Foto: Daniel Teixeira/Estadão
13 de setembro de 2020 | 12:30

Demanda surpreende e deve deixar as roupas mais caras no país

economia

Depois das altas dos alimentos e da construção civil nos últimos meses, o consumidor pode se deparar em breve com outro item mais caro no comércio: as roupas.

O preço do algodão subiu no campo, encareceu para a indústria e começa a atingir os produtos têxteis.

As negociações de tecidos para a temporada do outono/inverno de 2021, que começam a ser realizadas agora, já estão sendo feitas em patamares de preços até 40% maiores do que há um ano.O setor, que praticamente paralisou as atividades no início da pandemia, foi pego de surpresa com a volta dos consumidores às compras. Em julho, por exemplo, segundo o IBGE, as vendas de tecidos, vestuário e calçados subiram 25,2% na comparação com o mês anterior. Em 12 meses, porém, o setor ainda registra queda de 19,7%.

Parte da demanda foi impulsionada pelo auxílio emergencial de R$ 600 pago aos mais pobres, que agora será reduzido para R$ 300.

Isso não quer dizer, porém, que as compras de roupas voltarão a cair: a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil) considera haver uma demanda reprimida entre consumidores de maior poder aquisitivo.

Eles gastaram menos nos primeiros meses da crise, fizeram poupança e devem retomar as compras em breve, especialmente com os trabalhadores voltando do home office (quase 10 milhões de brasileiros deixaram o isolamento rigoroso desde julho, segundo o IBGE) e quando as aulas forem retomadas.

O resultado é que os empresários precisaram ir atrás da matéria-prima num momento de algodão caro, poucos insumos disponíveis no mercado e menos oficinas funcionando, já que parte delas não aguentou o pico da crise e fechou as portas.

Essa combinação de fatores é atípica para o setor. Apesar da safra recorde, a arroba do algodão pluma subiu 35% em 12 meses até agosto.

Com o dólar a mais de R$ 5, as exportações são mais vantajosas e há menos produto para o mercado interno, reduzindo a quantidade de algodão disponível para a fiação. A fibra responde por 50% a 60% do custo da fiação.

Fernando Pimentel, presidente da Abit, diz que há ainda defasagem entre a colheita —que praticamente terminou— e o beneficiamento da fibra, que pode causar o que ele considera um “estresse temporário de abastecimento”.
Nas últimas três semanas, o movimento da cadeia produtiva se intensificou. No caso das pequenas confecções, que trabalham sem estoque, o repasse da alta dos preços pode ser praticamente imediato. Mas marcas grandes não estão imunes.

Tito Bessa Jr, da TNG, diz que ter encontrado aumentos de 20% nos preços do tecido, patamar que ele considera inviável.

Na semana passada, Amanda Santos da Silva, gerente-executiva da Ideia Crua, confecção de pequeno porte na zona leste da capital, percorreu dez lojas e fábricas de malhas de algodão no Brás, importante polo têxtil de São Paulo.

Somente três tinham o produto a pronta-entrega. Os preços do quilo da malha vêm subindo a cada visita. Dos R$ 27 pagos há um mês, o tecido estava oscilando entre R$ 43 e R$ 48 na última semana.

Com o aumento na matéria-prima, foi necessário reajustar o preço das camisetas, diz Amanda. A marca anunciou a alta de R$ 3,50 em uma rede social. “Temos um política de comunicação baseada na transparência. Se o algodão voltar cair, vamos voltar para o preço antigo”, diz.

Folha de S.Paulo
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