Foto: Divulgação/Arquivo
Targino e Geilson na coletiva virtual em que o primeiro anunciou apoio ao segundo 06 de agosto de 2020 | 09:08

A reviravolta na política de Feira de Santana, por Raul Monteiro*

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Líder do DEM na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Targino Machado fez um movimento ousado esta semana em Feira de Santana, ao anunciar apoio à candidatura do ex-deputado Carlos Geilson (Podemos) à Prefeitura da cidade. Ao justificar a decisão, disse que havia sido escanteado pelo seu partido, que o impediu de entrar na disputa e é comandando na cidade pelo ex-prefeito Zé Ronaldo, cujo candidato é o atual prefeito Colbert Martins Filho (MDB), vice que assumiu o comando da Prefeitura quando ele decidiu concorrer ao governo da Bahia e foi derrotado, nas eleições estaduais passadas.

Assim como Colbert e Targino, Geilson também descende do tronco comum ronaldista em que a política moderna feirense está assentada. Foi também prevendo a naturalidade da candidatura do emedebista na sucessão municipal deste ano que o ex-deputado do Podemos resolveu deixar o grupo de Ronaldo e se amigar com o governador Rui Costa (PT) passada a disputa eleitoral de 2018, quando também foi derrotado na tentativa de se reeleger à Assembleia. Então, achava que poderia se tornar uma alternativa para o governador ao nome do deputado federal Zé Neto, do PT, nestas eleições em Feira.

Geilson estava enganado. Como ninguém nunca duvidou no PT, Zé Neto permaneceu candidatíssimo e com o apoio manifesto de Rui na cidade. Por isso, o ex-parlamentar do Podemos deixou, no prazo de desincompatibilização, o cargo de pouca expressão com que Rui havia lhe compensado pela adesão ao seu grupo e marchou rumo a Feira ainda sozinho. O encontro com Targino, no entanto, acabou com sua situação de abandono para reprojetá-lo para uma situação de competitividade com que muitos não contavam na Princezinha do Sertão, onde se acredita que o impacto negativo da união entre os dois será maior sobre o candidato de Rui.

A ponto de se afirmar, entre aqueles que conhecem a política feirense, que a aliança celebrada entre eles sugere, embora não assegure, que o segundo turno pode se tornar uma realidade na cidade, colocando, provavelmente, o representante do Podemos e o prefeito Colbert como os dois principais adversários na segunda etapa das eleições municipais. É uma conjectura, na qual os apoiadores de Zé Neto, entre eles o governador baiano, não acreditam, sob o argumento de que, repartido entre Targino e Zé Ronaldo, o DEM de Feira chegará às eleições enfraquecido, levando a que Zé Neto sobreviva e pegue pela frente, provavelmente, o prefeito.

Certo de que deu o tiro na mosca, no entanto, Targino passa ao largo das especulações mais pessimistas sobre o candidato que jurou apoiar na coletiva virtual em que anunciou sua decisão e fez várias queixas contra o seu próprio partido. Por seus cálculos, Geilson pode, naturalmente, perder. No entanto, se ganhar, hipótese em que aposta firmemente entre seus colegas de Assembleia, ele ascenderá como o novo interlocutor do prefeito ACM Neto na cidade, desbancando anos de hegemonia ronaldista no município. Neste caso, iria, naturalmente, para um outro partido, porque do DEM, nem com Geilson ganhando ele conseguirá tirar Zé Ronaldo.

* Raul Monteiro é editor da coluna Raio Laser e do site Política Livre e escreve neste espaço às quintas-feiras.

Raul Monteiro*
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