Foto: Dida Sampaio/Arquivo/Estadão
Flávio Dino 22 de outubro de 2021 | 12:31

Flávio Dino procura Sarney, costura aliança com ex-rival e pede apoio para academia de letras

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Na última terça-feira (4), o ex-presidente José Sarney (MDB) recebeu a visita de um antigo rival político: o governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB). Improvável até a eleição do presidente Jair Bolsonaro, a conversa aconteceu no apartamento de Sarney, na península da Ponta D’Areia, em São Luís.

O governador pediu apoio do ex-presidente à sua candidatura à cadeira de número 32 da Academia Maranhense de Letras, vaga ocupada por seu pai, Sálvio Dino, até sua morte, em agosto de 2020, vítima da Covid.

Dino foi eleito nesta quinta-feira (21) com 25 dos 35 votos. A aliados o governador chegou a afirma que Sarney, que é membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), não tinha se comprometido a apoiá-lo. Mas essa narrativa foi interpretada como uma discrição de Dino.

Além dessa eleição para a AML, no encontro, os dois conversaram sobre o cenário político nacional.

A sucessão estadual não entrou em pauta. Mesmo assim, a reunião foi interpretada, no Maranhão, como uma brecha para uma inédita e antes inimaginável aliança entre o PSB, de Dino, e o MDB, de Sarney, na corrida pelo governo do estado de 2022.

Vice-presidente do MDB maranhense, o deputado estadual Roberto Costa afirma que existe, majoritariamente, disposição de diálogo com Dino em busca de uma saída para a crise nacional.

Uma prova está no alinhamento da bancada do MDB na Assembleia Legislativa. Em 2020, o partido deixou o bloco de oposição, declarando-se independente e passando a apoiar o governo.

Adversária de Dino na eleição de 2018 e presidente estadual do MDB, a ex-governadora Roseana Sarney deverá concorrer à Câmara dos Deputados e, segundo Costa, defende “diálogo com todos”.

“Sentimento de ambas as partes é de que se possa iniciar o processo de namoro para, quem sabe?, chegarmos ao casamento”, diz o vice-presidente estadual do MDB.

Segundo Costa, Dino fez um aceno importante para o MDB ao apoiar a candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) para a presidência da Câmara dos Deputados, em fevereiro deste ano, quando saiu derrotado para Arthur Lira (PP-AL).

Essa é a segunda vez que Dino se reúne com Sarney. O primeiro encontro ocorreu em junho de 2019, quando Dino também visitou os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso.

Essa conversa aconteceu sete meses depois de Dino derrotar Roseana na disputa pelo Governo do Maranhão. Na campanha, Dino afirmava que o ciclo dos Sarney estava esgotado no estado.

Articulado com a ajuda do deputado federal Orlando Silva (PC do B-SP) e do empresário Fernando Sarney, filho do ex-presidente, o encontro tinha objetivo de estabelecer pontes entre os dois, o que acabou se concretizando durante a pandemia.

Foi durante a pandemia que, em março de 2021, o Governo do Maranhão contratou o grupo de comunicação da família Sarney para o programa de ensino a distância. Os contratos chegam a R$ 7 milhões, dos quais R$ 3 milhões já liberados, segundo o portal da transparência do estado.

Defensor de uso de distanciamento social para combate ao coronavírus, Dino passou a ganhar destaque na programação de rádio e TV do Grupo Mirante, da família de Sarney, em entrevistas que chegaram a ter mais de 25 minutos no telejornal.

Na terça-feira (19), dos dias antes da eleição da AML, mais um gesto de delicadeza: o secretário de Educação, Felipe Camarão (PT), visitou Sarney para informar, pessoalmente, a retomada das atividades da Banda do Bom Menino, escola de música fundada por Sarney —um xodó do ex-presidente.

Pré-candidato ao Governo do Maranhão, Camarão manifestou sua intenção de concorrer com o apoio do governador. Além dele, o vice-governador Carlos Brandão (PSDB) e o senador Weverton Rocha (PDT) são postulantes.

Dino, que concorrerá ao Senado, tem a árdua tarefa de reeditar a aliança de 16 partidos com que ae reelegeu. “Não temos problema de ter o MDB no nosso palanque”, diz Weverton, apresentando-se como o novo na disputa e afirmando contar com o apoio de 81dos 217 prefeitos do Maranhão.

Catia Seabra/Folhapress
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