Foto: Mila Cordeiro
A articulação de Rui Costa só conseguiu atrair um partido da base, o PSB, para apoiar Denice Santiago, do PT, e de última hora 17 de setembro de 2020 | 07:51

Uma articulação marcada pelo amadorismo e a imprevidência, por Raul Monteiro*

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Com o encerramento do prazo para as convenções partidárias, a sucessão municipal deixou ontem o status de pré para assumir a de campanha oficial, que começa no dia 27. São formalmente pelo menos oito candidatos à Prefeitura da primeira capital do Brasil, num leque que vai dos extremos – de esquerda e direita – até ao centro e tem com franco favorito, segundo as pesquisas de opinião, o candidato do prefeito ACM Neto (DEM) à sua sucessão, o democrata Bruno Reis. A campanha, que ganha corpo mesmo, no entanto, com o início da propaganda eleitoral pela TV e rádio, em 9 de outubro, se desenrola sob uma dúvida:

Será decidida em primeiro ou segundo turno? O prefeito ACM Neto (DEM) e o governador Rui Costa (PT), que se enfrentam por meio de seus candidatos, respectivamente, Bruno e Major Denice Santiago (PT), estão também, naturalmente, em lados opostos no quesito. Enquanto o primeiro garante que a disputa se revolverá no primeiro turno, prometendo todo o esforço para que assim seja, o segundo labuta, com todas as forças, para a realização do segundo, onde acredita que poderá colocar sua candidata. Reflexo do bate-cabeça que marcou a articulação política do governo com relação à sucessão.

Rui entrou muito tarde na campanha, depois de flertar com um projeto gestado por aliados e auxiliares que, invocando a necessidade de que não sofresse abalos no processo eleitoral num momento de profundo desgaste do PT – a fim de resguardar-se para um eventual vôo presidencial -, previa o lançamento da candidatura do presidente do Esporte Clube Bahia, Guilherme Bellintani, à Prefeitura por um partido da base. Então, a idéia era que a hoje candidata do PT, major Denice Santiago, fosse apenas sua companheira de chapa como vice – o outro nome sondado foi o da famosa apresentadora Rita Batista, que não topou.

Mas nesse meio tempo o ex-presidente Lula, maior ícone e líder do petismo, foi solto, Rui não deu as garantias que o outsider Bellintani exigia – o que jogou por terra tudo o que havia sido construído para a sua candidatura com o apoio, entre outros, do senador Jaques Wagner -, e resolveu apostar no nome da militar como um projeto exclusivamente seu. Com pouca disposição e nenhuma aptidão para a negociação política, o governador deixou a pré-campanha ‘rolar’ na expectativa de que os partidos da base se unissem por gravidade a ela por ser sua candidata, o que, naturalmente, não aconteceu.

O resultado foi o mais atrapalhado e mal-sucedido processo de construção de apoios de última hora a uma candidatura de que se tem notícia na Bahia na órbita de um partido que caminha para fechar 16 anos no poder, que assistiu sua base espatifar em quatro nomes – dois deles, o de Isidório, do Avante, e o de Bacelar, do Podemos, lançados supostamente de forma combinada mas sem nenhum controle sobre a possibilidade de ultrapassarem o da petista – e um quarto da independente Olívia Santana, do PCdoB, capaz de canibalizar a militar. Uma incógnita para o grupo de Rui no enfrentamento ao plano de ACM Neto de manter Salvador para ganhar o governo em 2022.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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