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Antes da posse, ministro João Roma e a mulher, Roberta, posam com o presidente, a primeira-dama, o antecessor Onix Lorenzoni e sua mulhere 25 de fevereiro de 2021 | 07:56

E se, como ministro, João Roma começar a pontuar para 2022?, por Raul Monteiro*

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A ultraconcorrida posse de João Roma ontem no ministério da Cidadania foi apenas um sinal do que ainda pode estar por vir. A transformação em ministro de um deputado federal de um Estado onde tanto o governador Rui Costa (PT) quanto a principal liderança oposicionista, o ex-prefeito ACM Neto (DEM), fazem oposição ao presidente da República apenas ampliou sua aura de novo player político, o que, em condições normais, a posição já faria com qualquer parlamentar. É sobre esta nova variante que a classe política baiana, da esquerda à direita, passa a se debruçar a partir de agora. Não por acaso, foi ela que voltou em peso sua atenção ontem para a solenidade.

Tentava verificar se seria confirmada, mesmo sob a pandemia, a expectativa de aglomeração de prefeitos baianos em torno do homem que agora vai gerir programas sociais como o bolsa-família, prova de ganho imediato de prestígio. O que deputados que vão do PT ao DEM se perguntam hoje é em que medida a nomeação de Roma e, em decorrência dela, a decisão de ACM Neto de romper com ele, do que ninguém mais duvida, estendendo sua ira na direção de Jair Bolsonaro, vai afetar o andamento eleitoral no Estado, especialmente o jogo sucessório de 2022. Para muitos, há poucas chances de Roma reconstruir as pontes com aquele que foi, até agora, seu chefe político.

Neste sentido, o novo ministro pode ter adentrado uma zona em que seu nível de controle sobre o futuro pode ter sido transferido das mãos do, digamos,’ex-amigo’, para as do presidente da República. Bolsonaro pode apresentar a candidatura de Roma a governador da Bahia para chantagear Neto em troca do apoio do virtual candidato ao governo pelo DEM à sua reeleição. Mal comparando, seria uma espécie de reprodução de movimento que muitos vêem acontecendo com Fábio Faria, ministro da Comunicaçôes, hoje considerado um nome forte tanto para uma eventual disputa ao governo do Rio Grande do Norte como para a sucessão à Prefeitura de Natal, em 2024.

Difícil não imaginar que Roma, aliás, não possa sair como maior beneficiário da fricção entre o presidente e o ex-prefeito de Salvador. Na pior das hipóteses, no caso de um eventual entendimento futuro entre Neto e Bolsonaro, dificilmente não será apresentado como nome pelo próprio partido para compor a futura chapa do democrata, por força de uma projeção que ele próprio, como ministro, terá dado no Estado à legenda republicana, já forte por deter a representação evangélica na Bahia. Para isso, não precisa nem que tenham sucesso as iniciativas que amigos dizem que colocará em prática, a partir de agora, para tentar reconquistar a confiança de Neto.

Hoje, não mais se questiona que o ministro ascendeu a uma posição frente à liderança do ex-prefeito a que nenhum outro correligionário ou ex-aliado seu havia até agora ousado. Levando em conta o perfil de político determinado, disciplinado e com preparo intelectual, em relação ao qual não parecem faltar outros predicados essenciais para fazer sucesso em Brasília e ver os efeitos dele na Bahia, não é difícil prever que Roma pode no prazo de 13 meses para a desincompatibilização às eleições estaduais mudar da posição de um ex-auxiliar para a de concorrente aberto de Neto. Principalmente se pesquisas sinalizarem que há espaço para mais um nome ao governo.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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