Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Banco Central 09 de março de 2021 | 10:55

Crise leva custo de captação dos bancos acima da Selic pela primeira vez, diz BC

economia

A crise econômica gerada pela pandemia de Covid-19 fez com que o custo de captação dos bancos ficasse acima da taxa básica de juros (Selic) pela primeira vez. A avaliação foi publicada na a ata da reunião do Comef (Comitê de Estabilidade Financeira) do Banco Central, divulgada nesta terça-feira (9).

O custo de captação é a taxa que as instituições pagam para tomar crédito no mercado, que normalmente é igual à Selic, que está a 2% ao ano, menor nível da história.

Segundo o BC, a manutenção de liquidez (recursos em caixa) aumentou esse custo e os prazos encurtaram.

“Em decorrência de vários fatores estruturais e conjunturais, o perfil de captação do SFN [sistema financeiro nacional] tem se alterado. A taxa média de captação tem se elevado, estando, pela primeira vez desde que este acompanhamento é realizado, acima da taxa básica de juros”, diz o texto.

Quando há incertezas no cenário econômico, a tendência é de encurtamento das dívidas, já que o tomador não tem confiança para assumir compromissos de longo prazo.

“Ao mesmo tempo, os prazos das captações foram encurtados em decorrência da crise, o que exige volumes maiores de liquidez disponíveis nas instituições”, explica o comitê.

O BC avaliou, no entanto, que os bancos têm capacidade de adaptação.

No documento, a autoridade monetária afirmou ainda que a inadimplência pode ficar acima do estimado, embora esse não seja o cenário esperado.

“Embora não seja o cenário esperado, as perdas de crédito podem ser superiores aos níveis estimados. A retirada das medidas emergenciais e a incerteza quanto ao prolongamento da pandemia e seus desdobramentos sobre a renda e o emprego têm potencial para afetar a qualidade do crédito”, ressalta.

“O Comef avalia que o sistema financeiro mantém reservas robustas para fazer frente a essas incertezas graças ao aumento das provisões realizado pelas instituições, à melhora na capitalização e à restrição à distribuição de resultados em 2020”, completa.

Provisão é o valor que os bancos têm de manter em caixa para assegurar a operação. Quanto maior é o risco de calote, maior é esse montante.

Por causa da pandemia, o CMN (Conselho Monetário Nacional) proibiu, em abril, a distribuição de lucros dos bancos aos acionistas e aos dirigentes acima do mínimo legal estabelecido em contrato social ou estatuto, que normalmente é de 25%.

Em dezembro, a medida foi flexibilizada, permitindo a distribuição de até 30% do lucro líquido dos bancos.

O BC ponderou que vários estados e municípios ainda mantêm, em algum grau, medidas emergenciais e que a saúde financeira das empresas depende da velocidade da recuperação econômica.

“Em algumas jurisdições relevantes, já se observa elevação do número de pedidos de falência para acima dos níveis pré-pandemia”, destaca.

Folhapress
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