Foto: Geraldo Magela/Arquivo/Agência Senado
Jaques Wagner, senador pelo PT e candidato ao governo que iniciou o processo de ocupação de cargos no Estado por ex-carlistas 13 de janeiro de 2022 | 08:07

A inegável contribuição do carlismo aos governos petistas na Bahia, por Raul Monteiro*

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Considerada dura ao analisar o movimento de um aliado presente que lhe serviu nos dois governos com uma fidelidade canina muitas vezes irritante, a fala do senador Jaques Wagner (PT) avaliando que o deputado federal Marcelo Nilo (PSB) terá um ‘final ruim’ se decidir sair candidato ao Senado na chapa do seu adversário ao governo ACM Neto (DEM) revela uma incoerência. “Eu acho que é um final ruim para ele (Marcelo Nilo), para a carreira toda que ele fez durante a vida toda dele. Na verdade não acredito. Nessa época tem muito comentário, o outro lado tá nervoso (por)que não tem caminho nacional”, disse Wagner.

Com a declaração, embora não tenha falado explicitamente, o senador quis dizer que Nilo jogaria no lixo a reputação construída na oposição aguerrida ao carlismo unindo-se ao neto do líder da escola política que ele derrotou em 2006, quando elegeu-se para seu primeiro mandato à frente do governo baiano. Na época, o governador gabava-se de ter encerrado um período em que o Estado tinha dono, numa referência ao estilo coronelesco do ex-senador ACM, que dividia a política local entre aqueles que o apoiavam e os que o detestavam. Antes da conclusão do seu primeiro mandato, o então governador petista já se referia ao seu principal legado.

Seria ele, segundo suas próprias palavras, imaterial, representado pelo retorno da democracia às relações políticas e institucionais no Estado. Mas se, de fato, aproveitando a emergência de uma conjuntura favorável à própria vitória, Wagner teria logrado derrotar ACM anos antes, para garantir sua reeleição, no entanto, ele foi buscar exatamente entre alguns quadros coroados do carlismo os principais aliados para enfrentar a segunda campanha, da qual, para dar passagem ao projeto eleitoral concorrente de Geddel Vieira Lima ao governo, o MDB se desgarrara. Como esperado, os apoios se traduziriam em co-participação na máquina estadual.

A coalizão exitosa se repetiria ainda mais duas vezes – na eleição e na reeleição ao governo do aliado Rui Costa (PT) -, podendo se consolidar ainda mais agora nas articulações que Wagner já trava para tentar chegar de novo ao Palácio de Ondina. O resultado da bem sucedida aliança política – e porque não dizer, administrativa – foi uma ocupação majoritária de cargos e posições chaves na estrutura do Estado baiano por parte de ex-carlistas. Um panorama rápido: Dois dos três senadores baianos vieram de onde, senão da escola política do velho ACM? E o vice-governador, sentou ou não sentou em algum momento de sua história no banco do carlismo?

O presidente da Assembleia também passou por lá e metade dos secretários estaduais, a começar pelos titulares das pastas estratégicas do Planejamento, Fazenda e Infraestrutura, beberam na mesma fonte, cuja imagem está associada a reconhecimento de capacidade técnica e investimento em gestão. Um detalhe: entre os deputados estaduais, 65% têm a mesma origem, ao passo que entre os federais o número chega a 60%. Sim, e os presidentes do TCE e do TCM? É verdade que, contra o modelo, o PT buscou se insurgir, no princípio, várias vezes, mas foi vencido pelo cansaço e o argumento de que seria um mal necessário à governabilidade. E a admiração não conta?

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*
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