Adriano Peixoto

Relações de Trabalho

Adriano de Lemos Alves Peixoto é PHD, administrador e psicólogo, mestre em Administração pela UFBA e Doutor em Psicologia pelo Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffiel (Inglaterra). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado associado ao Instituto de Psicologia da UFBA e escreve para o Política Livre às quintas-feiras.

Reciclagem

Esta semana encontrei um amigo, naturalista e ambientalista, de longa data. Ele, chateado com o insucesso de sua iniciativa de promover a coleta seletiva no edifício onde mora. Eu, interessado pelo tema. Pedi um pouco mais detalhes e a estória, resumida, compartilho com vocês.

Já há algum tempo meu amigo reclamava do fato de que uma cidade do tamanho de Salvador, em pleno século XXI, não ter um sistema organizado de coleta seletiva de lixo. As iniciativas públicas anteriores todas haviam sido descontinuadas e o pouco de coleta que resistia era feito por catadores de reciclados reunidos em cooperativas, muitas delas apenas fachada para exploração do trabalho desses mesmos catadores.

A iniciativa do nosso alcaide de reimplantar a coleta seletiva reanimou o espírito ambientalista desse amigo que passou a acompanhar com atenção a relação dos pontos de coleta, sem deixar de reclamar, do absurdo de não haver nenhum perto da sua casa. De qualquer forma, não tardou e lá ia ele transportando no seu carro os recicláveis para o ponto mais próximo.

O passo seguinte, como o de todo bom militante das boas causas, foi o de buscar ampliar essa ação promovendo a coleta no prédio onde mora. Ele conversou com o síndico, que adotou a ideia, contatou a cooperativa, que forneceu um container para os reciclados, conversou com alguns dos empregados do prédio e pediu que no momento do recolhimento diário do lixo fossem conversando com os funcionários para que o material reciclado fosse separado. Entretanto, ao final do primeiro ciclo de coleta, a cooperativa informou que o material entregue para a reciclagem estava muito sujo e que caso a próxima remessa viesse com estas mesmas características, a cooperativa não tinha interesse no “reciclados” daquele prédio e meu amigo, triste e inconformado, não entendia o que havia acontecido. Afinal, ele havia feito tudo direitinho. Ele chegou a achar que havia sido sabotado…

O que para ele era um mistério, para a Psicologia do Trabalho a resposta era quase óbvia: havia ali um problema de comunicação e um problema de treinamento (educação, se vocês assim preferirem).

Por mais meritória que seja a ideia de separar o lixo para reciclagem, os moradores do prédio não tem esse hábito e mudança de comportamento é uma das coisas mais difíceis de serem alcançadas, ainda mais se você não tem clareza das razões que sustentam esse comportamento e não age sobre elas. Por outro lado, a contaminação do material entregue para reciclagem sugere que não há clareza sobre o tipo de lixo que pode e não pode ser reciclado, e a forma como ele deve ser preparado. E por fim, dentro da divisão social do prédio, moradores e empregados têm responsabilidade direta (ainda que ações diferenciadas) sobre a separação do lixo e, pela narrativa, parecia que essa questão não havia sido enfrentada.

Em linhas gerais, minha sugestão ao meu amigo: preparar um material informativo, simples e direto, sobre a reciclagem a ser distribuído para todos os apartamentos e a ser fixado nas áreas de comuns de circulação onde havia quadros de aviso. Preferencialmente essa distribuição deveria ser feita em um corpo a corpo onde se chamaria a atenção da importância dessa ação. Treinar os empregados do prédio e os empregados dos apartamentos sobre a importância da reciclagem, os tipos de materiais reciclados e a forma de separação e coleta. Fornecer aos apartamentos os recipientes de coleta de recicláveis. Manter e renovar a comunicação sobre a coleta seletiva no prédio por um período de seis meses (no mínimo) e avaliara o que acontecia.

Acho que meu amigo me achou maluco ou exagerado, tirando pela forma como ele me olhou quando acabei de falar. Pode parecer bobagem ou um exagero, mas os princípios que estão por trás da dificuldade de implantar a coleta seletiva no prédio são os mesmos que em operação quando queremos fazer com que os funcionários tenham um tipo de comportamento qualquer nas empresas. Assumir que todos sabem o que fazer, é a porta de entrada para o insucesso. Ou seja, fora da educação e do treinamento não há salvação, ou não há reciclagem!

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