Foto: Arquivo/Reprodução/Ufba
Ordep Serra é antropólogo, pesquisador, professor da Ufba e membro da Academia de Letras da Bahia 04 de março de 2024 | 15:00

Antropólogo baiano defende uso de termo holocausto para ação de Israel em Gaza

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O que é holocausto? Os ataques contra o povo palestino podem ser considerados como genocídio?

Com a polêmica levantada após declaração recente do presidente Lula, tratando como genocídio os ataques contra os palestinos, o antropólogo, pesquisador e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Ordep José Serra, também membro da Academia de Letras da Bahia, decidiu explicar e comentar os termos.

“O holocausto é uma metáfora para o genocídio”, explicou Serra. “Holocausto é um tipo de sacrifício de vítima animal. Na maioria dos sacrifícios que os gregos faziam, que os judeus também faziam, a vítima era oferecida a Deus, ou aos deuses, em seguida era imolada e depois se consumia sua carne”, acrescentou.

“No holocausto [humano], a vítima não é consumida. Ela é destruída totalmente, reduzida a cinzas, consumida pelo fogo. A palavra ‘holocausto’ significa isso. ‘Holo’, em grego, é ‘todo’; ‘Kaustos’ é ‘queimado’ (‘queimei totalmente a vítima. Tinha a intenção e realizei o ato de exterminar a vítima’). Quando falo em holocausto do povo judeu, ou da população de Gaza, estou usando uma metáfora para dizer ‘extermínio’ ou ‘genocídio’, continou.

O antropólogo fez, ainda, uma “advertência”, lembrando que “todas as instituições e pessoas que negaram ou deixaram de se pronunciar contra o holocausto do povo judeu, ou dos ciganos, das pessoas com deficiência, dos comunistas – no Terceiro Reich de Hitler – ficaram manchadas para sempre na história e se desmoralizaram”.

“Quem nega, agora, ou quem se recusa a ver o genocídio da população de Gaza está manchando o seu nome para sempre. Essa falta de vergonha de negar o óbvio tem consequências”, afirmou Ordep Serra.

Para ele, é preciso que as pessoas com responsabilidade intelectual se prounciem contra o que chamou de “barbaridade” e “bestialidade”. “Ao acusar essa bestialidade, não se está desmerecendo o povo judeu ou ofendendo o povo judeu. Aliás, muitos [judeus] estão protestando contra isso”, falou, citando referências do Judaísmo, como Masha Gessen e, aqui no Brasil, Breno Altman. “Muitos judeus ortodoxos são absolutamente contra essa bestialidade que está acontecendo. Até no meio dos sionistas há muita gente que protesta contra Netanyahu”, completou.

Ainda de acordo com Ordep, denunciar o que ocorre em gaza é assumir um compromisso com a humanidade. “Não podemos tolerar o desumano, o bestial, o brutal, o patológico que está em uma atitude genocida. É preciso denunciar o genocídio enquanto ele está em curso ou quando ele se anuncia, porque depois não adianta”, frisou.

“Vamos protestar contra o holocausto do povo palestino, até em respeito pelos judeus que foram chacinados por Hitler, com os mesmos métodos e com a mesma atitude perversa”, concluiu.

 

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