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Realizado na capital baiana, estudo é fruto da tese de doutorado do vereador André Fraga (PV) e analisou dados de quase 2 mil soteropolitanos 06 de março de 2024 | 14:48

Morar perto de parques reduz chances de diabetes e hipertensão, diz pesquisa da USP

salvador

Quem vive em Salvador longe de parques urbanos e áreas verdes têm mais predisposição a ter problemas de saúde. Isso é o que concluiu um estudo realizado na capital baiana pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). A pesquisa é fruto do doutorado do engenheiro ambiental e vereador André Fraga (PV).

O estudo analisou, no Laboratório de Epidemiologia Molecular e Bioestatística da Fundação Oswaldo Cruz, dados de quase 2 mil pessoas do Estudo Longitudinal Brasileiro de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) uma coorte que acompanha servidores da UFBA em Salvador. O principal resultado encontrado pela investigação é a correlação entre o diagnóstico médico de hipertensão e diabetes e variáveis ambientais, em específico parques urbanos.

Na prática, isso significa que os pessoas que vivem mais próximos a parques menos chance de desenvolver diabetes ou hipertensão. Esse resultado pode ter relação com o estímulo que parques urbanos promovem à atividade física, já que o sedentarismo é o quarto principal fator de risco para a mortalidade global de acordo com a OMS.

“A exposição à vegetação natural estimula a prática de atividade física, traz mais engajamento e maior coesão social, reduz a exposição à poluição do ar, melhora o microclima com menores eventos de temperaturas extremas e reduz o ruído em áreas urbanas. Quem vive sem áreas verdes tem muito mais dificuldade em viver tudo isso”, explicou Fraga.

Esse é o caso dos habitantes de Fazenda Coutos, Uruguai e Caixa D’Agua, bairros de Salvador que sequer possuem áreas verdes, segundo o estudo. Em 2009, o índice geral de cobertura vegetal da cidade era de 32 m² por habitante, ou 28% do território. Dos 160 bairros e três ilhas analisados, 108 (66%) tinham índice de área verde inferior ao sugerido pela Sociedade Brasileira De Arborização Urbana (Sbau) de 15 m² por habitante. Em 30 bairros, este valor não alcançava 1 m² por habitante.

“E nem sempre cobertura vegetal significa uma área verde acessível e com infraestrutura que permita o uso por parte das pessoas. É só ver o caso de parques como Pituaçu. Abaeté e Costa Azul, por exemplo, que encontram-se em situação de abandono o que desestimula seus usos. A pesquisa é clara ao indicar a necessidade de aumentar o número de parques qualificados em Salvador”, defendeu Fraga.

Escolas podem ser solução

Especialista em infâncias e natureza do Instituto Alana, Maria Isabel Amando de Barros afirmou que a relação entre áreas verdes e saúde humana vai além da menor incidência de hipertensão e diabetes. “Uma cidade mais engajada vai lutar pela conservação das áreas verdes. Pessoas saudáveis geram parques saudáveis. Quando tem pessoas saudáveis circulando nesses espaços, os parques ganham também”, disse.

Para os locais com menos áreas verdes, ela acredita que as escolas podem ter um papel fundamental na transformação dos pátios em ambientes mais naturalizados. ”Todos os bairros têm escolas e essas escolas podem ser uma ilha de respiro para as crianças. É uma solução a curto prazo”, afirmou. Para isso ser possível, ela recomenda o investimento em microflorestas e hortas escolares.

Na sua passagem pela Secretaria Municipal de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência de Salvador (Secis), Fraga liderou projetos do tipo, como o que implantou hortas urbanas e escolares em Salvador. Como vereador, o parlamentar criou o projeto Mutirão na Horta, que reúne voluntários para levar atividades de limpeza e plantio para as diferentes hortas da cidade.

Já como secretário, André foi responsável pelo desenvolvimento do Plano Diretor de Arborização Urbana, a primeira lei municipal sobre o assunto. Ele também coordenou a reforma dos parques da Cidade, do Jardim Botânico, e a implantação dos parques dos Ventos, Marinho da Barra, Pedra de Xangô, Lagoa dos Pássaros e Lagoa Arraial do Retiro.

Outras iniciativas do parlamentar durante sua passagem pela gestão municipal foram a criação da Caravana Mata Atlântica, o primeiro delivery de árvores do Brasil; o Manual de Arborização Urbana com Espécies Nativas da Mata Atlântica; e o Manual Técnico de Poda de Árvores. Gerida por Fraga, a Secis foi responsável por arborizar importantes avenidas de Salvador, como a Suburbana, Vale do Canela, Barros Reis e centenas de praças e canteiros.

Outros trabalhos

Esse não é o primeiro trabalho científico que aborda os benefícios das áreas verdes para a saúde humana. O próprio Instituto Alana, na pandemia, desenvolveu um estudo que concluiu que as crianças que tiveram acesso à natureza lidaram melhor com a crise sanitária. “Elas dormiram melhor, tiveram menos agressividade, diminuíram alergias e problemas respiratórios… teve até uma família de Salvador que entrevistamos que saiu da capital e foi para o interior em busca de mais contato com o verde”, disse Maria Isabel.

Já um estudo de 2016 do Departamento de Saúde Pública dos Estados Unidos mostrou que a incidência de doenças crônicas diminui e que a expectativa de vida aumenta entre a população de bairros mais verdes. A Organização Mundial de Saúde (OMS), por sua vez, listou que áreas verdes fazem bem para a saúde mental, funções cognitivas, redução de morbidade cardiovascular, redução da prevalência de Diabetes tipo 2; melhoria nos indicadores relacionados a gravidez e redução da mortalidade de doenças respiratórias.

“O grande avanço da nossa pesquisa foi evidenciar como isso ocorre na prática em Salvador, que é a quinta cidade mais populosa do país e enfrenta desafios socioambientais. Em nossa análise de dados, ficou evidente que os moradores das áreas mais ‘cinzas’ têm mais incidência de doenças. Por isso, investir em parques é investir em qualidade de vida, em saúde pública”, argumentou Fraga.

Maria Isabel Amando de Barros, especialista em infâncias e natureza do Instituto Alana

Existe realmente essa relação bem clara do contato de áreas verdes e áreas naturais e os benefícios gerados não só a saúde física, mas mental também. É uma relação muito clara. Essa ficha caiu na pandemia. Nós fizemos um estudo na pandemia entrevistamos mil famílias para investigar isso, as crianças que tiveram acesso a natureza tiveram benefícios. Elas dormiram melhor, tinham menos agressividade, diminuiram alergias, problemas respiratórios. Teve até uma família de ssa que entrevistamos que saiu de salvador e foi para o interior.

As crianças quando saem do cinza sentem a diferença

A necessidade de espaços verdes urbanos para crianças tendo em vista seu desenvolvimento integral. É um estudo que avalia todos os benefícios. Desenvolvimento físico, mental e social. E desenvolvimento para a cidade, o que a cidade ganha. Uma cidade mais engajada vai lutar pela conservação dessas áreas

Pessoas saudáveis, parques saudáveis. Quando tem pessoas saudáveis circulando nesses espaços, os parques ganham também.

As escolas podem ter um papel muito importante nisso, a transformação dos espaços escolares, os pátios, em ambientes mais naturalizados. Elas passam muito tempo nesses locais.

A gente acabou de fazer um processo de escuta com crianças e adolescentes do brasil todo e perguntamos a ela onde elas gostariam de ter contato com a natureza e elas disseram na escola e na rua.

Todas as crianças devem ter um acesso fácil à natureza. Toda criança, não interesse onde more, deveria ter um acesso a pé de uma área verde segura e acolhedora. Recomendação da Unicef.

Acesso a áreas verdes está ligado ao status socioeconômico dos bairros. A gente tem que trabalhar sim para áreas verdes, masis a curto prazo eu enxergo a escola como solulção. Todos os bairros têm escolas e essas escolas podem ser uma ilha de respiro para as crianças. É um equipamento público que pode ser mais acessível. É uma solulção a curto prazo. Temos que trabalhar por mais parques e mais distribuição equitativa das áreas verdes.

As hortas escolares já são alguma coisa nesse sentido. Tem escolas que têm áreas ociosas ou que transformam o pátio em estacionamento. Nossa ideia é valorizar cada centímetro da escola para ser uma área verde. EM São Paulo, existe o Formigas de Embaúba, um programa que faz um plantio de microflorestas em escolas. Uma área de poucos metros quadrados se transformam em microflorestas. São escolhido plantios de árvores que crescem mais rápido e em pouco tempo geram sombra, permitem que as crianças subam.

Também temos trabalhado com o pátio naturalizado,

Assim proporciona acesso a essa população mais vulnerável.

Esses microparques podem ser feitos também nos bairros. Não precisa ser um parque grande. As estratégias dos microparques são interessantes.

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