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Ex-presidente do PT em Salvador, Ademário Costa falou sobre o processo de escolha do vice-governador Geraldo Júnior (MDB) para concorrer à prefeitura como candidato único 29 de janeiro de 2024 | 08:41

Entrevista – Ademário Costa: ‘Não termos um candidato negro está relacionado ao racismo estrutural’

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Dirigente do afoxé Filhos de Gandhy e ex-presidente do PT em Salvador, Ademário Costa avalia que o fato de Geraldo Jr., candidato escolhido pelo governo liderado pelo PT, e o prefeito Bruno Reis (UB) serem os principais nomes à sucessão municipal denota o racismo estrutural presente na política baiana.

“O PT por exemplo na última eleição, de vereador, elegeu pessoas negras. E o fato de não termos na pole position um candidato negro está relacionado ao racismo estrutural, tanto na esquerda como na direita. Eu não tenho dúvida da importância da candidatura de Geraldo para fortalecer Jerônimo, mas não ter candidaturas negras tem base no racismo estrutural”, diz.

Para o dirigente do PT, Jerônimo precisa se posicionar como líder em 2024 para consolidar seu comando no grupo político.

“Jerônimo é o quadro político que está num processo de consolidação de liderança. Diferente de Wagner e de Rui, que vinham de estruturas partidárias, Jerônimo é um quadro conhecido pelo PT. O mundo político e a sociedade mais ampla não conheciam Jerônimo. É fundamental para 26 que o governador se coloque como líder de 2024”, analisa.

Leia a entrevista completa:

Os Filhos de Gandhy homenagearão Caetano esse ano. Como surgiu o tema?

Foi uma ideia de Pitta, do Cortejo Afro, e Caetano fala muito sobre a Bahia, que é sua grande inspiração. E a Beleza Pura fala que dentro dos turbantes dos Filhos de Gandhy é o que há. Fala do badauê, e fala que bonito não é o dinheiro, mas sim o que nos somos. Todos os anos temos um tema importante. Ano passado foram os caboclos e saudamos Jerônimo Rodrigues. E esse ano, quando falamos da beleza, o homenageado será o próprio Caetano Veloso. O Gandhy faz parte da estética dessa cidade, o tapete branco da paz. Está conectado Caetano com os 75 anos do Gandhy.

Como você vê essa invasão de outros ritmos no carnaval de Salvador? Há espaço?

Existe uma base cultural que sustenta todo resto. Essa plataforma que sustenta a cultura na cidade e no país é a cultura negra e indígena. Traz consigo a tradição e elementos que nos constituem. Não poderíamos falar de Salvador sem essas referências. É esse grande palco, e nesse chão aqui que se ergueu e construiu o conceito do que é ser brasileiro. Não podemos falar de Brasil sem falar bossa nova, de samba, música das colheitas das pessoas escravizadas. Não se pode falar de Brasil sem falar de tropicália, Gil, Gal, Bethânia. Temos que falar de Cinema Novo, Glauber Rocha… se for falar de axé music, temos que falar dos trios que colocaram os terreiros para tocar. Sem o bloco afro, sem o afoxé, sem o agogô, não tem carnaval. O carnaval continua se fortalecendo, esse ano, o carnaval negro mostra que é a base disso tudo. Precisamos fazer um debate profundo sobre o serviço da cultura, quando você faz um raio-X dos empreendedores, você vai encontrar um nível baixo de formação. Tem que investir nisso, na valorização dos compositores, dos músicos.

Esse ano, governo e prefeitura ampliaram suas participações nos blocos afro. Como você viu esse movimento?

Estamos passando por momentos, principalmente nesse momento novo do Brasil, uma série de lutas dos movimentos negros têm garantido avanços. As entidades precisam se relacionar com todos os poderes constituídos. É muito potente a Lei Paulo Gustavo, o Plano Nacional Aldir Blanc, o Plano Nacional dos Comitês de Cultura, muito importante o aumento do Ouro Negro na Bahia, esse critério de indutores com raça, gênero e territórios para a Secult e muito importante que a preferiria incorpore essa tendência. A sede do Ilê, que foi feita na gestão de José Sérgio Gabrielli… dar continuidade a esse projeto, eu acho corretíssimo que a prefeitura faça. Precisamos que os investimentos não sejam em ações que sejam eventos. Precisamos cada vez mais que a cultura seja estruturante. Tenho total acordo com o formato.

A Bancada do Feijão, na eleição passada, lançou o “Eu quero ela” prefeita e a candidata foi Major Denice. Esse ano a esquerda vai com Geraldo. Como vocês enxergaram a escolha?

Eu considero que só foi possível… um dos elementos fundamentais para que hoje tenhamos o primeiro governador afro-indígena foi o debate da bancada do Feijão no “Eu Quero ela”. O PT lançou uma mulher negra, que foi Denice, foi sintetizado na candidatura da major. Foi a primeira vez que o PT lançou uma mulher negra para ser candidata e naquela eleição o PT saiu de sétimo na chapa proporcional para segundo. O PT tinha três vereadores, dois foram candidatos, dobramos nossa bancada com quatro. Chegando a segundo lugar na disputa na proporcional. Acho que o debate se aprofundou tanto que tivemos uma polêmica importante na eleição de governo que foi sobre Neto ser ou não ser pardo. O centro político com o qual temos que nos centrar é Jerônimo como líder político. Ele fez algo que nenhum outro governador petista foi: unificar a base. Depois indicou antes do fim do ano e ele se apresentou como líder político que só vai apoiar um candidato. Essa eleição municipal, no interior também, se trata do fortalecimento da imagem de Jerônimo como líder político de um projeto. Isso vai dizer qual rumo que vamos ter em 2026. Se o PT ganhar em 26 vamos ter um recorde nacional. Acho que o debate de 24 se trata do fortalecimento do nosso governador. Mas temos que lutar pelas candidaturas negras. O PT por exemplo na última eleição, de vereador, elegeu pessoas negras. E o fato de não termos na poli position um candidato negro está relacionado ao racismo estrutural, tanto na esquerda como na direita. Eu não tenho dúvida da importância da candidatura de Geraldo para fortalecer Jerônimo, mas não ter candidaturas negras tem base no racismo estrutural.

Você não acha que está colocando peso demais em 24?

Eu acho que o governador constituiu uma candidatura, que é um projeto de disputa de narrativa. Ele fez isso. Acho que ele está correto. Jerônimo é o quadro político que está num processo de consolidação de liderança. Diferente de Wagner e de Rui, que vinham de estruturas partidárias, Jerônimo é um quadro conhecido pelo PT. O mundo político e a sociedade mais ampla não conheciam Jerônimo. É fundamental para 26 que o governador se coloque como líder de 2024. Ele agiu corretamente.

Você é pré-candidato a vereador?

Eu sou pré-candidato, sou de esquerda, o afoxé não é um agrupamento de esquerda ou de direita, é um movimento da cultural. Ele se relaciona e deve se relacionar com todas as esferas de poder. Agora, eu, como sujeito político, sou um militante negro, socialista e estou experimentando a responsabilidade de uma pré-candidatura.

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