Elias de Oliveira Sampaio

Políticas Públicas

Economista do Ministério da Economia. Mestre em Economia e Doutor em Administração Pública pela UFBA. Autor de diversos trabalhos acadêmicos e científicos, dentre eles o livro Política, Economia e Questões Raciais publicado - A Conjuntura e os Pontos Fora da Curva, 2014 a 2016 (2017) e Dialogando com Celso Furtado - Ensaios Sobre a Questão da Mão de Obra, O Subdesenvolvimento e as Desigualdades Raciais na Formação Econômica do Brasil (2019). Foi Secretário Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) e Diretor-presidente da Companhia de Processamento de Dados do Estado da Bahia (Prodeb), Subsecretário Municipal da Secretaria da Reparação de Salvador (Semur), Pesquisador Visitante do Departamento de Planejamento Urbano da Luskin Escola de Negócios Públicos da Universidade da Califó ;rnia em Los Angeles (UCLA), Professor Visitante do Mestrado em Políticas Públicas, Gestão do Conhecimento e Desenvolvimento Regional da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Professor, Coordenador do Curso de Ciências Econômicas e de Pesquisa e Pós-Graduação do Instituto de Educação Superior Unyahna de Salvador.

10,67% mais pobres

Esse é o saldo da situação do brasileiro após o ano de 2015, se levarmos em conta apenas o índice de inflação oficial divulgado pelo governo. O conjunto da obra é muito pior: a inflação chegou ao maior patamar desde 2002; o desemprego, na ordem de 9%, sepultou a era do “pleno emprego”; a taxa básica de juros de 14,25% retornou ao nivel de agosto de 2006 e elevou o preço do dinheiro nos bancos (empréstimos) a valores estratosféricos; a queda PIB em mais de 3% e o câmbio a R$ 4 por U$ 1, fecham o pacote das más notícias do ano. Ou seja, ficamos mais pobres, mais desempregados e mais endividados.

Registre-se, também, e com a devida ênfase, que esses indicadores representam aquilo que os economistas, de todas as tendências ideológicas, diga-se de passagem, chamam de fundamentos macroeconômicos e, como nos esportes, só dominando os fundamentos de cada modalidade é que times e jogadores podem se destacar, ganhar campeonatos ou, no mínimo, manter sua capacidade de competição em padrões aceitáveis para justificar a sua existência perante suas respectivas torcidas.

Nesse contexto, a partir de 2014 o Brasil está passando por um processo acelerado de empobrecimento real de sua população, após o virtuoso período 2002/2010, e nada nos permite afirmar que neste ano de 2016, e talvez até 2017, haverá algo de muito diferente dessa perspectiva. Ao contrário, o cenário é o pior possível, especialmente, pela imbricação cada vez mais profunda da instabilidade política com a crise macroeconômica como poucas vezes fora experimentada na história recente do país. Portanto, não se vislumbra no horizonte próximo nenhuma sinalização para o fim das labaredas que insistem em chamuscar instituições e pessoas, nacionalmente, a partir da capital federal.

Essa situação tem transformado os gestores da política e da economia em meros atores reativos no que se refere a operação de ações eficazes para evitar o verdadeiro desmonte estrutural dos fundamentos da macroeconomia brasileira. A angústia que paira sobre os agentes econômicos e sociais que, por dever de ofício, cidadania ou responsabilidade política, acompanha essa conjuntura sob um olhar minimamente crítico, se dá pela sensação, cada vez mais nítida, de uma total falta-de-saber-o-que-fazer por parte daqueles que, em momento como o que estamos vivendo, são chamados para o núcleo de poder, exatamente, porque se imagina que eles deveriam saber ao menos a direção de um porto seguro e, não sabendo, deveriam saber quem saberia. Infelizmente, não é isso que tem se observado nos últimos meses.

O emblemático caso Joaquim Levy não deve e não pode ser esquecido com facilidade. Percebe-se, agora com mais clareza, que buscou-se alterar o modelo de gestão macroeconômica exitosa implantado a partir de 1994 – e aprimorado no período 2002/2010 – para algo que até os mais experimentados economistas não conseguem entender o “por quê” e o “para que” se achou necessária fazer uma modificação “conceitual” num modelo ainda funcional em termos econômicos e políticos, em vez de se operar os devidos ajustes corretivos. Talvez alguém tenha se esquecido de contar para os “gênios” do planalto central que, desde há muito tempo, a era das revoluções no campo das políticas econômicas foi substituída pela era das evoluções, especialmente, quando se trata modificações em fundamentos econômicos de um país que pretende ser um player mundial, exerce uma importante liderança regional e possui uma relevância significativa em blocos comerciais.

A síntese de tudo isso, em bom e claro português, é que a crise que ora afeta a nossa economia, promovendo um significativo downgrade nos seus principais indicadores, possui um componente central de natureza estritamente econômica, qual seja, a tentativa de desconstrução estrutural do modelo macroeconômico que vigorou até o ano de 2010 com resultados satisfatórios; concorrendo com isso, houve uma incapacidade de substituição desse modelo outro modelo que desse conta de operar, com eficácia e efetividade, a estrutura da economia brasileira resultante de todas as transformações sofridas após o plano real, em particular, a estabilidade fiscal, as metas de inflação, o câmbio flutuante e, de forma muito especial, a confiança nos governos que, no mundo real da economia de hoje, transformou-se em importante variável de sucesso para qualquer modelo macroeconômico que se preze.

Por isso, o aprofundamento da instabilidade política notadamente em 2015, age como uma fonte poderosa de energia para criar e alimentar um círculo vicioso entre a dificuldade cognitiva para formulação, proposição e operacionalização de soluções adequadas para a crise e a deterioração acelerada dos indicadores econômicos fundamentais. Não ter consciência disso só por autoengano, alienação ou polianismo patológico, posto que, a continuidade desse círculo vicioso pode fazer com que toda essa situação evolua do estágio da chamada tempestade perfeita, propalada por alguns, para adentrar, de vez, na do apocalipse perfeito. Não queremos, nem precisamos ver esse filme. Vade retro!

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