Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação
Lula, ainda na campanha, disse que estava disposto a abrir mão da reeleição 05 de janeiro de 2023 | 08:20

A arte dos bajuladores que defendem agora a reeleição de Lula, por Raul Monteiro*

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Foi o próprio presidente Lula que, ainda na campanha, fez vazar a informação de que, pela idade e por tudo o que viveu nos últimos anos, além do cerco organizado da extrema-direita que o país passou a enfrentar, estava disposto a abrir mão da reeleição. A disposição seria uma forma de estimular o surgimento de novas lideranças na esquerda, incentivando o aparecimento de novidades para a sucessão de 2026, como também de aplacar a ira anti-lulista, da qual compartilham não apenas os bolsonaristas, como o segmento conservador do eleitorado e aqueles que, por suas próprias razões ou motivos dados por Lula, o rejeitam de forma peremptória.

Considerado um sinal de desprendimento e também prudência, o movimento do então candidato teve eco em muitos setores esquerdistas, que passaram a associar a informação a uma mudança de comportamento do líder e do PT, conhecidos pela desmesurada ambição hegemônica, um traço do perfil autoritário de ambos que vem sendo abertamente usado também para denunciar um pretenso interesse do político e de seu partido em transformar o país numa autocracia ou num regime comunista. Também deve ter chegado às franjas do oposicionismo sem, no entanto, causar maior impacto ou diminuir a ojeriza ao lulismo.

Para aqueles que conheceram um Lula que chegou a perigosamente namorar com a ideia de um terceiro mandato, mas foi brecado então pelo Senado, e, como alternativa, acabou apresentando para sucedê-lo um poste de quatro costados que por pouco não o destruiu e ao país, abrir mão da reeleição daqui a quatro anos e, paralelamente a isso, trabalhar a construção de um nome para a própria sucessão, não deixa de ser um alento. Daí porque, num momento em que o país começa apenas a apontar para o caminho da normalidade democrática, o repentino surgimento de manifestações pela candidatura à reeleição do presidente soam totalmente despropositados.

É claro que há grande chance de que os defensores da tese estejam sendo estimuladas pelo próprio Lula, o que seria um sinal lamentável de que seu conhecido projeto de poder não sofreu alteração e ele pode ter tirado muito poucas boas lições do calvário que viveu. Mas também não se deve descartar que ele esteja alheio ao movimento, que pode estar sendo deflagrado por uma classe de aliados facilmente identificável pela alcunha de bajuladores, os quais se esmeram tanto na arte de agradar o chefe quanto menos têm serviços a apresentar. Eles estão por toda a parte, mas principalmente na Esplanada dos Ministérios.

O que lhes falta, principalmente, é compreensão do momento histórico e da infinidade de desafios que se colocam para a nova gestão, que vão da desorganização fiscal à estagnação econômica, passando pela necessidade de resolver, com urgência, o problema da fome e da violência, tudo embalado por um clima de desencanto com a política e as instituições que só reforçam os apelos destrutivos de extremistas. São todas razões mais do que suficientes para que, ao invés de pensar em reeleição, Lula se concentre na tarefa de lutar pela consolidação da democracia, aproveitando a oportunidade que metade dos eleitores lhe deram.

* Artigo do editor Raul Monteiro.

Raul Monteiro*
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