Foto: Marcelo Casal Júnior/Agência Brasil
07 de agosto de 2020 | 10:27

Crise leva a corrida por dinheiro vivo, e moeda em circulação atinge patamar inédito

economia

A pandemia do novo coronavírus gerou uma corrida aos caixas eletrônicos e o aumento da demanda por recursos em espécie levou o Banco Central a lançar uma nota de R$ 200.

Desde o início da crise, em fevereiro, a base monetária, que é a quantidade de dinheiro na economia, cresceu 39,7% e atingiu o maior patamar da série histórica (em 1991), com R$ 423,6 bilhões em julho.

A base é formada pelo papel-moeda em circulação ou depositado nas instituições financeiras, além das reservas bancárias. Ela tem flutuação diária.

No período da pandemia, o volume de dinheiro vivo nas mãos dos brasileiros aumentou 29,8% e chegou a R$ 272,9 bilhões.

Para tentar suprir o aumento da demanda por cédulas, a autoridade monetária imprimiu 33% a mais no período.

Atualmente, são R$ 345,7 bilhões entre notas e moedas em circulação.

A cédula de R$ 200 deverá entrar em circulação no fim de agosto. A previsão é que sejam impressos 450 milhões das novas notas, o equivalente a R$ 90 bilhões.

As reservas bancárias -recursos das instituições depositados na autoridade monetária- também cresceram de lá para cá. Atualmente, são R$ 77,9 bilhões, 77% a mais que em fevereiro.

Historicamente, em momentos de crise, as pessoas preferem guardar dinheiro vivo. “Elas ficam com medo e sacam recursos para guardar. Já tivemos episódios, no passado, de confisco da poupança e quebradeira de bancos, por exemplo, o que gera essa memória de receio”, explicou o economista Paulo Feldmann, professor da USP (Universidade de São Paulo).

Para ele, entretanto, o principal motivo para a expansão da base monetária é o auxílio emergencial. “O pagamento do benefício fez com que a demanda por cédulas aumentasse muito. Muitos não têm conta em banco, então preferem sacar o dinheiro em espécie”, avaliou.

Para contabilizar o dinheiro em posse do público, o BC subtrai da quantidade de papel-moeda emitido o caixa do sistema bancário.

“O comportamento da base se dá em ciclos. Quando olhamos os dados, vemos que no primeiro dia do mês, por exemplo, há aumento da demanda por papel-moeda por causa dos pagamentos dos salários, mas esse dinheiro retorna aos bancos e ao BC com o consumo e quando as pessoas pagam suas contas. O auxílio emergencial quebrou esse ciclo porque não tem dia certo de pagamento”, justificou o economista-chefe da consultoria Análise Econômica, André Galhardo.

Segundo ele, o entesouramento (quando o dinheiro fica parado nas mãos das pessoas e não circula), também forçou o BC a imprimir mais dinheiro.

“Não sabemos quanto tempo vai durar a pandemia. Na tentativa de se resguardar, muitos ficam com os recursos em casa. Investimentos de renda fixa, como poupança, não rendem quase nada mais, o que incentiva esse comportamento também”, analisou.

O entesouramento já era uma preocupação da autoridade monetária antes da crise. Estudos da autarquia mostravam que cerca de 35% do dinheiro disponível na economia estava parado nas mãos dos brasileiros. O fenômeno gerou, em muitas ocasiões, falta de troco no comércio.

Com a pandemia, esse percentual aumentou. No início dos pagamentos do auxílio emergencial, a escassez de papel-moeda travou o benefício e o BC pediu que a Casa da Moeda adiantasse toda a produção contratada para o ano até julho.

Folhapress
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