a crise, diz Arthur Maia em entrevista exclusiva

exclusivas

O deputado federal Arthur Maia (DEM) está convencido de que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) perdeu substância política por causa da sua posição em relação à pandemia do coronavírus, na qual tentou separar a proteção da vida das pessoas da defesa da atividade econômica.

Ele avalia que o governo padece de um problema grave de gestão e atribui aos traumas com a administração econômica do PT o endeusamento que o mercado faz do ministro Paulo Guedes (Economia), uma figura que, para ele, tem tido um desempenho muito aquém do esperado.

Maia falou ao Política Livre na última sexta-feira, dia em que veio a público o vídeo da inusitada reunião ministerial, e defendeu a destinação de recursos dos fundos eleitoral e partidário para enfrentar a crise, além do corte de salários de servidores, deputados, ministros e do presidente.

Sobre as eleições municipais, prevê seu adiamento e diz não ver como o candidato do prefeito ACM Neto (DEM) em Salvador, Bruno Reis (DEM), não vencer as eleições em primeiro turno, independentemente do adversário. Confira os principais trechos do bate-papo:

P – Apesar da péssima fama, o Centrão tem fama de que entrega o que promete. O presidente Bolsonaro pode se sentir seguro incorporando o grupo à administração depois de quase um ano e meio de governo?

R – De forma nenhuma. Eu penso que o Centrão, da mesma forma que desembarcou do governo da Dilma (Rousseff), desembarcará de qualquer outro que a circunstância assim indicar. Eu penso que foi uma ação equivocada que o presidente Jair Bolsonaro fez em julgar que ele vai conseguir uma blindagem através do apoio do Centrão. Porque com esta manobra ele joga fora a parte boa da política que ele vinha fazendo. Porque eu sempre disse o seguinte: o governo Bolsonaro, em relação à política, tem uma parte boa e uma parte ruim. A parte ruim é a falta de interlocução com o Congresso Nacional, a falta de diálogo, de entendimento, com frases estapafúrdias que muitas vezes são colocadas. Agora, a parte boa do governo Bolsonaro em relação à política foi ele ter conseguido compor como compôs um ministério sem lotear os ministérios. Ele de fato conseguiu fazer um ministério, colocar pessoas qualificadas, um bom ministério, sem ouvir partido político nenhum e isso poderia parecer no passado que era impossível de ser feito, porque todos os presidentes estavam habituados a fazer este loteamento. Ele não loteou, colocou um bom ministério e começou a governar. E agora o ‘toma lá dá cá’ ele incorpora ao governo dele. Então, ele joga fora o legado que ele tinha até aqui, que foi a independência do presidente para poder governar o Brasil.

P – Agora, embora a gente reconheça a característica fisiológica dos partidos do Centrão, por causa desse caos gerencial que o país vive, o senhor não acredita que o Centrão ajude a melhorar a qualidade da gestão?

R – Se a gente entender deste jeito, nós temos que interpretar de uma forma que me parece equivocada, porque se julgarmos que a deficiência do governo Bolsonaro decorre da falta de apoio no Congresso, no Poder Legislativo, nós com certeza estamos incorrendo num imenso equívoco, porque praticamente tudo aquilo que foi enviado para o Congresso foi aprovado. O que não foi aprovado de Medidas Provisórias são pontos absurdos em relação a armas, flexibilização absoluta de posições em relação ao Meio Ambiente, coisas desse tipo, demarcação de terras indígenas, mas, fora esses extremos, tudo aquilo que foi mandado para o Congresso foi aprovado. O governo Bolsonaro até agora só enviou para o Congresso uma reforma estruturante. Na verdade, quase que copiada integralmente do governo Temer, que foi a reforma da Previdência, que foi aprovada. Agora, fora isso o governo não teve capacidade em um ano e cinco meses de mandar nenhuma proposta de reforma para o Congresso. Então, culpar o Legislativo é um absurdo. O problema do governo Bolsonaro é a falta de gestão. É a falta de um rumo, de um caminho, o presidente da República e seu ministério não apontam caminhos. Veja você que, passados um ano e cinco meses, não chegou na Câmara a reforma tributária, que todo mundo reconhece que é uma necessidade, não chegou na Câmara a reforma administrativa, cuja necessidade também todo mundo reconhece, e enquanto isso o governo se perde em discussões absolutamente inusitadas, em polêmicas absolutamente desnecessárias para o Brasil, então eu realmente não considero que as dificuldades do governo decorram de uma falta de apoio no Legislativo. Pelo contrário, o Legislativo, diferentemente até de todos os governos anteriores, contribui de maneira muito correta para o êxito do governo.

P – Quando o senhor fala da ausência de um plano para o país, inclusive, da demora do governo em propor reformas estruturantes, o senhor está se referindo a alguma dificuldade do superministro Paulo Guedes (Economia)? É o ministro Paulo Guedes que talvez seja a maior trava no processo de formulação do governo?

R – Olha, não tenho dúvida de que o ministro Paulo Guedes até agora tem tido um desempenho muito aquém daquilo que se imaginava para uma personalidade que chegou a Brasília como sendo um grande reformista. Porque, na minha visão, Paulo Guedes não tem, de fato, uma concepção de país, ele é um homem estritamente voltado para o mercado e é um banqueiro do tipo especulador, porque a gente tem um banqueiro como o dono do Itaú, do Bradesco, que são bancos que patrocinam crédito e isso é necessário em qualquer país do planeta. Paulo Guedes não é esse tipo de banqueiro, ele é o banqueiro da base da especulação, o sujeito que aplica aqui hoje 10 para pegar 100 amanhã. E essa posição ultra-liberal do Paulo Guedes talvez impeça que ele tenha uma noção de país e de estruturação de um país que possa, de fato, se desenvolver, porque não adianta você apenas pregar o Estado mínimo em um país complexo e com tantas diferenças como o Brasil. É preciso mais que isso. Eu repito: eu estou disposto a mudar de opinião, desde que alguém me apresente qual é a obra de Paulo Guedes, o que Paulo Guedes de fato encaminhou concretamente de contribuição para transformar o país. Não fez absolutamente nada. Pelo contrário, nós tivemos no passado, no primeiro ano do governo, nós tivemos um resultado do Produto Interno Bruto (PIB) nulo, menor do que o do último ano do governo Michel Temer e esse ano, tudo bem, tem as dificuldades aí do coronavírus, sabemos que é uma pandemia que vai ter um reflexo mundial, ora, a minha preocupação é a seguinte: se no ano passado, eles não conseguiram avançar em nada, este ano, que é o ano em que o mundo e, consequentemente o Brasil, está passando por este trauma do coronavírus, ano que vem a gente sabe que vai ser um ano dificílimo do ponto de vista econômico, por conta dessa pandemia, estamos imaginando aí que o Brasil perderá algo em torno de 8% do seu PIB, o que significará um aumento muito forte do nível do desemprego, e no outro ano já é a eleição, então essa situação do ministro da Economia, que até agora não apresentou um projeto para o Brasil, realmente faz com que as coisas fiquem muito difíceis.

P – O que explica, portanto, esse encanto da classe empresarial e do mercado em relação a Paulo Guedes?

R – Na minha opinião, é uma relação um tanto freudiana. Só pode ser isso. A não ser que a gente possa admitir que seja – hoje o politicamente correto não permitiria isso -, mas, no passado, eu sou dessa fase, quando uma criança fazia alguma coisa errada e a babá queria que fizesse certo ela dizia: eu vou chamar o bicho papão. E hoje o empresariado brasileiro continua com receio do bicho papão que é o PT. E parece, a impressão que eu tenho, é que o empresariado fechou os olhos para o fato de que existe vida após Bolsonaro, que Bolsonaro cumpriu um papel histórico importantíssimo, mas que o fato de não desejarmos algo tão pobre como a gestão de Paulo Guedes não significa que o PT vai voltar, se não for o Bolsonaro ou se não for o Paulo Guedes. Então, eu penso que o empresariado, com uma certa razão, porque sofreu muito com a política do PT, mas neste momento este encantamento decorre, na minha forma de entender, muito mais de uma expectativa do que da realidade, do mundo real.

P – Desde que surgiu a pandemia, o presidente fez uma clivagem entre economia e vidas no país. O senhor acha que o presidente conseguirá colocar a responsabilidade pelo caos econômico causado pela pandemia em governadores e prefeitos?

R – Eu penso que não. Porque a gente já vê que a população não está apoiando o discurso do presidente da República. A prova disso são as pesquisas de opinião pública. O presidente Bolsonaro optou por um caminho solo, em que só estão caminhando por este caminho ele e o presidente americano, Donald Trump, mas o Trump com muito mais sofisticação e com uma fala em que ele tenta conciliar a preocupação econômica com uma atitude de preservação de vidas. O presidente Bolsonaro tem uma postura muito mais franca a favor do fim do isolamento social, da reabertura da economia. Mas obviamente imaginar que isso vai trazer para ele uma popularidade diante do que estamos vivendo eu acho muito difícil. Eu acho que as pessoas estão vendo a gravidade do problema. Há um convencimento das pessoas de que nós temos vivido uma pandemia muito perigosa, que tem matado mais de mil pessoas por dia neste país e as pessoas de fato acreditam que o caminho proposto pela ciência é muito mais razoável do que a negação da ciência. Eu tenho visto as pessoas usarem máscaras, estarem de fato preocupadas, não creio que este esforço (do presidente de se livrar da responsabilidade de enfrentar a pandemia) vá no futuro trazer nenhum benefício. E a prova disso é que todos os líderes – sejam em outros Estados ou outros países – que têm defendido a população com os cuidados propostos pela Organização Mundial da Saúde, pela ciência de uma forma geral, têm crescido, enquanto Bolsonaro tem perdido substância política com o discurso dele contra a ciência.

P – Nós estamos conversando hoje exatamente no dia em que o ministro Celso de Mello, do STF, libera o vídeo da famosa reunião em que, segundo o ex-ministro Sérgio Moro (Justiça), o presidente tinha manifestado interesse em interferir na Polícia Federal. E as primeiras imagens desse vídeo são do presidente xingando, dizendo que tem que armar a população, ministros atacando o STF, enfim, o senhor acha que há clima hoje para o impeachment de Bolsonaro?

R – Eu francamente espero que não, torço para que isto não aconteça porque eu não conheço o exemplo de uma democracia que faz dois impeachments em dois mandatos seguidos. Isso é a própria negação da democracia. Agora, é lamentável, sabe, que nessa reunião, afora esta questão da Polícia Federal e não assisti de fato para ver se há menção ou não à Polícia Federal, mas o que acho realmente dramático e que virá à tona na divulgação do vídeo dessa reunião é a ausência do tema pandemia. A ausência do tema mais importante para o Brasil e para o mundo que é justamente o combate ao coronavírus. Isso é o que efetivamente nos assusta profundamente. Quando eu vejo o presidente Bolsonaro discutindo questões referentes à troca da Polícia Federal no Rio de Janeiro ou outros assuntos, como ele faz, de maneira repetida, às portas do Palácio da Alvorada, naquele confronto que ele faz permanentemente com jornalistas, absolutamente impróprio para o presidente da República, veja vocês que o tema que está sendo colocado, nunca é uma fala do presidente apontando caminhos para combater a pandemia, nunca é assim. O que nós vemos de maneira reiterada é o confronto, é a sugestão de confrontar a ciência, são sugestões de mudança na Polícia Federal que geraram uma crise política tremenda, a demissão de Sérgio Moro. O que me assusta neste momento é a ausência de um debate voltado para o tema pandemia nas atitudes que o governo assume neste momento.

P – A despeito deste cenário a gente não tem visto surgir no país uma oposição que efetivamente gere uma esperança de superação deste governo. Por que não surgiu ainda uma liderança capaz de confrontar, no nível que é necessário, o presidente?

R – A impressão que eu tenho, falando do ponto de vista mesmo da reflexão política, é que nós perdemos uma referência. O PT fez um governo que foi condenado pela população. E saiu do governo muito negativo. Mas existiam outros candidatos anti-petistas, mas quem venceu foi Bolsonaro, que incorporou no seu discurso, além do anti-petismo, que era uma fala muito forte na população, a fala contra o politicamente correto, que começou a ser interpretado de uma maneira muito nociva pelo PT ao longo do governo. É aquela ideia de que o bandido tem mais direitos do que o policial, ideia de levar para as escolas a idéia de que menino e menina nascem sem um sexo definido e que lá adiante é que vão poder escolher o que são, essa questão da ideologia de gênero que chocou e ainda choca profundamente a sociedade, é a flexibilização do direito de propriedade, que foi algo que o PT trouxe ao permitir invasões de terra, ao criar uma série de embates, embaraços ao direito de propriedade, sobretudo no campo, com base na transformação da bandeira do meio ambiente em um bastão ideológico, então todas estas ações do politicamente correto, que passou a ser um palavrão para a sociedade, isso de fato irritou muito as pessoas, provocou muito a sociedade e esse foi o grande galardão do Bolsonaro, porque foi o único candidato que associou estas duas posições – o anti-petismo e o anti-politicamente correto. Então, nós estamos ainda em um começo do governo, isso é que é dramático, então nós tivemos o fim da era do PT, com a vitória do Bolsonaro, o início do governo Bolsonaro, a expectativa de que esse governo desse certo e agora nós vemos o governo viver a cada dia que passa um desgaste maior, eu penso que daqui para frente você começa a pensar em alternativas do que possa suceder o que está aí posto. Seria o pós-verdade. Esse debate necessariamente tem que surgir, eu espero que se dilua na sociedade aquilo que Fernando Henrique (Cardoso, ex-presidente do Brasil) depois da eleição, disse que não havia naquele momento nós pós-eleição PT versus Bolsonaro, não havia espaço para os moderados. É preciso que volte a haver espaço para a moderação e volte a haver espaço para que as pessoas voltem a dialogar, sem ofensas, sem xingamentos, sem radicalismo, com base no argumento, porque o debate proposto pela esquerda contra o bolsonarismo é o debate do ódio, que não tem argumento, e isso de fato leva o país para uma situação de cegueira política e isso não é bom. Mas eu tenho a esperança de que nós possamos de fato retornar com o discurso que traga a moderação como tema central de um caminho que nós possamos tomar.

P – Agora, deputado, no mesmo dia em que é divulgado o vídeo da reunião, o ministro Augusto Heleno, do gabinete de Segurança Institucional, solta uma nota se insurgindo, inclusive fazendo uma espécie de ameaça velada à democracia, contra a entrega do celular do presidente da República ao ministro Celso de Mello. O senhor acha que o presidente se entricheira no Palácio do Planalto com um número cada vez maior de militares exatamente para tentar se manter no poder a qualquer custo?

R – Em primeiro lugar, eu penso que, apesar de haver muitos militares no governo, os representantes militares não apostam numa intervenção militar. Veja que o Bolsonaro, quando fez algum discurso nesta direção, ato contínuo foi desmentido por militares de alta patente, que deixaram claro que o Exército não vai agir no sentido de uma quebra institucional. Essa é a primeira coisa. A segunda é que é preciso que o governo pare com estas ameaças. Porque o Brasil não vai se curvar a isso. O Brasil é um país que tem poderes constituídos, um Legislativo, um Judiciário, tem a imprensa, tem uma massa crítica muito grande, o Brasil é uma das maiores democracias do mundo, nós não vamos nos curvar a ameaças nem do presidente da República, seja ele quem quer que seja, nem de ministro nenhum. De fato, quem cria um ato de ofensa ao equilíbrio institucional é um ministro de Estado quando fala contra uma eventual decisão que um ministro do Supremo tomará ou não. Se o general Heleno acha que como esta fala ele vai conduzir um ministro do STF a decidir não sob a égide da lei, mas em função de sua fala, eu acho que a democracia já acabou em nosso país. Mas eu posso dizer que o general está errado. A democracia é muito mais forte do que essas frases, estes rompantes que não têm nenhuma força para mudar a decisão que um ministro de Estado, do STF, que efetivamente haverá de tomar de acordo com a lei.

P – O ministro Paulo Guedes tem feito uma campanha contra o aumento dos servidores. Claro que a gente imagina que não é razoável aplicar aumento neste momento. Mas o senhor também não acha que, numa crise dessas, os políticos poderiam inaugurar o exemplo, abrindo mão dos fundos partidário e eleitoral, que movimentam bilhões?

R – Eu não tenho dúvida nenhuma disso. Eu inclusive tenho me manifestado nesta posição, há um projeto para ser votado e eu tenho reiteradas vezes pedido ao presidente da Câmara que submeta esse projeto a votação. Eu acho que em relação ao fundo partidário é razoável se reservar algum dinheiro para fazer a campanha, porque nós proibimos a doação privada, então é necessário você ter alguma coisa, agora, claro que, diante de uma pandemia, poderíamos cortar o que está lá pela metade, por exemplo, até mais da metade, fazer uma campanha módica, mais pobre e modesta e direcionar recursos para o combate ao coronavírus. Claro que sim, eu apoio integralmente, tenho, inclusive, solicitado ao presidente da Câmara que coloque esse projeto que está lá em votação. A outra coisa diz respeito aos salários dos servidores. Eu não acho que deva ser só evitado o aumento. Acho que tem que ter um corte no salário dos servidores públicos, dos deputados, dos ministros, do presidente. Cada um responde pela sua posição. Quem quer votar a favor, vote, quem quiser votar contra, vote. Agora, o presidente Rodrigo Maia tem a obrigação de colocar em votação este projeto e decidir com clareza a respeito desse assunto que de fato toca a todos nós. Se nós estamos vendo que, na iniciativa privada, as pessoas estão repactuando, diminuindo os salários. Eu, por exemplo, sou relator agora da MP 925, que trata do socorro às empresas aéreas. Imagine você que todos os aeronautas fizeram um acordo com as aéreas nos seguintes termos: a partir desse mês eles não têm mais salário para não serem demitidos. Os salários foram suspensos, o contrato foi suspenso – pilotos, aeromoças, etc. estão sem receber salário, porque a empresa aérea não tem como voltar, eles têm que pagar os salários e quando a crise passar, os aviões voltarem a voar, eles vão voltar a trabalhar, toparam esta pactuação. Eu estou citando o exemplo dos aeroviários, mas isto está acontecendo com todos os setores da vida privada. Esse país precisa deixar de ser um país com dois mundos diferentes – com o mundo real, da iniciativa privada, e o mundo paralelo, virtual, que não está conectado com a realidade, que é o setor público, portanto, tem que haver o congelamento dos salários. Tem que haver agora a redução do salário dos servidores públicos, em função da pandemia que nós estamos vivendo.

P – E a campanha municipal, deputado? O senhor está no interior da Bahia, em sua cidade, Bom Jesus da Lapa. É fato que a campanha não iniciou ou tem percebido algum tipo de movimento para as eleições municipais no interior?

R – Acho que as eleições estão muito na fase da articulação, mas, mesmo assim, limitada, em virtude da pandemia. Agora, obviamente, que vai ter que ter eleição este ano. É inconstitucional eu voltar em prorrogação de mandato, porque isso é cláusula pétrea da Constituição. Eu, nem qualquer deputado que está aí, não pode prorrogar mandato de quem quer que seja. Então, não há em que se falar de prorrogação de mandato. O que pode acontecer é nós termos um adiamento da data, do dia da eleição, passar para 15 de novembro ou seis de dezembro, isso é possível.

P – O DEM em Salvador ganha no primeiro turno?

R – Eu creio que a candidatura de Bruno Reis expressa realmente o sucesso do que foi e é a gestão de ACM Neto, o melhor prefeito do Brasil, que vem fazendo uma gestão reconhecidamente bem sucedida e a gente sente realmente na cidade um desejo muito forte de que esse trabalho não páre, continue e, portanto, eu acredito que o nosso partido, que escolheu um bom candidato, vai sim fazer a eleição de Bruno no primeiro turno.

P – Em sua avaliação, o principal adversário de Bruno em Salvador é o governador Rui Costa, o Pastor Isidório ou a major Denice Santiago?

R – O governador Rui Costa está bem avaliado. Eu, que ando pelo interior, me questiono por que. Não vejo nada de obras importantes do governador. Mas ele é um governador bem avaliado mas não é o candidato. Ao passo que a gente vê, em ACM Neto e Bruno, a continuação de um trabalho que todos nós desejamos ver continuar. De fato, eu creio que o Bruno não vai ter um candidato capaz de fazer frente para levar a eleição para o segundo turno. Eu acho que de fato ele ganhará no primeiro turno, independentemente de qualquer outro candidato que seja lançado.

P – Essa pandemia muda mesmo a forma de fazer política no Brasil?

R – Eu não tenho dúvida que vai mudar toda a nossa vida de forma profunda. A pandemia traz uma incorporação de hábitos, como, por exemplo, o trabalho virtual, as relações mais virtuais, a política se transformará numa atividade mais virtual. Eu estava vendo estes dias uma entrevista com o prefeito de Londres e ele dizendo sobre uma série de medidas que a própria cidade está tomando, como diminuir a área de circulação de transporte público, onde você tem um contato mais próximo, e criar novas ciclovias. Isso é um exemplo, claro, que talvez não se adapte a Salvador, que é uma cidade de difícil circulação de bicicletas, porque tem muita ladeira, etc., mas o fato concreto é que, em todos os setores da vida humana, nós teremos uma transformação grande a partir desta pandemia. Uma coisa é certa: a pandemia vai passar. Eu andei pesquisando muito ultimamente sobre o que foi a gripe espanhola, que aconteceu exatamente há 102 anos atrás, e foram dois anos. Há quem diga que a gripe espanhola chegou a matar 100 milhões de pessoas, variam os cálculos de 17 milhões a 100 milhões, o coronavírus não chega nem perto disso. Até agora, em uma população muito maior do que tínhamos a 100 anos atrás, o coronavírus matou muita gente, mas matou 300 mil pessoas, portanto, percentualmente, menos que a gripe espanhola. Quando ela veio, não havia os avanços da ciência que há hoje. Então, eu pessoalmente tenho certeza de que, para o final do ano, nós teremos um remédio e uma vacina já para a epidemia. Não sei em quanto tempo nós poderemos imunizar com essa vacina as pessoas, mas haverá uma imunização. Mas está claro que se nós tivemos uma gripe espanhola em 1918, passamos muito tempo sem ter e depois tivemos o H1N1, que foi muito sério e agora veio de novo outra pandemia, então é possível que a gente esteja vivendo um momento em que haja uma diminuição dos intervalos entre as pandemias e, portanto, é preciso que a gente tenha que ter uma preocupação maior com modelos de convivência que nos permitam nos precavermos mais.

Raul Monteiro
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