Foto: Wilton Júnior/Estadão/Arquivo
O ex-presidente da Fecomércio-RJ Orlando Diniz, que chegou a ser preso na Operação Jabuti em 2018, fechou acordo de colaboração com a Lava Jato 09 de setembro de 2020 | 21:45

As revelações do delator que pôs a Lava Jato no encalço dos desvios no Sistema S do Rio

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A Operação E$squema S, deflagrada pela Lava Jato do Rio nesta quarta-feira, 9, teve como ponto de partida informações prestadas pelo ex-presidente da Fecomércio do Rio, Orlando Diniz, em delação premiada firmada com a Justiça. O empresário revelou aos investigadores a existência de uma rede de escritórios de advocacia que teria sido montada para blindá-lo e mantê-lo no cargo após suspeitas de irregularidades em sua gestão.

Os detalhes do caso vieram a público na denúncia, aceita pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, contra 26 pessoas acusadas pelos crimes de tráfico de influência, exploração de prestígio, peculato, estelionato, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Do grupo denunciado, 23 são advogados com currículos importantes e que chegaram a atuar para políticos eleitos a cargos majoritários – a exemplo de Ana Tereza Basilio, que representa judicialmente o governador afastado do Rio Wilson Witzel, Paulo Teixeira e Cristiano Zanin, defensores do ex-presidente Lula, e da procuradora de Justiça de São Paulo Luiza Nagib Eluf. Frederick Wassef, ex-advogado da família Bolsonaro, não foi denunciado, mas teve endereços vasculhados pela Polícia Federal.

Em seu depoimento, Orlando Diniz contou que buscava ‘comprar uma solução política’ e se ‘blindar das consequências dos desvios de recursos que vinham sendo praticados’ por ele próprio não apenas na Fecomércio, mas também no Sesc-RJ e no Senac-RJ. Para isso, ainda em 2012 teria procurado Paulo Teixeira e Cristiano Zanin que, auxiliados pelos também advogados Fernando Hargreaves, Vladimir Spíndola e Ana Basílio, teriam criado uma forma legal de ‘drenar recursos’ das entidades. A estratégia envolveria a elaboração de contratos de fachada firmados com escritórios de advocacia para justificar pagamentos de vantagens indevidas disfarçadas de serviços que, na verdade, não eram prestados ou eram superfaturados. Em 2014, o ex-governador Sérgio Cabral e sua mulher, Adriana Ancelmo, teriam entrado no esquema.

A suspeita é que o lobby dos advogados, que atuariam em troca de pagamentos milionários, teria atuado junto ao atual presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Humberto Martins, ao seu antecessor, ministro Francisco César Asfor Rocha, e ao ministro Aroldo Cedraz, do Tribunal de Contas da União, para garantir a não punição e a permanência de Orlando Diniz no cargo.

Nos três casos, os filhos dos ministros, todos advogados e denunciados, teriam sido beneficiados em contratações pela Federação de Comércio do Rio. Os contratos com o escritório de Eduardo Martins envolveriam R$ 83 milhões, enquanto Caio Rocha teria recebido R$2,6 milhões e Tiago Cedraz obtido pagamentos na ordem de R$13 milhões.

O ‘agenciamento’ de Martins teria ficado a cargo do grupo de Zanin e a negociação com Rocha e Cedraz teria sido viabilizada pelo ex-governador Sérgio Cabral e por sua mulher, Adriana Ancelmo. A investigação apontou que a ex-primeira dama chegou a se encontrar pessoalmente com o ministro César Asfor Rocha em novembro de 2015, ocasião em que, segundo a Lava Jato, se buscava decisão favorável no STJ. Segundo o delator, Cabral também teria chegado a ligar para o ministro Vital do Rêgo, do TCU, para combinar um jantar em que ‘iria tratar do caso do Rio de Janeiro, com foco no SESC e SENAC’.

“Os honorários advocatícios desde os primeiros pagamentos até aqueles relativos à vitória no STJ, foram coordenados por Roberto Teixeira, Cristiano Zanin, Ana Basílio, Eduardo Martins e Adriana Ancelmo, na medida em que foram eles que indicaram os demais escritórios para os quais o colaborador pagou”, diz um trecho da delação de Diniz incluída na denúncia da Lava Jato.

Segundo a força-tarefa, quebras de sigilo fiscal, bancário, telefônico e telemático confirmaram as informações prestadas pelo colaborador. Ainda de acordo com os procuradores, a operação deflagrada hoje investiga o pagamento de outros R$204 milhões e busca reunir elementos que podem ensejar em desdobramentos sobre o caso.

Estadão Conteúdo
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