Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

O que celebramos?

Ontem foi o feriado do dia Internacional do trabalho, mas o que celebramos, exatamente? Historicamente a data se remete ao conflito entre trabalhadores grevistas, que lutavam por uma jornada diária de oito horas, e a polícia de Chicago, que terminou com quatro mortos e dezenas de feridos. Não deixa de ser curioso observar que o dia Internacional da Mulher também faz referência a mulheres que foram mortas em conflito com a polícia na defesa de seus direitos no ambiente de trabalho. Mais do que simples coincidências, esses exemplos mostram o quão difícil e sofrida tem sido as disputas e poderosos os interesses relacionados ao mundo do trabalho. Nessa perspectiva, comemorar o 1° de Maio significa relembrar e reconhecer, de forma inequívoca, a importância e o significado que o trabalho ocupa em nossas vidas. Significa ainda relembrar os esforços, o suor e o sangue que foi derramado por todos aqueles que lutaram por seus direitos e por melhores condições de trabalho.

Saindo do plano histórico e voltando para perspectivas mais próximas de nossa realidade cotidiana, o que temos a comemorar hoje? Ainda que tenhamos alguns sinais pontuais de otimismo, o quadro geral parece que não é tão significativo assim. De um lado, experimentamos uma importante expansão dos níveis de emprego formal, que foi responsável por inserir parcela expressiva de trabalhadores nos sistemas de proteção social. Esse movimento foi acompanhado pela expansão dos níveis gerais de emprego da população para patamares inéditos em nossa sociedade. Há ainda uma série de vagas abertas que não são preenchidas aumentando a competição das empresas pelos bons trabalhadores e pressionando para cima os salários.

Entretanto, um olhar mais cuidadoso mostra que estes dados podem ser lidos de forma bastante diferentes. A ampliação da base de coleta de dados utilizada para estimar os níveis de emprego/desemprego, antes concentrada em seis regiões metropolitanas e agora estendida para um conjunto de 3.500 municípios (com a PNAD Continuada), deixou evidente que este tipo de estimação está sujeita á vieses metodológicos diversos e que em uma perspectiva mais ampla, o desemprego é maior do que se propagava anteriormente.

Os baixos níveis de desemprego observados também estão relacionados com o afastamento do mercado de largo contingente populacional. Em outras palavras, os indicadores de desemprego são baixos também porque o número de pessoas procurando emprego diminuiu. Este desalento tem relação com os faixas salariais e com o tipo de emprego disponível. Para muitas pessoas uma simples avaliação de custo/benefício mostra que não vale a pena o esforço de trabalhar em relação aos salários ofertados. Um aspecto pouco explorado nessa discussão sobre emprego que emerge do confronto entre qualificações x oferta de vagas e mostra que temos um grande contingente trabalhadores cujas habilidades para o trabalho os tornam não-empregáveis, sendo esta a face mais perversa do desastre da educação nacional.

Para estas pessoas, mantida a atual situação, resta apenas o trabalho informal e as bolsas-auxílio do governo. Por fim, há uma forte pressão pela flexibilização das relações contratuais de trabalho necessárias para ampliar a produtividade do trabalhador nacional sob pena de aumento de custo de vida e perda de competitividade da economia nacional. Entretanto, o processo de flexibilização costuma vir acompanhado pela precarização das relações de trabalho via transferência de riscos da empresa para o trabalhador. O balanço de perdas e ganhos parece sugerir que no atual cenário temos mais motivos para preocupação do que para celebração e que conquistas históricas dos trabalhadores encontram-se ameaçadas.

Bem, anteontem Dilma anunciou um aumento na bolsa família e na tabela do imposto de renda. Devo ser um pessimista, está tudo bem…

Comentários